por João Carlos Santos | Licenciado em Património Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

O artigo presente no Jornal O Algarvio de 13 de Abril de 1981, elucida: “Consiga a câmara arrancar do espírito público a desconfiança e o receio das sezões, por meio de trabalhos convenientes [...] verá como todos concorrerão a fazer da praia de Quarteira um brinco”. Entretanto passam-se cerca de dez anos, intervalo de tempo no qual não conseguimos detectar notícias de Quarteira relativas ao seu estado sanitário. Há que mencionar que nos finais do século XIX, algo que era tido como esporádico, na primeira década do século XX, é tido como uma possível campanha de difamação em benefício de outros destinos algarvios. Acerca desta matéria, o Dr. Geraldino Brites, na sua obra de 1914, intitulada, Febres Infeciosas - Notas sobre o Concelho de Loulé, - para a época um inestimável documento de valor cientifico - dá-nos acesso a dados importantes acerca das causas do paludismo na povoação.

Citando Geraldino Brites: “Impaludismo - Foi uma das infeções mais temíveis no concelho. Atualmente, só algumas povoações mantêm o impaludismo, pela falta de trabalhos de saneamento, aliás pouco dispendiosos”, de facto, aponta a falta de condições de higiene e saneamento como o principal problema do aparecimento desta doença. Concretamente sobre a povoação, leia-se: “Quarteira com os seus pântanos salgados e doces caminha na vanguarda dessas povoações afastando os banhistas e tornando perigosas a permanência ali”. Elucida também, que em outras povoações do concelho de Loulé é normal os surtos sezonáticos, nomeadamente nas “terras verdes” de Boliqueime e em geral por toda a beira-mar, contando-se também os locais seguintes: “Franqueada, Valtelheiro, Povo de Querença, Goldra, Alte, Clareanes Vale Judeu, S. Faustino”.

Adverte ainda que estas povoações devem o seu paludismo aos reservatórios de água (tanques) utilizados nas alturas de maior carência e às águas estagnadas nos leitos dos ribeiros. Constata-se assim, que este não era um flagelo com manifestações somente na povoação de Quarteira, igualmente presente em outras localidades do interior.