Para comprar casa em Portugal com recurso a crédito habitação, as famílias precisam de ter poupanças para pagar impostos e dar entrada no empréstimo. Mas está cada vez mais difícil economizar dinheiro para fazer face a estas despesas. Isto porque o dinheiro necessário para dar de entrada no crédito habitação em Lisboa e no Porto praticamente duplicou entre 2017 e 2022, aponta um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).
Os preços das casas à venda em Portugal muito subiu desde 2017. E uma das principais consequências foi a deterioração da acessibilidade ao mercado da habitação. Isto significa que as famílias precisam de utilizar uma percentagem maior do seu rendimento para comprar ou arrendar casa.
“Além do aumento dos preços das casas, a instabilidade do emprego e as condições de crédito mais restritivas têm também contribuído para aumentar a dificuldade do acesso à habitação”, aponta o 'policy paper' “A crise da habitação nas grandes cidades – uma análise”, divulgado esta quinta-feira (dia 27 de julho), da autoria de Rita Fraque Lourenço, Paulo M. M. Rodrigues e Hugo de Almeida Vilares.
Olhando para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, os autores concluem que “o rendimento necessário para adquirir uma habitação mediana aumentou consideravelmente nos últimos anos”, de forma a respeitar regra macroprudencial bancária de alocar no máximo 40% do rendimento a despesas de habitação.
Além deste requisito, “o capital inicial que é necessário dar de entrada [no crédito habitação], mesmo nos casos em que a avaliação bancária coincide com o valor de transação, aumentou para a casa mediana de cerca de 30 mil para 56 mil euros no concelho de Lisboa, e de cerca de 16 mil para 37 mil euros no concelho do Porto, entre 2017 e 2022”, concluem. Isto quer dizer que o valor necessário para dar de entrada no crédito habitação quase duplicou nestas cidades em apenas cinco anos.
Jovens tem mais dificuldades no crédito habitação por falta de poupanças
Ainda que possam beneficiar de prazos nos empréstimos habitação mais longos – que vão diminuindo consoante a idade - , os jovens têm dificuldades em conseguir poupanças necessárias para dar a entrada no crédito habitação, até porque têm muitas vezes rendimentos mais baixos.
"É teoricamente possível que um agregado familiar jovem cumpra os requisitos de rendimento para contrair o empréstimo necessário, mas não tenha a poupança necessária para a entrada, e que passados alguns anos possa ter já poupança disponível, mas já não cumpra os requisitos de rendimento, num processo que o mantém mais afastado da possibilidade de aquisição", assinala o documento.
Por outro lado, “os rendimentos dos jovens são muitas vezes inferiores aos rendimentos do geral da população da zona geográfica que pretendem habitar, o que torna particularmente difícil que atinjam os percentis de rendimentos requeridos”.
Hoje, "um jovem (ou casal), para adquirir ou arrendar casa, tem de estar inserido com muito sucesso no mercado de trabalho, e no caso de aquisição, ser capaz de acumular poupanças a um ritmo acelerado, ou obter financiamento particular, muitas vezes proveniente do seu contexto familiar", admitem os autores do estudo.
Arrendar casa também está difícil – mas menos
No arrendamento as coisas não ficaram mais fáceis, mas os autores do estudo referem que, mesmo assim, se registou "uma evolução mais suavizada" em termos de acessibilidade, entre 2018 e 2022 – isto também considerando uma taxa de esforço máxima de 40% para um agregado composto por duas pessoas.
Mas se o inquilino for um agregado composto por apenas uma pessoa a trabalhar (uma família monoparental, por exemplo) "a situação é significativamente pior", tanto para arrendar como para comprar casa.
Em geral, “assistiu-se a uma degradação da acessibilidade à habitação", aponta o estudo, salientando que hoje "é significativamente mais difícil entrar no mercado tanto de arrendamento como de aquisição do que era há cinco ou seis anos, mesmo quando se olha para as localizações mais baratas nas áreas metropolitanas ou nas cidades de Lisboa e Porto".
É que, a par do agravamento dos requisitos de rendimento, as poupanças necessárias para a compra de casa duplicaram em muitos casos, exigindo um esforço de vários anos de acumulação de capital, e as próprias avaliações bancárias, mais prudentes, "impactam decisivamente nesses valores".
Por: Idealista