Teste de stress aplicado nos empréstimos para medir a taxa de esforço vai descer de 3% para 1,5%, para acomodar taxas de juro.
A revisão do cálculo que serve de baseà concessão de crédito habitação vai mesmo avançar. O Banco de Portugal (BdP) já veio a público anunciar que vai aliviar a recomendação da taxa de esforço, reduzindo o teste de stress dos atuais 3% para 1,5%, de forma a facilitar o acesso ao crédito habitação para comprar casa em Portugal. Explicamos tudo o que vai mudar na hora de pedir um empréstimo para comprar casa em Portugal, em breve. Não percas este guia preparado pelo idealista/news.
Foi no início de julho, que a vice-governadora do BdP, Clara Raposo, anunciou que o regulador português estava a ponderar rever o teste de stress aplicado na concessão de créditos habitação, sem ter revelado qual seria a dimensão e os termos da sua descida. A ideia de base era aligeirar os critérios nos empréstimos habitação e adequar a recomendação macroprudencial ao contexto atual marcado pelos juros em alta – até porque quando entrou em vigor, em 2018, as taxas de juros estavam negativas.
Agora, já se sabe oficialmente que esta alteração do cálculo das taxas de esforço vai mesmo andar para a frente, reduzindo o teste de stress de 3% para 1,5%. Explicamos qual é o impacto deste alívio das taxas de esforço no crédito habitação em Portugal neste guia.
O que vai mudar no cálculo da taxa de esforço no crédito habitação?
Hoje, quando uma família se dirige ao banco para contratar um crédito habitação de taxa variável com prazo superior a 10 anos, a instituição bancária simula qual seria a taxa de esforço do cliente caso a taxa Euribor subisse 3%. E nesse teste de esforço, as famílias não podem gastar mais de 50% do seu rendimento para pagar a prestação da casa.
Ou seja, atualmente com a taxa Euribor a 12 meses (a mais usada no crédito habitação) a 4%, o teste de esforço põe a taxa de juro simulada em 7%, um valor que significaria um grande esforço para pagar a prestação da casa, impedindo muitos de aceder a um novo crédito para comprar casa.
Agora, este cálculo vai mudar: ao invés do teste de stressde 3%, a taxa de esforço vai ser calculada com um teste de stress de 1,5%. Recorrendo ao mesmo exemplo, significa que a taxa de juro em situação de stress estaria nos 5,5% (menos 1,5 pontos percentuais à atualmente calculada).
Porque é que o BdP decidiu avançar com mudanças no teste de stress?
O Banco de Portugal considera que, com os atuais níveis das taxas de juro, não se justifica simular um aumento tão considerável – isto porque as taxas de juro na Zona Euro nunca estiveram nos níveis considerados hoje no teste, de 7%, por exemplo. Portanto, a ideia passa por adaptar esta regra àquilo que é o contexto atual das taxas de juro e do mercado.
Além disso, o regulador e supervisor bancário admite que a alteração da recomendação permitirá a mais famílias acederem a crédito habitação, sem com isso comprometer a prudência que os bancos devem ter na concessão de empréstimos, refere a Lusa.
A concessão de créditos habitação tem vindo a arrefecer em Portugal. Em junho passado, os bancos emprestaram 1.524 milhões de euros em crédito habitação (a taxa de juro média dos empréstimos para habitação própria permanente a taxa variável atingiu 4,37%), menos 8,7% do que os 1.402 milhões de euros do mesmo mês de 2022 (quando a taxa de juro média foi de 1,47%). De notar que as renegociações dos créditos têm vindo a subir, assim como as amortizações antecipadas, o que ajuda a explicar estes números.
A mudança no cálculo da taxa de esforço já está em vigor?
Não. Esta alteração já foi aprovada no Conselho de Administração do Banco de Portugal, mas ainda terá de ser colocada em consulta pública (o que acontecerá para a semana durante 30 dias úteis).
Tudo indica que as alterações aos testes de stress deverão entrar em vigor no fim do verão ou no início do outono (em outubro, em concreto). A partir desta data, as taxas de esforço dos novos contratos de crédito habitação já vão ser calculadas com as novas regras.