O belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), vencedor das edições 2020 e 2022, assumiu hoje a liderança da Volta ao Algarve em bicicleta, ao ganhar a quarta etapa, um contrarrelógio de 22 quilómetros, em Albufeira.

Evenepoel, que partiu para a tirada do segundo lugar da geral, a quatro segundos do campeão em título, o colombiano Daniel Martínez (BORRA-hansgrohe), cumpriu a distância em 27.09,142 minutos, superando o norte-americano Magnus Sheffield (INEOS) por 16 segundos e o suíço Stefan Küng (Groupama–FDJ) por 29.

Na geral, e em vésperas da quinta e última etapa, que liga no domingo Faro a Malhão (Loulé), na distância de 165,8 quilómetros, o belga tem 47 segunda de vantagem sobre Daniel Martínez, que caiu segundo, e 1.12 minutos face ao esloveno Jan Tratnik (Visma-Lease a Bike), terceiro.

 

COMENTÁRIO: Evenepoel trocou o arco-íris pela amarela e ameaça 'tri' no Algarve

Remco Evenepoel estreou-se a ganhar com a camisola de campeão mundial de contrarrelógio, consolidando-se como principal pretendente ao triunfo na 50.ª Volta ao Algarve em bicicleta, após uma quarta etapa em que arrasou os outros candidatos à geral.

A vitória do belga da Soudal Quick-Step nunca esteve em causa, já que, penúltimo a sair para a estrada para cumprir os 22 quilómetros do ‘crono’ em Albufeira, marcou os melhores tempos nos dois pontos intermédios, antes de cortar a meta em 27.09 minutos, conseguidos a uma ‘impossível’ média de 48,619 km/h.

“É a minha primeira vitória com a camisola arco-íris. Estava muito motivado, porque havia muitos ‘tipos’ fortes na linha de partida. Parece que tive melhores pernas do que toda a gente, por isso estou super orgulhoso do meu contrarrelógio de hoje. Estou muito feliz”, resumiu, ainda a pedalar na bicicleta estática, após somar o quarto triunfo em etapas da ‘Algarvia’ – três deles em contrarrelógios - e o 52.º da carreira.

Só o jovem norte-americano Magnus Sheffield conseguiu ‘aproximar-se’ do campeão mundial da especialidade, ficando a 16 segundos, com o ‘habitué’ Stefan Küng (Groupama-FDJ), duas vezes campeão europeu (2020 e 2021) e vencedor do ‘crono’ da passada ‘Algarvia’, a ser terceiro, a 29.

No final da quarta etapa, Evenepoel trocou a camisola arco-íris pela amarela e, na véspera do final da 50.ª edição, tem a mais direta concorrência a uma distância dificilmente recuperável (salvo colapso) na subida ao Malhão: o até hoje líder e campeão em título Daniel Martínez (BORA-hansgrohe) está a 47 segundos e é seguido por um duo da Visma-Lease a Bike, o esloveno Jan Tratnik, terceiro a 1.12 minutos, e o belga Wout van Aert, quarto a 1.18.

O inédito contrarrelógio em Albufeira era uma verdadeira gincana, com permanentes ondulações no terreno, alterações de piso, curvas, rotundas, ‘cotovelos’, um percurso verdadeiramente impróprio para não especialistas e até para os especialistas que preferem rolar sem constantes mudanças de ritmo.

Se os primeiros ‘donos’ do melhor tempo provisório não baixaram dos 31 minutos, Edward Theuns (Lidl-Trek) foi o primeiro a ‘vulgarizar’ as marcas dos ciclistas que o precederam, com 29.03. O belga seria, no entanto, prontamente destronado pelo compatriota Julien Vermote (28.56), uma clara indicação de que a Visma-Lease a Bike queria apostar forte no ‘crono’.

Entre os ciclistas que foram chegando, as maiores desilusões foram Rafael Reis (Sabgal-Anicolor), o grande especialista do pelotão nacional, que haveria de ser 59.º no final, a 2.23 minutos do vencedor, e Stefan Bissegger (EF Education-EasyPost), o campeão suíço que foi 20.º, a 1.20.

Arthur Kluckers (Tudor) ainda esteve algum tempo no ‘hot seat’, mas a sua marca foi pulverizada pelo promissor Isaac del Toro (UAE Emirates). O mexicano foi o primeiro a baixar dos 28 minutos (27.46) e ‘aguentou’ até a ‘pedalada’ de Filippo Ganna (INEOS), o campeão mundial de contrarrelógio em 2020 e 2021, que, apesar de ter feito melhor nos pontos intermédios, acabou por não confirmar essa ‘provisória’ superioridade na meta, sendo sexto no final, a 47 segundos de Evenepoel.

Outro INEOS, o norte-americano Magnus Sheffield, foi ameaçando na estrada o ‘reinado’ do último vencedor da Volta a França no Futuro, ao estabelecer as melhores marcas quer aos 7,1, quer aos 16,9 quilómetros, e acabou mesmo por destronar Del Toro, o quarto na etapa.

