Pidcock, campeão olímpico de ‘cross country’, bateu o português por um segundo ao concluir os 177,9 quilómetros entre Albufeira e o Alto do Malhão em 4:28.39 horas, deixando-o no segundo lugar, com o belga Ilan Van Wilder (Soudal-QuickStep) em terceiro, a cinco segundos.
Na geral, o britânico de 23 anos lidera com cinco segundos de vantagem sobre Van Wilder, segundo, e sete segundos para João Almeida.
A 49.ª edição da Volta ao Algarve termina no domingo, com o contrarrelógio individual decisivo na Lagoa, com 24,4 quilómetros cronometrados para encerrar a corrida.
COMENTÁRIO: O Malhão foi conquistado por Pidcock, mas geral será por contrarrelogista
Quem hoje assistiu à quarta etapa da 49.ª ‘Algarvia’ terá dado o seu tempo por perdido, à exceção do derradeiro quilómetro dos 177,9 entre Albufeira e o alto do Malhão, ‘palco’ de todos os ataques entre os homens da geral e da deceção nacional: o português da UAE Emirates acelerou o ritmo a 500 metros do alto, mas foi ultrapassado pelo britânico da INEOS, ‘herdeiro’ da tradição vencedora da sua equipa no ponto mais alto de Loulé.
Depois de ser relegado para o último lugar do pelotão na primeira etapa, por sprint irregular, Pidcock redimiu-se hoje com uma grande exibição, que lhe valeu a vitória na etapa, em 4:28.39 horas, com um segundo de vantagem em relação a João Almeida, e a liderança da geral, diante do belga Ilan van Wilder (Soudal Quick-Step), hoje terceiro na etapa, a cinco segundos.
“Hoje, tratámos de garantir que acertávamos”, assumiu o vigente campeão olímpico de XCO, referindo-se às tentativas falhadas da sua INEOS nas etapas anteriores.
Embora a amarela seja hoje sua, o talentoso britânico, que destronou o dinamarquês Magnus Cort (EF Education-EasyPost), não deverá mantê-la no domingo, uma vez que quer o seu companheiro italiano Filippo Ganna, quer o norueguês Tobias Foss (Jumbo-Visma), dois dos melhores contrarrelogistas do pelotão, estão a pouco mais de 30 segundos, uma diferença perfeitamente recuperável nos 24,2 quilómetros de exercício individual nas ruas de Lagoa.
Exceção feita a Pidcock, Ganna, o antigo bicampeão mundial de contrarrelógio, e Foss, o vigente, foram mesmo os maiores vencedores no Malhão, ao perderem apenas 20 segundos para o vencedor, com Almeida a conseguir, ainda assim, saltar para a terceira posição da geral, a sete segundos do camisola amarela – Van Wilder é segundo, a cinco -, enquanto Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) ficou definitivamente fora da luta pelo pódio, já que caiu para sexto da geral, a 22 segundos.
Assim que a partida real para a quarta etapa foi dada, saltaram para a frente da corrida Kasper Asgreen (Soudal Quick-Step), o terceiro da edição de 2021, Lewis Askey (Groupama-FDJ), Mathias Vacek (Trek-Segafredo) e o português Afonso Silva (Kelly-Simoldes-UDO), que não haveria de ter pedalada para acompanhar os três homens das equipas WorldTour.
A jogada estratégica da Soudal Quick-Step, que tinha Van Wilder no terceiro lugar da geral, e da Groupama-FDJ, cujo líder Valentin Madouas ocupava o quarto posto, não teve resposta imediata das outras formações candidatas ao triunfo final, cientes de que as dificuldades no caminho e os quilómetros a percorrer acabariam por condenar ao fracasso a iniciativa.
A vantagem dos três rapidamente cresceu, rondando os cinco minutos ao quilómetro 30, mas foi caindo paulatinamente à medida que os fugitivos foram enfrentando as três primeiras contagens de montanha do dia, todas de terceira categoria.
Um excecional trabalho da BORA-hansgrohe, coadjuvada pela EF Education-EasyPost, mas também pela UAE Emirates – os poucos escudeiros de João Almeida deram hoje tudo o que tinham no trabalho em prol do português -, ‘condenou’ a fuga, com Asgreen, que atacou os seus companheiros de jornada na subida para a terceira categoria de Alte, a ser apanhado a 30 quilómetros da meta, quando já tinha assegurado (virtualmente) a vitória final na classificação da montanha.
