Fernando Santos ou Fanan como é mais conhecido, tem 60 anos, é casado, tem dois filhos e licenciou-se em 1985, em arquitetura na Universidade Técnica/Escola de Belas Artes em Lisboa.
A Voz do Algarve - De onde surgiu a alcunha Fanan e como prefere que o tratem nesta candidatura?
Fernando Santos – Esta alcunha surgiu mais ou menos quando eu tinha 9 anos de idade, porque em Faro (de onde sou natural) existiam muitos “Fernandos” e eu trouxe este diminutivo até agora comigo. A nível de candidatura, eu continuo a achar que sou o Fanan e a ideia da candidatura é mesmo isso: uma candidatura “à Fanan”. Pode ser diferente de tudo o resto, mas eu não sou politicamente correto. Sou uma pessoa normal, que está na luta e vive na realidade. Por isso é que estou aí.
VA - O que sentiu quando foi convidado pelo CHEGA para ser cabeça de lista em Loulé?
FS – Há cerca de um mês e meio fui contactado pelos dirigentes regionais do CHEGA para ser cabeça de lista à Câmara Municipal de Loulé, ou seja, candidato a Presidente da Câmara. Foi uma sensação de missão. Há 35 anos que luto sozinho contra um sistema. O convite foi imprevisto e inesperado. Eu já tinha sido “candidato” a candidato a Presidente da Câmara, quase em jeito de “brincadeira”, mas sempre na tentativa de abanar, colaborar e ajudar a fazer qualquer coisa.
Apesar de me considerar “novato” na política, já participei noutras campanhas nomeadamente com o Hélder Martins, com o Seruca Emídio e com o Joaquim Vairinhos, que na altura me convidaram para colaborar, e de certa maneira, isso já me ajudou a ver mais de perto como funciona uma campanha.
Aceitei ser candidato para tentar melhorar aquilo que tenho sofrido durante todo este tempo. Tudo aquilo que eu tenho e quero fazer, preciso estar na Câmara para ser validado.
Estamos a atravessar uma fase muito difícil tanto a nível nacional como aqui em Loulé, é preciso fazer alguma coisa. Durante este mês e pouco tenho tido uma grande aproximação às pessoas, tenho ouvido muita gente que vem ter comigo, e uma coisa é certa, as pessoas têm medo. Têm medo de se mostrar, porque a “máquina” é subsidiada por tudo o que anda à volta da Câmara de Loulé – as pessoas são dependentes. Apesar disso, estou a gostar de ouvir, porque o medo do povo está a desaparecer.
A minha campanha será positiva e bem-disposta e eu quero ser assim. Quando me convidaram eu perguntei o que queriam de mim, até achei que fosse para fazer só número na lista, e eles disseram que era para ser o cabeça de lista, aí questionei se sabiam onde se estavam a meter. Por isso, eu quero ser Presidente da Câmara Municipal de Loulé assim, como sou.
Luto sozinho contra o sistema para ter uma empresa, para aprovar projetos, para combater injustiças… passei por muita coisa durante todos estes anos. Como arquiteto, realizei uma pequena colaboração com a Câmara de Loulé na altura da elaboração do PDM em 1993, mas depois acabei por sair, porque além da falta de organização, até tinha 8 meses de ordenados em atraso. Como ninguém me pagou, fui trabalhar para outro lado. Já escrevi imensas cartas à Câmara, já expus o assunto, mas até agora… nada. Mas também já não há escudos, portanto não iria querer o dinheiro para nada.
VA – … e essa situação, acha que pode ser alterada?
FS - Pode ser alterada, se nos abrimos para as pessoas e conversarmos com elas. Há muita gente na Câmara Municipal de Loulé que não têm nada que fazer e, pior do que alguém que não quer fazer nada, são as pessoas que não têm nada que fazer. Ninguém lhes dá nada que fazer, fruto do sistema, de vários Presidentes e políticas, vão sendo postas na gaveta quando muda o governo local.
Em função daquilo que eu ouvi até agora, tenho uma grande responsabilidade. Nunca pensei que viesse uma onda de cidadãos tão grande ao meu encontro. Costumo dizer que sou o candidato de Loulé que foi convidado pelo CHEGA, identifico-me com muitas coisas e até encontro um CHEGA diferente daquilo que todos ouvimos e vemos na televisão. Os partidos vão amadurecendo e aperfeiçoando as suas ideologias. Este desafio obriga-me a trabalhar muito mais do que aquilo que eu trabalhava, porque agora começo às 5:30 horas da manhã, que é quando estou fresco e o telefone não toca, e acabo por me deitar muito mais tarde, porque há muita coisa para fazer.