Nem Stefan Küng (Groupama-FDJ) conseguiu fazer melhor do que o norte-americano de 21 anos, que só perdeu mesmo para o supersónico Evenepoel. “Foi um ‘crono’ bastante impressionante por parte do Remco, penso que posso ficar satisfeito”, assumiu Sheffield, agora líder da juventude, após ter ultrapassado o português António Morgado (UAE Emirates), que é nono, a 1.39 minutos do primeiro e a cinco segundos da camisola branca.

Van Aert teve uma prestação abaixo do esperado – comprovou-se que disse a verdade quando revelou que não tinha tocado na ‘cabra’ no inverno -, sendo apenas 11.º, a um minuto do seu compatriota, mas subiu ao quarto lugar da geral.

“Temos de olhar para a classificação geral e ver o que é possível fazer”, declarou ‘WVA’, não rejeitando um ‘assalto’ ao pódio final da 50.ª Volta ao Algarve, nos 165,8 quilómetros da última etapa, que começa no domingo em Faro e termina no alto do Malhão.

Após o contrarrelógio, ficaram ‘eliminados’ da luta pela geral Tom Pidcock (INEOS), Sepp Kuss (Visma-Lease a Bike) ou Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek), já a cerca de dois minutos de Evenepoel.

 

Volta ao Algarve: 4.ª etapa – Declarações

Declarações após a quarta etapa da 50.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, um contrarrelógio de 22 quilómetros em Albufeira, vencido pelo belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step):

- Remco Evenepoel, Bel, Soudal Quick-Step (vencedor da etapa e líder da geral individual): “É a minha primeira vitória com a camisola arco-íris. Estava muito motivado, porque havia muitos ‘tipos’ fortes na linha de partida. Parece que tive melhores pernas do que toda a gente, por isso estou super orgulhoso do meu contrarrelógio de hoje. Estou muito feliz.

Não sei a minha vantagem sobre o segundo na classificação geral [tem 47 segundos sobre Daniel Martínez], mas penso que temos uma equipa muito forte, já o demonstrámos na etapa do alto da Fóia. Penso que estamos preparados para defender [a liderança] amanhã [domingo] e quem sabe lutar por outra vitória de etapa e pela camisola amarela, obviamente.

Já me sentia confiante com uma equipa muito forte em meu redor. Tenho colegas muito fortes, o que já me dá confiança e motivação extra. Penso que o resultado de hoje prova ainda mais que estamos preparados para ir à luta amanhã, numa etapa dura.

Preciso primeiro de chegar ao risco de meta [na etapa de domingo], mas penso que seria um momento importante e honroso da minha vida e da minha carreira ser o primeiro [estrangeiro] a ganhar por três vezes. E seriam três vitórias [na geral] em três participações. Seria um início muito bom da minha época de 2024.

Todos os ciclistas que ainda estão perto da camisola amarela são perigosos. Penso que o Daniel Martínez esteve bastante forte na quinta-feira [na Fóia]. Tentaremos novamente [ganhar]. Definitivamente, a BORA-hansgrohe e a Visma-Lease a Bike terão planos para a etapa de amanhã, mas temos de centrarmo-nos em nós e acreditar na nossa força.

(nunca esquecerá Portugal?) Nunca. Na última semana, tive uma vitória muito bonita [na Clássica da Figueira] e, se ganhar esta prova amanhã, terei vencido todas as corridas que disputei em Portugal. É um país com o qual tenho uma boa relação. Estou muito feliz com a minha prestação hoje e com o bom ‘feeling’ que tenho aqui [Portugal]”.

- Magnus Sheffield, EUA, INEOS (segundo na etapa): “Foi um ‘crono’ bastante impressionante por parte do Remco, penso que posso ficar satisfeito com o primeiro contrarrelógio da época, e simplesmente não fui suficientemente rápido.

Penso que ainda temos algumas coisas que melhorar, por isso é bom para nos manter ambiciosos”.

- Wout van Aert, Bel, Visma-Lease a Bike (quarto na geral individual): “Pude sentir [que não era um contrarrelógio fácil. É uma desculpa disparatada [não ter tocado na bicicleta de contrarrelógio no inverno], aliás nem é uma desculpa. É o trabalho de qualquer um de nós prepararmo-nos bem.

Não tenho arrependimentos, dei tudo o que tinha. Não estou desapontado. […] Estou a habituar-me à posição [na bicicleta], foi um bom teste, mas as pernas têm de melhorar.

Esta noite, temos de olhar para a classificação geral e ver o que é possível fazer. A forma como vamos correr depende de quão próximo estou dos favoritos”.

- António Morgado, Por, UAE Emirates (nono na geral individual): “[Contrarrelógio] não é a minha especialidade, fiz um teste e dei o meu melhor.

[Volta ao Algarve] está a correr bem, é uma boa corrida e uma boa preparação para o que vem aí.

Na subida ao Malhão, vamos tentar fazer com que a equipa esteja bem. O meu objetivo é só ajudar a equipa”.

 

Por: Lusa