"Trata-se de uma peça paleolítica, rara e de grande valor histórico, que nos permite conhecer um pouco mais das origens pré-históricas do Reino dos Algarves, nomeadamente o tipo de animais que existiam neste concelho da região do barlavento algarvio", disse à agência Lusa o historiador Artur de Jesus.
Descoberta em 2005 no sítio arqueológico de Vale de Boi, na freguesia de Budens, no concelho de Vila do Bispo, a placa de xisto contém três gravuras de auroques, uma espécie de boi de grandes dimensões.
De acordo com o historiador, o achado arqueológico, "está quase intacto, é uma das peças mais importantes da exposição, cuja gravura de um bovídeo, terá sido feita em três fases, há cerca de 24 mil anos".
"É a única peça do género recolhida até agora naquele sítio arqueológico", sublinhou.
A gravura integra o vasto acervo arqueológico descoberto ao longo de cerca de 150 anos no concelho de Vila do Bispo, durante trabalhos de investigação que, nos últimos 15 anos, foram coordenados pela Universidade do Algarve.
As escavações puseram a descoberto milhares de indícios, sobretudo material em pedra talhada, entre os quais pontas de flecha e, também, vestígios de animais.
"Existe um acervo impressionante de animais que hoje em dia é inimaginável pensarmos que estiveram neste território, como o leão, o lince e outros que hoje podemos considerar um pouco exóticos", destacou Artur de Jesus.
"São achados com vários milhares de anos, alguns com 20, 25 e 30 mil anos", concluiu o historiador.
As investigações permitiram também perceber que os primeiros habitantes do Algarve se alimentavam de marisco, faziam gravuras em pedra e adornos com pequenas conchas.
Além da placa com cerca de 24 mil anos, a exposição apresenta uma panorâmica geral da pré-história do Algarve, que se estende do paleolítico inferior - estimando-se a sua idade em cerca de 500 mil anos - até à primeira Idade dos Metais, período conhecido como calcolítico, há cerca de cinco mil anos.
Por seu turno, o arqueólogo Ricardo Soares disse à Lusa que o sítio de Vale de Boi “é hoje uma referência da arqueologia nacional e internacional, porque documenta a mais remota presença humana que é conhecida em todo o sul peninsular”.
“É um sítio cuja ocupação remonta há milhares de anos e que se prolonga até ao antigo neolítico regional, há cerca de seis mil anos, revelando, igualmente, a evolução do ambiente natural da região”, sublinhou Ricardo Soares.
Organizada pelo Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behavior (ICArEHB) da Universidade do Algarve, a exposição pode ser visitada até ao dia 28 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 09:00 às 15:30, no Centro de Interpretação de Vila do Bispo.
Por: Lusa