Os apicultores, oriundos da Beira Baixa, Alentejo e Algarve, começaram a concentrar-se, cerca de uma hora antes do início do Conselho de Ministro, atrás de um gradeamento, a algumas dezenas do Palácio D. Manuel, onde se realiza a reunião do Governo.
Quando chegavam governantes ao local, os manifestantes aumentavam os protestos e gritavam palavras de ordem, como “senhora ministra faça qualquer coisa pelas abelhas, elas estão a morrer” ou “este governo mata as nossas abelhas”.
Com apitos, buzinas e também fumigadores (habitualmente utilizados para lançar fumo e acalmar as abelhas), muitos empunhavam cartazes onde se podia ler “Sem abelhas não há alimentos” ou “a crise também nos afeta”.
“Um dos graves problemas é que não temos apoios a nível nacional. A ministra da Agricultura não quer saber de nós”, lamentou José Lopes Afonso, apicultor na zona de Castelo Branco, em declarações à agência Lusa.
Assinalando que o setor enfrenta quebras de produção de “70% ou 80%”, devido à seca, este apicultor salientou que “os espanhóis têm um subsídio chorudo” por colónia e que os portugueses “não têm direito a nada”.
“E estamos todos na Europa”, sublinhou José Lopes Afonso, frisando que, perante as dificuldades do setor, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, “vira as costas e não quer saber de nada”.
“Qualquer dia não há apicultura em Portugal. As abelhas estão a morrer e nós começamos a esmorecer”, acrescentou.
Segundo Filipa Almeida, também apicultora de Castelo Branco, os políticos “tiraram todos os apoios” em Portugal, que “já era um dos países que tinha menos apoio”, e passou a ser “o único país da União Europeia que não tem qualquer apoio direto à produção”.
“Pedimos aos decisores políticos que olhem para a apicultura como uma atividade que tem um valor social, económico e ambiental e que importa valorizar porque, no fundo, tudo o que nos dão devolvemos a triplicar”, vincou.
Considerando que “há uma profunda desconsideração pelo setor”, Filipa Almeida alertou que “há apicultores a abandonar a atividade” e que “isso vai implicar, a curto médio prazo, a morte de imensas colmeias”.
“Indiretamente, vai influenciar o valor dos produtos nos consumidores finais, não só o mel, mas também, como não haverá polinização, haverá uma quebra de produção geral dos alimentos e quem vai pagar a fatura é o consumidor final”, advertiu.
Ao lado dos apicultores, estavam também em protesto três professores, um deles o autor da caricatura polémica em que o primeiro-ministro aparece com nariz de porco, Pedro Brito, envergando uma camisola com a imagem.
À entrada para a reunião da ministra da Coesão Territorial, Tomás Lavouras, da JSD de Évora, entregou uma carta à governante que alerta para problemas que estão a provocar a saída dos jovens qualificados do interior para o litoral e estrangeiro.