Jean Carlos Vieira Santos | svcjean@yahoo.com.br

Na minha última viagem a Portugal, especialmente à cidade de Loulé, no Algarve, fiz uma pausa para um café no famoso local da Praça da República, nº 67, no Café Calcinha, ou, simplesmente, Café do Poeta António Aleixo. Ao sentar-me a uma mesa na parte interior do estabelecimento, fiz o meu pedido e, com a paciência de quem tem todo o tempo do mundo, fui inundado por sensações, lembranças e sentimentos inevitáveis.

O prazer de estar novamente nesse lugar fez-me sentir rico em experiências. A memória levou-me a revisitar leituras e convívios pessoais, sem esquecer de celebrar o turismo em Loulé e vivenciar com a alma uma terra de criação, sedução e tradição. Durante essa pausa de viajante, recordei o tema “Fado das Amendoeiras”, de Ary dos Santos e Fernando Tordo, interpretado por Carlos do Carmo.

Revisitar na memória essa canção, enquanto olhava para o monumento de António Aleixo, fez-me reconhecer que a viagem rompe a rotina quotidiana e nos conduz lentamente ao encontro dos nossos desejos. Nesse hiato, sentar-me para um café foi também um exercício de ócio que me permitiu deixar a música revelar, a partir da memória, as essências do viver sem desperdiçar os detalhes de uma cidade algarvia que, ao mesmo tempo, faz parte da literatura de António Aleixo; assim, a minha viagem não perdeu o sentido do movimento.

De facto, a música, a poesia de Aleixo e a taça de café fizeram-me refletir que estamos sempre em busca de (re)encontros marcantes, mesmo que sozinhos, e que a vida tem valor se temos algo para contar ou uma nova emoção para viver. Estamos sempre à procura de um café, de um bom livro para ler ou de uma viagem que nos surpreenda, para não sentirmos falta de quem somos. Com isso, aprofundamo-nos em nós próprios, sem medo das emoções.

As coisas são simples diante dos meus sonhos. Depois do breve café, sem vontade de partir, olhei para a taça vazia na mesa em frente ao poeta; levantei-me, pois era necessário continuar a caminhada, com novos destinos para visitar e experienciar. E os outros turistas, ah… esses hão de amar ao visitar esta inspiradora cidade e o emblemático Café Calcinha.

 

 

Jean Carlos Vieira Santos 

Professor Universitário

Pós-doutorado em Turismo pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve

Doutor pelo Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia/Brasil