Manuel Vareta tem 57 anos, é casado e tem dois filhos. Trabalha como empresário na área do turismo e na área dos produtos químicos e, há cerca de 3 anos, começou a trabalhar como UBER. Neste momento, já conta com uma empresa aberta e três carros. Loulé é o local onde se encontram grande parte dos seus clientes, sendo esta uma cidade que já percorreu inúmeras vezes.
A Voz do Algarve- Conte-nos um pouco do seu percurso profissional. Há quantos anos é empresário?
Manuel Vareta – Sou empresário desde 1997. Inicialmente comecei no ramo da restauração e depois fui trabalhar com uma empresa internacional ligada aos químicos, foi aí que comecei nesta área. Em 2010 abracei outro projeto, com uma empresa ligada à distribuição de gás – foram cinco anos. Neste momento, a Manuel Vareta Lda. abrange todas as áreas: o turismo, químicos e lubrificantes.
VA – Com tanta atividade empresarial, como surge a ideia de entrar na UBER?
MV - Isto foi uma experiência. Comecei numa altura em que tinha disponibilidade e tive oportunidade de ir trabalhar com o meu outro parceiro. Trabalho na UBER há três anos. Comecei com um part time nas horas vagas, para avaliar o que poderia render em termos de futuro. Estive três meses nesse “regime” e, mais tarde, abri uma empresa, adquiri 3 carros para trabalhar com a UBER.
VA - Como funciona exatamente este processo? E a questão da empresa?
MV - Sim, para trabalhar com a UBER temos de abrir uma empresa. Se for só motorista e tiver o curso (feito na Escola de Condução, durante 50 horas, divididas de igual forma entre online e presencial). São precisos depois alguns documentos no IMTT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, alteração da carta para conseguir transportar passageiros e testes psicotécnicos. A partir dai, é ter um carro dentro dos parâmetros que a UBER exige. Para além disso, existe um controlo dos carros, através de inspeções anuais e, além disso, os carros só podem estar sete anos na plataforma e não podem ultrapassar os 300 mil quilómetros. De seis em seis meses, temos de enviar a certidão da empresa, enviar o registo criminal de três em três meses e os seguros são diferentes – de seis em seis meses temos de enviar o seguro atualizado, se não ficamos logo bloqueados na plataforma.
VA - Existe alguma entidade que trate da UBER no Algarve, ou o controlo vem da empresa de Lisboa?
MV - Já existiu. Agora é tudo tratado em Lisboa, apesar de muita coisa já ser feita através da plataforma.
VA - Como obtém os clientes? São eles que procuram a UBER na plataforma?
MV - Os clientes é que nos procuram sim. Eles têm a sua conta na plataforma da UBER, precisam de um cartão de crédito associado e chamam uma viatura. A que estiver mais próxima é chamada ao local.
No aeroporto é diferente, existe uma fila virtual e vai saindo consoante o movimento que existe. Ou seja, se estiverem 15 carros no aeroporto e eu entrar, seria o 16º e teria que esperar que os carros da frente saíssem com os seus passageiros.
Na praia este processo é aleatório.
VA - Como funciona a distribuição dos lucros entre a plataforma e, neste caso, o proprietário da empresa?
MV - No caso dos parceiros, eles retiram cerca de 25% do valor da viagem. Se, por exemplo, a viagem for de 100 euros, retiram 25 euros. Já com os motoristas, os negócios são feitos entre nós e aí estamos a falar do valor que cai na minha aplicação, fora já o valor que eles retiram. À segunda-feira, creditam na conta do parceiro os valores faturados. Não recebemos dinheiro, é tudo através da aplicação.
O valor por cada viagem começa no arranque, que é 1 euro. Por cada quilometro são 0,70 cêntimos e mais 0,9 cêntimos pelo tempo por quilómetro. Mesmo que a viagem seja curta, são sempre 2,50 euros e nós recebemos 1,88 euros dessa viagem.
Temos ainda pontos. Quantos mais conseguir, mais vantagens tenho – a categoria máxima é ‘Diamante’. Depois tenho vantagem, por exemplo, a entrar na fila do aeroporto.
VA - Quantas viagens faz em média?
MV - Se fizer o percurso no aeroporto, faço sempre poucas viagens. Cá fora, conseguimos cerca de 15 a 20 viagens diariamente.
VA - Como consegue conjugar o seu trabalho como empresário com a UBER?
MV - Falo com muitos clientes por telefone e, devido à minha área se basear muito perto da zona do aeroporto, consigo conciliar bem. Faço UBER quase a tempo inteiro.
VA - Para terminar, pode resumir como estão as viagens em tempos de covid-19? Existiu diminuição na procura?
MV – No verão foi pior que um inverno normal. O valor que muitas vezes fazíamos por dia, estamos a fazer agora por semana. E estamos a falar de 15 horas de trabalho por dia às vezes.
Por: Filipe Vilhena