O que o levou a deixar uma guerra para se meter noutra, na liderança da sua freguesia?
Hélder Faísca – Não deixei uma para me meter na outra. Eu já tinha deixado a anterior, fui convidado e achei que podia fazer qualquer coisa pela minha freguesia. Eu estive muito tempo fora, mas vim sempre passar férias ao Algarve, e achei que era a altura de fazer alguma coisa pela minha freguesia, pois ao contrário do que as pessoas pensam um militar não é só “formar a três e seguir em frente”. Eu já tinha tido experiência na Câmara Municipal [de Loulé] e achei que essa experiência poderia contribuir também para a minha freguesia.
Lidera uma freguesia com duas matizes, uma citadina e outra rural, do barrocal à serra. Quais são as principais carências dessas zonas?
H. F. – Eu costumo dizer que um Presidente de Junta é mais um ouvinte, conselheiro e transportador de mensagens, do que alguém que tem o poder de fazer as coisas, porque a capacidade do Presidente de Junta é muito restrita. Mesmo com a Lei n.º75, que veio dar algumas competências às juntas de freguesias, mas só dá as competências, não dá as capacidades necessárias para levar a cabo essas competências. Eu acho que em Loulé já estávamos à frente da Lei n.º 75 no que respeita a transferências de verbas e competências que a Câmara atribui à freguesia.
Que solicitações lhe fazem os seus munícipes da serra?
H.F. – Não precisamos sair muito da cidade para perceber o que a freguesia precisa. Basta chegarmos a Vale Telheiro e já não temos saneamento básico. São obras que ultrapassam a capacidade da Junta e o que o Presidente faz é força e pedidos junto da Câmara nesse sentido. Vamos ver se ainda durante este mandato a Câmara consegue, pelo menos, iniciar o saneamento no Vale Telheiro.
Das queixas e solicitações que leva até à Câmara, algumas delas têm ficado na prateleira?
H.F. – Eu tenho um excelente relacionamento com todo o executivo e tenho sido sempre bem acolhido e recebido por todos. Em relação aos pedidos que faço, muitas vezes os timings da freguesia não são iguais aos timings da Câmara Municipal. Algumas solicitações têm sido satisfeitas e outras não, porque nem tudo consegue avançar.
Qual o orçamento para este ano?
H.F. – Os orçamentos da Junta de Freguesia de São Sebastião rondam os 300 mil euros. Este ano subiu um pouco, cerca de 320 mil, o que não chega a 10% de aumento. Desses, 140 mil são para investimentos de capital, ou seja, obra que se divide em reparação de caminhos rurais que a Câmara delegou na Junta de Freguesia. Dos 140 mil, 120 mil são verbas transferidas pela Câmara Municipal de Loulé, que já têm o seu destino definido. São os antigos Contratos de Programa, que ainda não estão bem definidos como Acordos de Execução, como a Lei nº 75 define.
Existem outras receitas? Qual é a sua proveniência?
H. F. – Temos a receita normal do Fundo de Financiamento das Freguesias e temos, também, receitas provenientes das licenças dos canídeos, dos atestados que se passam.
Essas receitas chegam para cobrir todas as despesas da freguesia?
H.F. – Se não houvesse transferências das Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia não faziam nada. Mesmo a nova receita do IMI, ainda que São Sebastião seja uma freguesia rural, ronda os 15 mil euros.
O mundo rural já foi mais ativo e, no passado, até havia muitos mais cidadãos a viver no interior, tendo a terra como modo de vida. A população do interior da sua freguesia tem decrescido?
H.F. – Avaliando pelas estatísticas, eu acho que não tem decrescido. Na parte rural ainda há muitos movimentos associativos que desenvolvem atividade, como em Vale Judeu, Parragil ou Monte Seco e está a surgir também na Soalheira. Desenvolvem muitas atividades e eventos nestes locais.
O que gostaria de já ter concluído e não foi possível?
H.F. – O saneamento básico, que gostaria que cobrisse toda a freguesia. Há duas obras que estão previstas no orçamento para os próximos dois anos e que espero que se iniciem, que são o Saneamento de Vale Telheiro e do Monte Seco. Além deste, e olhando para a cidade, a entrada da Mãe Soberana é a única que não tem duas faixas e uma avenida, e eu gostava que essa obra fosse desenvolvida. Há, também, uma zona, a que eu chamo Zona Histórica, que está muito degradada, mas que penso que merecia uma intervenção, que é a Praça Manuel de Arriaga, mais conhecida por Largo Manuel da Mana.
De que modo está envolvido na Festa da Mãe Soberana? Em que consiste a sua participação?
H.F. – Eu participo na romaria, que consiste no agradecimento dos cavaleiros do Clube Hípico e não só à Mãe Soberana. Ultimamente tem-se feito um peditório e traz-se qualquer coisa para ajudar, mas no fundo o que fazemos é pedir ao Senhor Capelão que nos benza os cavalos para termos um ano bom.
O que pensa que a Festa de Nossa Senhora da Piedade – Mãe Soberana – representa para a população louletana?
H.F. – Acho que é, sem dúvida, a maior festa dos louletanos. Os louletanos têm duas grandes festas, o Carnaval e a Mãe Soberana. O Carnaval talvez traga mais gente, mas a Mãe Soberana é pelos louletanos mais sentida.
Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 6 de abril.
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