Eu sou desportista desde pequenino, desde os 5 anos, aliás eu fui 12 anos dirigente desportivo, e fiz desporto de equipa aos 35 anos de idade, “reformei-me” no rugby depois de ter jogado basquetebol e vólei. Fruto dessa relação, tenho contacto com muitas pessoas e tenho muitos amigos, além de me ter tentado envolver muito nas questões da cidade.
VA - Já tem um projeto autárquico? Quais são as suas expectativas?
FS - Sim, já tenho tudo estruturado na minha cabeça, sei muito bem o que quero fazer.
Temos que ser objetivos; a Câmara não pode estar voltada contra as pessoas e contra os empresários, porque estes é que criam riqueza. A Câmara tem uma estratégia política de gestão que funciona em função de uma reeleição e não de um Concelho como um todo. Estamos a gerir por baixo e para obter apenas os votos garantidos.
Como é que é possível que não se tire mais proveito de eventos que decorrem no Concelho, como eventos de vela e golfe que tem potenciais incríveis, e ficam desaproveitados?
Outro exemplo; faz falta um Centro de Estágio topo de gama, que poderia ser onde está o Parque das Cidades praticamente abandonado. Ali teríamos atletismo, futebol e um pouco de tudo. A ideia era convidar os empresários hoteleiros do Concelho, fazer uma parceria para eles injetarem lá dinheiro e criar uma coisa a sério. Temos de nos envolver com os empresários. A filosofia do turismo só não chega.
Outra coisa que eu achava interessante, era colocar os construtores a fazer casas a um preço mais reduzido, com benesses em termos de rapidez e parcerias – faziam metade a um preço e a outra metade ou só 10% a outro preço, isto teria de ser pensado junto dos construtores, claro. Não estou a falar de habitação social, estou a falar de habitação acessível às classes médias e baixas, para puderem alugar e comprar.
O que eu estou a encontrar […] são pessoas fechadas em casa, quase deprimidas e que precisam de “qualquer coisa”, e essa “qualquer coisa” não está a acontecer. Isto quer dizer que a minha candidatura é o que faz falta. Há pessoas que dizem que não votam no CHEGA, mas votam no Fanan. Eu quero que isto seja uma candidatura de e para Loulé e genuína.
VA – Muito se tem falado do desenvolvimento do interior, mas o que é verdade é que cada vez vivem lá menos pessoas, mais envelhecidas e os ativos quase sempre trabalham fora do seu local de residência. O que acha que faz falta para o desenvolvimento do interior?
FS - O desenvolvimento do interior é tanto ou mais importante que o desenvolvimento do litoral. Por acaso vi um plano para uma determinada obra aqui do Algarve, que abriu soluções flexíveis, ou seja, quando temos um ordenamento do território onde a lei já é absurda e restritiva, faz com que isto se torne um sistema onde não há filosofia de gestão. A minha ideia no interior é descentralizar para que as Juntas de Freguesia tenham alguma autonomia, mesmo que não a tenham no ordenamento do território, mas que a Câmara possa ajudar e criar algumas equipas de trabalho essencialmente nas Freguesias da Serra. E assim criaríamos polos diferentes de funcionamento, mais próximos da população. O PDM que está a ser feito, ninguém imagina o que virá dali.
VA – Então, quem votar no Fanan pode acreditar que vai existir uma mudança no urbanismo?
FS - Terá de haver ou morro tentando. Eu tenho capacidade de liderança e a Câmara tem umas 2 mil pessoas para fazer coisas, então é só pô-las a trabalhar com gosto.
Criou-se uma ideia de que não se pode aprovar nada. Isto não tem a ver, atenção, com a capacidade técnica. Em 1985 entravam 1800 projetos e trabalhavam 4 ou 5 pessoas no urbanismo e as respostas saiam no prazo de uma semana. É verdade que tudo se tornou mais complexo, mas quando a filosofia é escrever 16 ou 17 páginas para uma casa que só tem 10 regras fundamentais a seguir, perde-se muito tempo. O urbanismo é uma peça da Câmara e é preciso otimizar essa apreciação. Além disso, não podemos estar sempre a trocar cartas. Isso faz com que haja muita gente a trabalhar, mas não é o correto. Quando o programa informático do urbanismo não é igual ao das obras municipais, vemos que existe aqui uma falha e muita desorganização. Eu conheço muitas pessoas dentro da Câmara e sei o elas sentem. O que aí vem [consequências da pandemia] não vai parar e tem de existir uma autonomia que permita reagir. Os ricos pagam isto. São eles que estão a ser combatidos. Não se fala do urbanismo e o Presidente não gosta disto – não lhe dá os votos de que precisa e talvez até lhe tire – então ele não faz nada.
