Antes de entrar no autocarro para chamar o campeão de ‘cross country’ olímpico (XCO), Steve Cummings, o diretor desportivo da INEOS que venceu no alto do Malhão (2011), deixou o alerta: seria melhor não mencionar o incidente na primeira etapa na conversa com Pidcock, ainda mal refeito do ‘desgosto’ de ter sido relegado na quarta-feira do quinto para o último lugar do pelotão por sprint irregular em Lagos.
Mas o pequeno britânico ‘redimiu-se’ com um oitavo lugar no alto da Fóia, confirmando que foi certeira a aposta de iniciar a época na 49.ª Volta ao Algarve, corrida que elegeu “porque está bom tempo e também porque tem um contrarrelógio”, na quinta e última etapa, no domingo.
Pidcock é um todo-o-terreno e está a demonstrá-lo em Portugal, como o fez em 2022 ao sagrar-se campeão mundial de ciclocrosse, antes de conquistar uma das etapas míticas da Volta a França, tornando-se, aos 22 anos, no mais jovem vencedor de sempre no Alpe D’Huez.
“Definitivamente, esse triunfo deu-me alguma confiança. Penso que, este ano, posso partir daí e melhorar”, assume, em declarações à agência Lusa.
Sucinto nas respostas, o jovem campeão olímpico de XCO, agora com 23 anos, aponta os Mundiais de BTT como o grande objetivo da época.
“E quero também estar bem no Tour e ainda nas clássicas… pensando bem, não são novos. São os mesmos”, elenca, quando questionado sobre se os seus objetivos seriam diferentes este ano.
A iniciar a terceira temporada de estrada como profissional, Pidcock vai deixando entrever que se vê a ganhar mais do que uma etapa no Tour, embora seja cauteloso no discurso: “Penso que, efetivamente, posso melhorar em relação ao ano passado, mas sem ir com demasiadas expectativas”.
O corredor da INEOS só se torna mais aberto e falador quando o tema são os recentes Mundiais de ciclocrosse, que proporcionaram uma espetacular batalha entre os dois maiores ‘colossos’ da vertente, Mathieu van der Poel e Wout van Aert, e que o britânico optou por não disputar, abdicando da defesa do título conquistado no ano anterior.
“Foi difícil de ver… Tive um pouco de FOMO [sigla inglesa para 'fear of missing out', que significa algo como medo de ficar de fora]. Mas foi uma decisão que tomei há algum tempo. No ano passado, não desfrutei muito do ciclocrosse, por isso este ano não estava com vontade de fazer [a vertente]. Então, decidimos que iria fazer ciclocrosse, mas apenas em função da estrada”, revela.
No entanto, Pidcock não esconde que “não foi fácil” ver pela televisão a luta entre ‘MVDP’ e ‘WVA’, que se isolaram na primeira volta e lutaram pelo título ao sprint, com o primeiro a levar a melhor.
“Mas, ao mesmo tempo, os Mundiais não são de ‘graça’. Não podes ir aos Mundiais sem sacrifício, tens de treinar para estar bem. Não gostava de estar lá, mas tive ‘mixed feelings’ [sentimentos desencontrados]. Também estou feliz por ter tido uma boa temporada [em 2022], e já estou ansioso pelo ciclocrosse no próximo ano”, resume.