Os Al-Fanfare são uma banda de rua de origem algarvia, constituída por 11 elementos de várias nacionalidades, residentes, na sua maioria, no Concelho de Loulé. Interpretam vários géneros musicais, sendo o Balkan Brass e Klezmer os estilos dominantes. Apesar de serem um grupo de World Music, assumem-se como uma banda que dá valor às origens, pois tÊm como objetivo “elevar a nossa terra ao expoente máximo”.

A Voz do Algarve – Durante o seu percurso, os Al-Fanfare sofreram várias mudanças, tendo inclusive atuado sob outros nomes. Como surge e como se deu a evolução deste projeto ao longo dos anos?

Al-Fanfare – A nossa banda existe com esta formação desde 2009, tendo resultado da evolução de um quinteto de contornos mais eruditos, os Loulé Brass. Chegámos a apresentar-nos sob esse nome e posteriormente como Fanfarra Marafada, até que em outubro de 2013, quando nos redefinimos, adotámos o nome Al-Fanfare. A ideia de criar este projeto foi do Albano Neto, sendo ele o atual responsável. Da sua amizade com músicos de outras fanfarras e do gosto pela Música do Mundo (World Music), particularmente por fanfarras balcânicas, avançou-se para a constituição de uma banda de sopros e percussão com a intenção de animar eventos. As primeiras atuações foram no Concelho de Loulé, localidade de onde parte de nós é oriunda e onde a banda está sediada.

 

V.A. – E porquê a designação Al-Fanfare? Há alguma razão específica para a escolha deste nome?

A.F. – Nem sempre o nome de uma banda carrega um significado excêntrico ou que tenha surgido com a maior das espontaneidades. Muitas vezes um nome é construído e passa por um processo evolutivo. É o nosso caso, pois o nosso nome foi pensado já depois de existirmos formalmente. Quando, em setembro de 2013, decidimos encarar o projeto com maior seriedade, concordámos que deveríamos adotar um nome mais sonante e que tivesse a ver com o que fazíamos. Por sugestão de um de nós, surgiu o nome Al-Fanfare, partindo da conjugação do prefixo Al, de Algarve, com Fanfare, de fanfarra (o nosso tipo de formação), que foi aceite de imediato pelo grupo. Encaixou-nos que nem uma luva.

 

V.A. – Quem são os elementos desta banda e como conjugam o trabalho artístico a outras atividades complementares?

A.F. –A banda é atualmente composta por 11 elementos com faixa etária entre os 21 e os 45 anos. Todos têm outras profissões à margem da banda, nuns casos relacionadas com a música, noutros em áreas bem distintas. Mas, embora o trabalho artístico nos Al-Fanfare seja complementar ao das profissões de cada membro, é encarado por todos com muita seriedade.

 

V.A. – Apresentam um repertório vasto, executando sobretudo os estilos Balkan Brass e Klezmer. Quais são as principais características destes estilos?

A.F. – Em primeiro lugar, a nossa formação é versátil, já que podemos tocar de tudo um pouco. Achamos que dessa forma chegamos a diferentes personalidades e gostos musicais. Ou seja, agradamos tanto a pessoas que gostam de temas mais latinos e carnavalescos como aquelas que apreciam melodias que cá em Portugal são mais exóticas, e por aí adiante. Ainda assim acabamos por não fugir muito aos dois primeiros. Queremos que cada estilo soe como se nos estivesse no sangue e aqueles que mais se aproximam disso, de um modo geral, são esses dois. Quanto às suas características, o estilo balcânico tem raízes, como o próprio nome indica, na península balcânica, ou seja na Sérvia, Macedónia, Bulgária, entre outros, nomeadamente em temas folclóricos em que o trompete é o instrumento solista entre os vários metais que compõem as fanfarras e o kolo a dança tradicional que os acompanha. Além dessa característica vincada, este é um estilo de melodias em ritmo acelerado, onde frequentemente têm lugar solos improvisados. É comum em eventos cerimoniais como nascimentos, batizados e casamentos.

Já o klezmer está ligado à cultura religiosa judaica. Até à segunda metade do século XX não era propriamente distinguido da abrangência da música yiddish. A palavra klezmer designava o instrumento musical em si, sendo posteriormente estendida aos músicos que, por não saberem ler música e tocar melodias de ouvido, não colhiam críticas favoráveis. Na segunda metade do século XX, a palavra passou a identificar um estilo dentro da cultura musical yiddish e os klezmorim, quase sempre músicos amadores, foram absorvendo as influências da música cigana (ou romani), igualmente incutida no estilo balcânico, e ganharam destaque, passando a formar grupos itinerantes para atuar nas mais distintas celebrações judaicas. Hoje, o repertório é sobretudo marcado por melodias de violino propícias a dançar em grupo ou entre casais. Ambos os estilos tocam-se, pois tanto o balcânico como o judaico são acompanhados por danças tradicionais e quer um quer outro foram beber à itinerância musical cigana.

 

V.A. – Têm como máxima “no dar valor às origens é que está o ganho!". De que forma esse ideal se traduz na vossa música?

A.F. – Esta poderia ser apenas uma frase solta, mas tem grande significado para nós, já que enquanto banda de animação de rua temos alguma dificuldade em nos afirmarmos, sobretudo por tocarmos estilos não comerciais. Outra razão relacionada com a nossa dificuldade de afirmação é algum desconhecimento que os agentes culturais têm de projetos artísticos como o nosso, pelo menos em terras algarvias, embora nestes dois anos a nossa exposição tenha aumentado bastante. Certo é que somos louletanos e algarvios e queremos elevar a nossa terra ao expoente máximo. O Algarve não é só um destino de sol e praia que no verão assiste à abertura de espaços noturnos animados por música eletrónica. É sobretudo por isto que temos muito orgulho em afirmar que somos uma banda algarvia. Quando o dizemos há quase sempre um espanto estampado no rosto das pessoas, já que se desconhece que no Algarve se faz muito boa música.

