O presidente da Câmara de Faro (PSD), reeleito em 2017, diz que neste último ano o trabalho desenvolvido tem sido no sentido de «projetar para o futuro», mas o PS critica o «imediatismo» dos investimentos realizados.

Em declarações à Lusa, Rogério Bacalhau diz que "há muito trabalho de gabinete" a ser feito e dá como exemplo o plano de requalificação da frente ribeirinha de Faro, um trabalho "complexo" e que ainda levará algum tempo "a ver a luz do dia".

À Lusa, o vereador socialista Miguel Sengo da Costa refere que a maioria PSD/CDS-PP/MPT/PPM está apenas a trabalhar para o "imediato", investindo mais em festas e eventos de animação do que em projetos estruturantes para o concelho.

Reeleito há um ano, com maioria absoluta, para um segundo mandato, Rogério Bacalhau tornou-se no segundo presidente a conseguir uma reeleição em Faro, desde 1976, conseguindo conquistar cinco dos nove mandatos em disputa, contra quatro do PS.

"Este ano que passou foi de continuidade relativamente ao que já vínhamos a fazer. Essencialmente, o nosso trabalho foi projetar muito para o futuro", realçou o presidente do município, sublinhando que há "muito planeamento" em curso.

O projeto de requalificação da frente ribeirinha, apresentado no início de setembro, no Dia do Município, é aquele que Rogério Bacalhau considera "mais estruturante" e que terá "maior impacto" no concelho.

Contudo, acrescenta, estão também a ser planeadas outras requalificações no espaço público e jardins da cidade - como a Alameda João de Deus -, assim como na rede viária, nomeadamente através da construção da terceira circular de Faro.

"Há muito planeamento que está a ser desenvolvido e muito trabalho de gabinete para, numa fase subsequente, se poder passar à execução", refere o presidente, sublinhando que o objetivo não é "mostrar trabalho imediato".

Contudo, a vereação socialista argumenta que a principal preocupação da maioria é, justamente, realizar ações com retorno imediato, sobretudo eventos de animação, área em que há uma "concentração enorme de recursos", critica Miguel Sengo da Costa.

"A gestão corrente deste município orienta-se mais para retornos imediatos, com muitas atividades de animação e festas, que a médio e longo prazo não têm retorno, do que propriamente para projetos estruturantes", defende.

O vereador socialista fala mesmo "num pendor festivaleiro" muito marcado, que pode até "satisfazer os munícipes e melhorar a sua autoestima", mas cujo retorno é somente "imediato", acusando a maioria de "incapacidade" para ir além do que tem feito.

Miguel Sengo da Costa recorda que a revisão do Plano Diretor Municipal "se arrasta há anos" e critica a Câmara por estar a "abandonar" as freguesias rurais e a periferia da cidade, em detrimento do centro urbano.

A opinião é partilhada pelo líder do PS/Faro, Paulo Neves, que considera que a maioria liderada pelo PSD está mais focada em intervir nas zonas urbanas, onde se concentra a maioria do eleitorado, esquecendo as áreas envolventes.

A falta de habitação social é outros dos problemas apontados por Paulo Neves, área onde assegura haver "grandes carências", embora o presidente do município argumente que tem em curso um plano para a construção de fogos de habitação.

Ao longo de quase sete anos, até maio do ano passado, a autarquia esteve sujeita a um Plano de Reequilíbrio Financeiro e contraiu uma dívida ao abrigo do Plano de Apoio à Economia Local (PAEL), entretanto amortizada, antes do prazo previsto.

Miguel Sengo da Costa lamenta que nesse período não tenha havido a "preocupação" de planear as intervenções que estão agora, neste mandato, a ser planeadas, e que podiam já estar numa fase mais avançada.

Depois de um mandato em que governou sem maioria, quer na Câmara, quer na Assembleia Municipal, a coligação liderada por Rogério Bacalhau goza agora de maioria absoluta, com a oposição a queixar-se de ter sido excluída de toda a participação possível que poderia ter nos assuntos da autarquia.

"Desviaram do conjunto do coletivo que é formado pelos vereadores todas as competências que podiam ter desviado. Todas. Não passam pelas reuniões de Câmara a esmagadora maioria das decisões que são tomadas diariamente na Câmara", lamenta Miguel Sengo da Costa.

Apesar de assumir que há "uma boa convivência democrática" entre a maioria e a oposição, o socialista lamenta que os vereadores da oposição só tenham acesso "a um conjunto muito limitado de assuntos" que, por lei, não podiam ser delegados nem no presidente, nem nos outros vereadores.

Já Rogério Bacalhau considera que a diferença deste mandato para o anterior, em que não detinham maioria, é o facto de conseguir haver "uma relação sem extremar posições", que no mandato anterior "não era possível", já que andavam "permanentemente em guerra".

 

Por: Lusa