Mas a Soudal Quick-Step ainda não estava satisfeita: na primeira das duas ascensões ao ponto mais alto de Loulé, Rémi Cavagna atacou e Kobe Goosens, companheiro de Rui Costa na Intermarché-Circus-Wanty, seguiu-o, sem que no grupo do camisola amarela se registassem movimentações – os dois haveriam de ser alcançados pouco depois.
Numa etapa demasiado tática, as equipas dos candidatos à geral preferiram ser cautelosas e levaram a corrida controlada até aos derradeiros 2,6 quilómetros da jornada, momento escolhido por Jai Hindley para aumentar o ritmo, com Pidcock a mostrar-se imediatamente alerta, antes de tentar ele mesmo a sua sorte na companhia de Van Wilder e Oscar Onley (DSM).
Rui Costa assumiu a perseguição ao trio, mas ‘estourou’, quase ao mesmo tempo que Cort ficou definitivamente para trás. Foi então que Almeida deu uma demonstração de garra, conseguindo recolar aos homens da frente e assumindo o ritmo na dianteira, em busca da vitória na etapa e, quem sabe, da amarela, sendo apenas derrotado pelo promissor ciclista da INEOS.
O que o ciclista que fez sonhar os portugueses no Giro2020 conseguiu foi ‘eliminar’ da luta pelo pódio os trepadores da BORA-hansgrohe, Sergio Higuita e Jai Hindley, respetivamente quarto (a 17) e quinto (a 20) da geral, ou o colombiano Daniel Martínez (INEOS), terceiro no ano passado e agora sétimo a 22 segundos.
Almeida, campeão nacional de 'crono' em 2021, parte, assim, para a derradeira etapa como um dos candidatos a ocupar um dos três primeiros lugares da geral, numa luta a quatro com Pidcock, Ganna (nono) e Foss (10.º).
Volta ao Algarve: 4.ª etapa – Declarações
- Thomas Pidcock, GB, INEOS (vencedor da etapa e líder da geral individual): “É muito bom [ganhar]. Enquanto equipa, fizemos asneira. Ontem [sexta-feira], com o Filippo [Ganna] também podíamos ter vencido a etapa.
Na segunda etapa, fizemos um trabalho brilhante e no último quilómetro fizemos asneira. Hoje, tratámos de garantir que acertávamos.
Ataquei, pensando que a meta era no topo como aquando da primeira passagem, mas depois havia uma viragem à esquerda e mais 70 metros [para percorrer]… pensei que alguém me iria apanhar, mas não aconteceu. Nesse tipo de situação, só temos de dar o máximo, independentemente do que esteja a acontecer.
Amanhã [domingo], é um contrarrelógio, não há muito planeamento, apenas temos de ir no limite”.
- João Almeida, Por, UAE Emirates (segundo na etapa e terceiro na geral individual): “[Balanço] muito positivo. Fui ao início da subida muito sufocado, entrei mal posicionado.
Não consegui ajudar o Rui [Costa] na perseguição.
Recuperei fôlego na parte menos plana e, depois, simplesmente dei tudo o que tinha.
Foi muito positivo. Fico triste por ter feito segundo, porque queria ganhar, mas o Pidcock estava mais forte. É mesmo assim.
Correu bem, só faltava ganhar. A minha equipa esteve muito bem o dia todo, e agradeço a todos eles pelo trabalho que fizeram.
[Resultado de hoje] é muito positivo [para o contrarrelógio [de domingo]. Espero que corra bem.
Têm sido dias duros, vamos ver como estou amanhã [domingo]”.
- Magnus Cort, Din, EF Education-EasyPost (líder da classificação por pontos): “Para qualquer ciclista profissional, é bom ganhar e a classificação por pontos também é muito boa. Testemunha o quão bem corri nos últimos dias.
Sonhei manter a camisola [amarela]. Com as boas pernas que tive nos últimos dias, comecei a acreditar, mas este final de hoje nunca iria encaixar nas minhas características, por isso não posso estar muito desapontado”.
- Kasper Asgreen, Din, Soudal Quick-Step (líder da classificação da montanha): “Foi um bónus agradável [a camisola da montanha]. No outro dia, amealhei uns pontos, porque queria fazer a descida de modo a manter o Ilan [van Wilder] a salvo. Sabia que tinha alguns pontos e pensei: ‘já que estou aqui [na fuga] posso fazer isto sem muito esforço”.