VA - Considera que o povo tem medo da mudança e, por isso, oferece alguma resistência em relação aos ideais do CHEGA, que é um partido que quer alterar o regime em que vivemos atualmente. Em relação a Loulé, o povo desta cidade irá fazer frente ao regime e votar no Fanan?
FS - Eu acho e sinto que sim. Eu levei apenas 24 horas para decidir. Muitas pessoas disseram-se assim: “já levaste tanto na cabeça, agora vai em frente”. Eu acho que é possível ter uma Câmara diferente e sem funcionários “maldispostos”. Há pessoas ali que já foram chamadas à atenção só porque foram à minha página de Facebook e isto não pode ser. As pessoas vão à minha página porque eu digo a verdade. Mas eu sinto que as pessoas se sentem expostas por fazerem like nas minhas publicações.
VA - Enquanto candidato ao partido CHEGA, defende que vivemos num regime desigual, onde os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres mais pobres? Acha que será possível algum dia existir uma igualdade nesse sentido ou essa é apenas uma utopia que os políticos criam em ano de eleição?
FS - Não há vontade nenhuma de acabar com os pobres (estamos a falar a nível nacional). Em geral as pessoas que ganham menos votam à esquerda, mas se lhes dermos a possibilidade de melhorar a vida, elas começam a votar à direita. O regime é desonesto e tem quase tantos anos como o anterior regime. O regime atual está com 47 anos, mas está igual ao anterior. As pessoas estão a ser perseguidas e têm medo. Se as pessoas têm 4 televisões e todas dizem a mesma coisa, elas só veem aquilo e deixam-se manipular.
Muita gente vive da casa para o trabalho e do trabalho para casa. Depois desmorona a família, o nível social, tudo, porque se tornaram egoístas. Tudo o que era a comunidade e a relação entre as pessoas, de comunicação e convivência, desapareceu. Acredito que vou fazer a diferença, porque em qualquer lado que entro, eu faço a diferença. Já estou a “contagiar” pessoas e o que estas me dizem é muito bonito. Eu quero fomentar o contacto entre as pessoas. Eu fiz um abaixo-assinado, há 8 anos, de cerca de 120 técnicos que trabalham fora da Câmara porque estávamos sempre a combinar coisas de trabalho e depois chegávamos a casa e os projetos não eram aprovados e não tínhamos também gestores de projeto. Eu fui entregar as assinaturas em mão na reunião de Câmara (ao lado de outras pessoas que quiseram ir) e ainda hoje ninguém me respondeu e ainda houve represálias. Tenho 35 anos de carreira e quase 1 milhão de metros quadrados projetados, não ando aqui a brincar. Se alguém quer um apartamento para alugar, mas depois demoram 1 ano e meio a aprovar o projeto, então como é que esse apartamento pode ser barato? As empresas precisam ter lucro, senão têm de despedir pessoas, mas ninguém fala disto, porque não é politicamente correto.
"Eu tenho capacidade de liderança e a Câmara tem umas 2 mil pessoas para fazer coisas,
então é só pô-las a trabalhar com gosto."
VA - Nas últimas décadas o PSD e o PS têm ganho com a maioria absoluta. Caso nestas eleições autárquicas isso não aconteça, pondera o CHEGA fazer coligações com algum destes partidos?
FS - Não tenho ainda uma resposta para isso. Isso é uma questão que será partidária. Eu se puder falar por mim, farei tudo o que for necessário para que Loulé funcione. Nem que seja com o Bloco de Esquerda, ou outro partido qualquer. A minha candidatura é para levar Loulé para algum lado e para que esta Cidade possa liderar o Algarve. O problema desta região é termos 16 Concelhos e cada Presidente “puxa a brasa à sua sardinha” e nenhum deles tem realmente a força que juntos poderiam ter. Podem queixar-se sempre do Algarve, mas ele não tem voz nenhuma. Espero que Loulé consiga transmitir alguma mensagem para o Algarve e, como disse acima, “contagiar” outras pessoas. Se continuarmos com este regime – onde o PS e o PSD estão iguais – não vamos a lado algum. Caso seja necessário, poderíamos sim chegar a uma coligação. Loulé está atrasado 20 anos em relação a si mesmo. O que esta cidade poderia ser hoje, não o é. Estou a falar da riqueza distribuída, que só pode vir do trabalho.
VA - A sua lista já está formada? O CHEGA deu-lhe a liberdade para escolher os candidatos?
FS - Estamos ainda a trabalhar. Queria ter a lista pronta daqui a mais um mês para depois ter tempo para outras coisas. O CHEGA deu-me liberdade pra escolher a minha lista aplicando uma regra muito simples: queremos ter pessoas boas. A maior dificuldade é precisamente essa, encontrar pessoas sem mácula e que estejam disponíveis, mas estamos em bom caminho e a trabalhar nisso.
