André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
A vitória expressiva de Donald Trump nas eleições dos EUA, no dia 5 de novembro de 2024, fazendo o pleno, ao ganhar a Presidência, o Congresso e o Senado, sinaliza grandes mudanças na geopolítica global. 
O que esperar dessa vitória é a questão que agora se coloca? Em primeiro lugar, a sua postura nacionalista de “América First- América Primeiro” tende a reduzir a cooperação multilateral, com impactos diretos nas relações com os aliados, desde logo a União Europeia e a NATO-Organização do Tratado do Atlântico Norte. Já no seu primeiro mandato, Trump criticou frequentemente a contribuição europeia para a segurança coletiva e é previsível que retome essa pressão, fazendo jus à sua postura transaccional nas relações internacionais, exigindo seguramente uma maior contribuição dos países europeus para a NATO e para a sua defesa (pelo menos 2% do PIB), algo que a UE-União Europeia está ainda longe de cumprir, pois são ainda diversos os países que não cumprem com este montante, incluindo Portugal. 
Na Ásia, um novo governo Trump poderá intensificar a competição com a China, mediante uma postura económica mais protecionista e procurando limitar a influência chinesa na região do Indo-Pacífico, que será decerto o principal foco da sua estratégia internacional. Trump também poderá aumentar o apoio militar e económico a Taiwan, elevando as tensões com Pequim, muito particularmente se o apoio americano se intensificar com as parcerias estratégicas com o Japão, Filipinas, Austrália e Coreia do Sul, como aliás já vem sucedendo com Biden. 
Em relação ao conflito que se arrasta na Europa, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a administração Trump, a acreditar nalgumas declarações do próprio e de membros já indicados para a sua administração, poder-se-á assistir a uma redução do apoio financeiro e militar à Ucrânia, favorecendo uma solução diplomática rápida que poderá beneficiar a Rússia. 
Esse movimento geraria incerteza para a segurança europeia, já que a Rússia se sentiria menos pressionada por uma resposta contundente dos Estados Unido. Ou, então, Trump sabendo que uma  vitória de Putin em toda a linha neste conflito, seria uma profunda derrota em termos político-estratégicos (incluindo para os EUA) e uma ameaça para a segurança da Europa, poderá, exigir que seja a Europa a arcar com uma parte muito mais significativa dos custos com o apoio militar à Ucrânia, o que implicaria compras muito volumosas por parte da Europa aos EUA, pelo menos numa primeira fase, em que só os EUA estarão em condições de assegurar tais fornecimentos, nas quantidades que são necessárias (a Rússia está a produzir quase três vezes mais munições de artilharia do que os Estados Unidos e a Europa juntos), o que beneficiaria as indústrias de defesa dos EUA.
Acresce que no quadro desta sua postura transacional nas relações internacionais, Trump tenderá a priorizar relações bilaterais e acordos comerciais específicos, porventura em detrimento do papel das organizações internacionais, como a ONU e a OMC. A longo prazo, esta orientação, a verificar-se, abrirá mais espaço a novas potências regionais, nomeadamente os BRICS alargados, levando, deste modo, os países aliados dos EUA a rever as suas estratégias de segurança e de comércio internacional para lidar com um cenário em que o mundo se prefigura mais multipolar, mas menos multilateral, e como tal, menos coeso e mais competitivo. E, diga-se, também, um mundo em que, no plano dos sistemas políticos, as democracias poderão perder peso em favor das autocracias.