Nesta campanha arqueológica, foram exumados 10 esqueletos humanos pertencentes à geração dos povoadores cristãos da região, após a conquista do Algarve aos mouros, em 1249.
Somam-se assim 66 sepulturas escavadas e 86 indivíduos identificados neste cemitério da época medieval. Caso insólito, a descoberta de um gato depositado no cemitério, cujo significado será esclarecido por futuras análises laboratoriais.
Sob esta necrópole, continuou a colocar-se a descoberto o bairro almóada, dos séculos XII e XIII. Assim, foram escavadas duas casas de pátio interior, circundados por compartimentos.
Nestes espaços, após o abandono das famílias que ali viveram, verificou-se a existência de diversos níveis de lareiras, restos alimentares e lixeiras domésticas, que podem testemunhar a estadia ocasional de viajantes ou a ocupação temporária por habitantes locais.
Foi ainda descoberta uma rua principal, que poderia atravessar este conjunto habitacional, ligando a zona portuária a uma das entradas do bairro.
Este projeto resulta de um protocolo de colaboração celebrado entre a Direção Regional de Cultura do Algarve, a Universidade do Algarve e o Município de Vila Real de Santo António, contando ainda com a participação da Simon Fraser University (Canadá).
Os trabalhos arqueológicos foram coordenados por Cristina Tété Garcia (DRCAlg) e Maria João Valente (UAlg). Hugo Cardoso (SFU) coordenou os trabalhos de bioarqueologia.
Participaram, em regime de voluntariado, 25 alunos da Universidade do Algarve, Faculdade de Letras do Porto, Universidade de Huelva e escolas secundárias de Vila Real de Santo António e Pinheiro e Rosa (Faro).
A estes, juntaram-se 16 alunos canadianos, da Simon Fraser University. Neste campo-escola de arqueologia, puderam aprender e praticar a escavação de materiais e estruturas medievais, bem como de ossadas humanas no contexto da necrópole medieval descoberta.
O Poço Antigo situa-se fora do perímetro amuralhado de Cacela, em Zona Especial de Proteção do Núcleo Histórico de Cacela-a-Velha, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1996.
Os trabalhos tiveram a duração de quatro semanas e foram antecedidos de uma semana de formação, na UALG, com especialistas em Arqueologia Medieval, Zooarqueologia, Geologia, História do Algarve e Bioarqueologia.
Finalizada esta campanha arqueológica, segue-se a limpeza, inventário e estudo dos materiais, que ficarão depositados na Universidade do Algarve e no Centro de Informação e Interpretação do Património de Cacela do Município de Vila Real de Santo António.
Está previsto realizar uma nova campanha arqueológica no ano de 2019.
Por: CM VRSA