15 Fevereiro de 2020

MOÇÃO PELA DEFESA DO HOSPITAL DE PORTIMÃO

O Algarve continua a ser uma das regiões mais afetadas pelas políticas de degradação do Serviço Nacional de Saúde.

As políticas de desinvestimento público, de encerramento de serviços, de fusão e concentração de unidades hospitalares, de encerramento e concentração de extensões dos Centros de Saúde, de racionamento de meios, são, entre outras, marcas do ataque verificado ao longo de anos ao Serviço Nacional de Saúde.

A criação do Centro Hospitalar do Algarve, sem a construção de um Hospital Central de referência, não veio em nada melhorar a situação dos hospitais existentes, sendo notório que em relação ao Hospital de Portimão com os muitos problemas existentes, estes não só não se resolveram, como se agudizaram.

A falta de condições de trabalho e atendimento no hospital de Portimão, os elevados tempos de espera para as consultas e cirurgias, o estado do Serviço de Urgências, a gritante falta de médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico terapêutico, assistentes técnicos, assistentes operacionais dão razão às justas reclamações de utentes e profissionais da Saúde.

Os cuidados públicos de saúde têm piorado em quantidade e qualidade, e com isso facilitam-se as condições para uma gradual transferência dos cuidados de saúde para os grandes grupos privados que operam no sector, e que sobrevivem à custa dos bolsos dos doentes e dos recursos públicos que são desviados do SNS.

A Comissão de Utentes do SNS de Portimão não pode deixar de se manifestar contra o estado agravado do SNS, em particular no Hospital de Portimão, exigindo ao governo a rápida resolução dos mesmos.

No hospital de Portimão, continuam os graves problemas já há muito denunciados por esta Comissão e para os quais se exige resposta urgente.

As crianças e as famílias da região do Barlavento, continuam sem resposta para que se assegure o seu direito a cuidados de saúde de qualidade e acessíveis. As crianças e bebes das terras do Barlavento continuam sem poder nascer e ser tratadas neste hospital, porque continua a não haver pediatras em número suficiente para que se garanta que se nasça e que se seja cuidado nesta unidade.

As grávidas continuam a ser enviadas para terem os seus filhos em Faro, a Kms de distância das suas terras e famílias. Continua o mau atendimento no serviço de urgência, com tempos de espera inaceitáveis levando ao desespero dos utentes.

Continua o internamento caótico, com doentes «amontoados» na Decisão Clínica no Serviço de Urgência, em condições deploráveis com risco acrescido de quebra de condições de higiene e controlo de infeção.

Continua no Serviço de Urgência a falta de enfermeiros, podendo um enfermeiro ter num turno, à sua responsabilidade, cerca de 20 doentes, pondo em causa a qualidade dos cuidados prestados.

Continua a haver cada vez mais enfermeiros em exaustão física e psicológica, com aumento da incapacidade para o trabalho. Continua a falta de material e de medicamentos, mais evidente em início de ano devido aos «orçamentos» e leis de compromisso.

Continua a falta de médicos anestesistas, com atraso brutal nas listas de espera cirúrgicas. Continua a falta de médicos de especialidade, atrasando as respetivas consultas.

Continua a falta de enfermeiros, auxiliares e demais técnicos de saúde.

Continua o mau trato aos profissionais com a não valorização das suas carreiras, como é o caso dos enfermeiros, a quem foi prometido por este CA o reposicionamento correto nas suas carreiras e que não cumpriu até hoje.

Os profissionais estão fartos destas falsas promessas e nada lhes resta que o abandono do SNS. Continua a degradação dos materiais, equipamentos e espaços físicos da estrutura hospitalar sem que se proceda à sua manutenção e reparação.

Utentes e profissionais passam frio no hospital. Continua a degradação do serviço de alimentação do hospital, com diminuição da qualidade da alimentação para utentes e profissionais. São muitos os dias em que a cantina está encerrada devido à falta de profissionais.

A par de todos estes problemas é gritante e revelador a multiplicação da oferta de serviços de saúde privados no Algarve e o evidente estrangulamento e desinvestimento financeiro a que são sujeitos os hospitais do Barlavento Algarvio.

Muitos, graves e inaceitáveis problemas que há muito geraram insatisfação com esta realidade, e que por tal os utentes do Hospital de Portimão não desistem da luta que é justa e necessária e exigem do atual Governo as respostas que há muito tardam.

Continuam as promessas de melhoria dos serviços, mas os utentes do Hospital reclamam a sua urgência.

A situação no Hospital de Portimão, seja para os profissionais que aí trabalham, seja para os utentes, são motivo de insatisfação e revolta.

A Comissão de Utentes de Saúde de Portimão há muito que alerta e denuncia a grave situação do Hospital de Portimão e muitas têm sido as iniciativas encetadas em defesa do SNS e do direito das populações do Algarve a cuidados de saúde de qualidade.

A solução para os hospitais do Algarve, e em particular para o Hospital de Portimão, tem que ser considerada na medida da efetiva resolução dos problemas de fundo.

Face à continua degradação dos serviços de saúde no Algarve e em particular em Portimão, a Comissão de Utentes de Saúde de Portimão propõe a aprovação desta moção exigindo do Governo que:

1. Proceda à reversão do processo de criação do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, e, em simultâneo, recupere e melhore todos os serviços e valências dos hospitais de Faro, Portimão;

2. Proceda à construção de um novo Hospital de Lagos e do Hospital Central do Algarve.

3. Garanta efetivamente o direito das crianças a nascer e ser cuidado no hospital de Portimão 4. Dote as unidades hospitalares algarvias de recursos humanos, materiais e financeiros adequados à prestação de cuidados de saúde de qualidade;

 5. Considere e atenda às justas reivindicações laborais e salariais dos profissionais de saúde, garante essencial da qualidade do SNS;

6. Faça o levantamento das necessidades de cuidados de saúde da população do Algarve, com vista à apresentação de um plano integrado da reorganização dos serviços públicos de saúde, ao nível dos cuidados primários de saúde, cuidados hospitalares e cuidados continuados integrados, envolvendo na sua definição os contributos dos utentes, dos profissionais de saúde e das autarquias Pelo direito a nascer no Hospital de Portimão. Por mais meios, por mais profissionais, e por um melhor Serviço Nacional de Saúde. Assim afirmamos, a saúde é um direito consagrado na Constituição da República Portuguesa, não é um negócio.

 

Por: Comissão Utentes Saúde