VA - O que significa para si uma derrota e o que seria para si um bom resultado nestas eleições?
FS - Desde que me consiga apresentar já é uma vitória. Tudo o resto é ganho e com isto não há derrotas. Eu não sou político, ando aqui só há 1 mês e meio e não tenho ninguém que me diga para fazer isto ou aquilo, então vou fazer as asneiras que faço naturalmente, estou pronto para aprender. Sei até onde posso ir e não tenho medo de nada. Para a frente é que é caminho. Para mim, um bom resultado é ficar à frente do PSD, mas o resultado que queremos é ficar à frente do PS. Quanto me propus a pré-candidato, numa sondagem que fizeram, o resultado foi que conseguiria assumir o cargo de vereador. A minha campanha é muito positiva, até porque eu conheço os “podres” dos outros, mas não os quero. Não quero fazer uma campanha em cima disso, como tem sido feito até aqui, porque se calhar esses “podres” podem ser algo que eles não queriam que tivesse acontecido. O PS e o PSD, desde o 25 de abril que fazem a mesma gestão, porque a sociedade exige, que para serem eleitos, seja feita daquela maneira. A base eleitoral é a mesma e as pessoas habituaram-se a que o Presidente da Câmara seja alguém que não se mexa muito, para não o acusarem de roubar dinheiro. Se aparece alguém mais “vivaço”, estranham logo. Loulé tem de mostrar a cara e eu não tenho medo de mostrar a cara. Fizeram a AMAL para estarem mais “uns quantos” lá sentados. Eu estou a tentar fazer a quebra deste regime.
VA - O CHEGA é um partido de convicções ou um partido que apenas aglomera os descontentes?
FS - Eu encontrei as duas coisas. Encontrei um partido de grandes convicções, que se tornou uma agradável surpresa, e que está a crescer devido aos descontentes porque eles têm voz e estão a começar a despertar. Por exemplo na minha página de Facebook, tenho alguns likes, mas são poucos os comentários. Não quer dizer que as pessoas não sejam corajosas, mas estão presas. São poucos os que se chegam à frente para comentar. Eu quero quebrar esta inércia e quero que as pessoas sejam mais participativas e que não tenham medo de falar.
VA - Qual é o objetivo do CHEGA no Algarve nestas eleições autárquicas?
FS - Não estou à vontade para lhe dizer o objetivo. Mas tenho tido contacto com os outros candidatos e há muita união. É isso que eu acho que deve ser feito no Algarve. Enquanto as Câmaras não partilharem, não vamos a lado nenhum. O Algarve vive da sazonalidade e muitas vezes esquecemo-nos das microempresas. No meu trabalho tenho empresários estrangeiros que querem vir viver para o Algarve, pela qualidade de vida, que querem comprar imoveis de 300 m2, que vão ter empregadas domésticas, jardineiros, tratadores de piscinas, são pessoas que direta ou indiretamente vão dinamizar a economia local com as idas aos restaurantes, com a utilização de campos de golfe e isso cria riqueza. Hoje em dia, com o digital que nos permite trabalhar à distância, esses empresários gerem as suas empresas em qualquer parte, então porque não atrai-los para o Algarve.
O problema é que não há sítio para os colocar. Eles não têm espaço, porque o planeamento que se está a fazer não permite mais. Se o Algarve tivesse resposta para a procura, podíamos ter aqui mais de 200 mil resistentes de topo durante todo o ano. Temos que abrir oportunidades também para o interior. Na revisão do PDM querem retirar áreas urbanas, onde já foram gastas fortunas em estruturas. Basicamente, temos de ter outras atividades que não só o turismo.
VA – Relativamente aos jovens e estudantes, está prevista alguma medida especifica?
FS - Os jovens têm um problema, que é o alheamento. Eles estão fechados em casa e não têm contacto com o mundo. Faltam parcerias com as empresas e colocar os jovens no terreno. Não há aliciante para os jovens trabalharem. Para se viver em Portugal tem de se ser especialista, porque é muito complicado. Temos de envolver a sociedade toda e não setoriza-la. Com o dinheiro que temos no Concelho, podemos criar condições para que o emprego valha a pena. A esquerda fala em estabilidade, mas é daquela em que se sentam numa cadeira e ficam à espera do ordenado e isso é completamente errado.
VA – Se tivesse de fazer um apelo aos eleitores, para votarem em si e no CHEGA, o que diria?
FS - Deem-me trabalho. Eu quero que confiem em mim. As minhas palavras-chave são “Disponibilidade e Perdoar”. O perdoar porque é a essência da sociedade. Costumo dizer que não guardo rancores de ninguém.
Por: Nathalie Dias