[O que quero e vou perguntar a Manuel Pinho]

Manuel Pinho,

No exercício das suas funções, colocou-se a questão, num processo por si liderado, de Portugal apresentar a candidatura à organização da Ryder Cup 2018- evento de golfe que em termos de notoriedade, segundo os estudos, é a terceira competição desportiva a nível mundial, apenas superada pelos Jogos Olímpicos e Mundial de futebol.

Estávamos em 2010. Esse processo - ao qual se candidataram o Algarve, bem como outras zonas do país -, foi conduzido, como os jornais da época deram testemunho, de forma pouco transparente, sem prazos claros e total opacidade nas regras.

O resultado deixou muita gente perplexa: a Herdade da Comporta venceu. Um destino praticamente desconhecido, sem qualquer tradição golfista, cujo elemento de maior realce era ser propriedade do Grupo Espírito Santo.

Por outro lado, o Algarve - melhor destino de golfe do mundo em 2000 e 2006 ficava incompreensivelmente de fora. Tal foi dito, justiça seja feita a Nuno Aires, Presidente da Região de Turismo do Algarve, e ao PSD Algarve. Uma decisão que desqualificava o Algarve, mas também o património do país numa área em que nos vangloriamos de ser liderantes. Uma decisão que nem os espíritos mais seriamente condescendentes encontravam justificação.

A candidatura, recordar-se-á, pressupunha um investimento de 140 milhões de euros para albergar o torneio - cujas fontes à época se desconheciam, mas que não será muito ousado sugerir que seria dinheiro público -, e, está bem de ver, teria resultado numa valorização exponencial da Herdade da Comporta, abrindo portas a um negócio imobiliário sem par. Aliás, o acolhimento do torneio serviria para justificar a necessidade imperiosa de desenvolver esse grande complexo imobiliário, derrotando, desse modo, os obstáculos ambientais e outros que se fizessem sentir, com base num alegado interesse público, o qual, atentas as circunstância, muito se põe em causa.

Claro está que Portugal perdeu.

Venceu a França e talvez tenha sido pelo melhor, atentos os fins que se podem legitimamente especular a respeito dessa candidatura.

Manuel Pinho,

A pergunta é: foi assim, como descrevi, que foi montado este processo, numa intolerável captura do Estado por interesses privados e que resultava duma relação de subserviência pessoal sua em relação ao Grupo Espírito Santo e a Ricardo Salgado?

 

Por: Cristóvão Norte