 

V.A. – Sendo uma banda de rua, quais são os eventos e ambientes em que atuam habitualmente?

A.F. – Podemos destacar uma série de eventos em que participámos ao longo destes quase dois anos de percurso mais intensivo. O realce vai claramente para o Festival Med e a Noite Branca, ambos realizados nas ruas da nossa cidade de Loulé. Estes festivais são dois dos de maior visibilidade na região, embora nos apresentemos em todos os eventos com a mesma entrega, boa disposição e música contagiante. Pode-se destacar também o Algarve Beer Fest, o Festival Internacional do Caracol, o Festival F, a Feira Nacional de Turismo Desportivo e de Natureza e o Festival Sons do Atlântico. Tivemos também, numa fase inicial, passagens por espaços noturnos em jeito de promoção da banda. E atuámos, por exemplo, na FNAC de Faro e em sítios e monumentos históricos como as ruínas de Milreu e o Castelo de Paderne. Temos colaborado ainda com várias causas solidárias. Como se pode atestar, há um vasto número de eventos onde a nossa performance musical se pode enquadrar. Isso deve-se, como disse anteriormente, à versatilidade do projeto e proximidade com quem nos ouve, pois tocamos na rua, lado a lado com o público.

 

V.A. – Quais têm sido os mercados mais recetivos ao vosso projeto?

A.F. – Por um lado, entrámos inicialmente no mundo da música ao vivo em espaços noturnos para nos darmos a conhecer e ganhar experiência em frente ao público. Procurámos, aos poucos, fortalecer os elos obtidos com instituições e agentes culturais e turísticos, particularmente com os municípios algarvios, que têm a cargo a organização de muitos eventos. Há, todavia, um ramo no qual não temos conseguido entrar, o da animação turística privada. Apesar de as unidades hoteleiras na época de verão apresentarem uma oferta musical mais ou menos variada, não costumam olhar para o nosso produto com interesse. Quanto ao futuro, não afastamos a ideia de podermos evoluir para uma banda de palco ou algo com mais substância e até para a produção de temas originais e concertos amplificados, de forma a entrar num mercado mais comercial. Mas, para já, não é por aí que estamos a caminhar. A nossa praia continua a ser a animação em movimento, pois é o que fazemos com mais frequência.

 

V.A. – Mas estão preparados para atuar em qualquer espaço, mesmo fazendo-o sobretudo na rua?

A.F. – Sim, sem dúvida. Como referi, quanto a atuações de palco ainda não temos muita experiência, mas na animação de rua e de recintos sabemos movimentar-nos. Perante as propostas que nos são endereçadas, desde que dentro do nosso estilo, procuramos dar sempre a melhor resposta.

 

V.A. – Qual o feedback que têm recebido do público algarvio?

A.F. – Se no final as pessoas forem à nossa página colocar um “gosto”, isso é o mais gratificante. Para além de nós, há outras fanfarras semelhantes no resto do país e a apreciação a este tipo de formação e estilo de música hoje em dia é muito favorável. Connosco, a apreciação do público tem sido quase sempre muito boa. E mesmo quando atuamos em bares, onde a música que habitualmente se ouve é bem distinta daquela que apresentamos, o público adere, vibra e viaja pelos quatro cantos do mundo com os temas que apresentamos.

 

V.A. – Quais são as vossas ambições e como pensam progredir?

A.F. – Já pusemos várias vezes a hipótese de participar num concurso nacional de fanfarras que ocorre em Lisboa, o Brass D’Ferro, só que até agora não foi possível. Mas, não está descartado para um futuro próximo. O trabalho que temos levado a cabo tem passado principalmente pelo encaminhamento de propostas diretamente para os agentes culturais com os quais temos trabalhado e pela divulgação do projeto junto de organizadores de novos eventos que vão surgindo, sobretudo na região. Já tivemos a oportunidade de transpor a fronteira para o Alentejo, tendo atuado por duas vezes no concelho de Odemira. Acredito que começaremos a sair mais do Algarve, mesmo não tendo a representação de um manager. Pensamos que por agora a nossa política de promoção da banda funciona bem, estando certos de que quem nos ouve e vê se diverte bastante, ficando com vontade de repetir a dose!

 

V.A. – Por fim, onde vos poderemos ver e ouvir nos próximos tempos?

A.F. – Neste verão de 2015 marcámos presença em alguns eventos e esperamos que na próxima época possam aparecer muitas mais atuações, pois apesar das dificuldades com que nos vamos deparando, temos tido cada vez mais contactos. Tem-se afirmado, desde o começo deste ano, que o País está a recuperar a sua economia. Se tal corresponder à verdade, isso pode ajudar-nos a conseguir um maior número de atuações, já que os cortes nos orçamentos dos eventos tenderão a ser menores. Agora, durante a época de outono-inverno, iremos ensaiar e trabalhar novos temas para 2016. A partir de março ou abril esperamos voltar às atuações regulares. Felizmente, as nossas atuações têm sido publicitadas nas redes sociais e imprensa regional, como esta entrevista, por exemplo, que agradecemos cordialmente, prova de que as pessoas já vão conhecendo mais o nosso trabalho e que há interesse em nos conhecer melhor. Desta forma podemos demostrar que o que nos move é o amor pela designada World Music e por este tipo de agrupamento musical de rua ao estilo fanfarra balcânica.

 

Por Sofia Coelho