Por: Miguel Peres Santos – Mestre em Gestão Cultural pela Universidade do Algarve apdsmiguel@gmail.com – http://facebook.com/miguelapdsantos

Estamos num momento único, talvez ímpar na nossa História, todos tivemos de mudar as nossas rotinas, a nossa forma de viver, a nossa forma de estar e todos temos a obrigação de isolamento social. Entre muitas medidas tomadas para travar a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), uma das primeiras a ser a ser tomada foi obrigar a cultura a parar. Pelo país foram cancelados inúmeros espetáculos, festivais, além de uma diversidade de eventos relacionadas das mais variadas áreas.

A cultura está ao nosso lado a toda a hora e durante os dias de quarentena foram inúmeros os artistas que pelas redes sociais nos tem feito companhia de forma inovadora, pois cultura é a memória, a alma e identidade de um país e do mundo em que vivemos. Foi com o objetivo de divulgar os nossos artistas, que também precisarão muito do nosso apoio, sobretudo depois da pandemia passar, e podem ser apoiados de várias formas, seja indo aos seus espetáculos, ou seja, na aquisição dos seus trabalhos e dos seus serviços. Foi por isso que decidi divulgar regularmente alguns dos projetos e dos trabalhos que considero mais interessantes na música portuguesa, alguns deles, quase todos conhecem, mas muitos deles ainda são desconhecidos do grande público, espero que gostem.

SUGESTÕES DA SEMANA

 Tiago Nacarato, “Lugar Comum” (2019)

 

 

A estreia do portuense Tiago Nacarato nos discos, dá-se com este “Lugar Comum”, e como o próprio título parece indicar, este é um álbum onde se encontram todas as influências do intérprete. Quem conhece e vagueia pela noite do Porto já conhecia o seu nome e a influência da música popular brasileira no seu trabalho.

Ao ouvir este trabalho, somos levados por ritmos alegres, introspetivos e dedilhados. A presença da influência da música popular brasileira é uma constante. Em músicas como “Distraído” e “A Dança” com os seus sons tropicais que cheiram a verão e as suas letras que são histórias alegres, que nos sorrir e dançar logo ao primeiro acorde.

Janeiro, “Frag.men.tos” (2018)

 

O disco de estreia de Janeiro, jovem natural de Coimbra é uma agradável surpresa. Ao longe deste álbum somos levados pela voz calma e suave do artista por canções íntimas e poéticas, que nos falam de amores, paixões, relacionamentos e entusiasmos. 

Cantado na sua totalidade em Português e numa diversidade de estilos que vão desde a folk ao jazz, e do fado à bossa nova, num registo que se assemelha muito ao de Salvador Sobral e ao de António Zambujo, sendo que podemos destacar canções como “(sem título)”, “Perguiça” ou “Canção para Ti”.

 

Branko, “Nosso” (2019)

 

“Nosso” é o título do segundo albúm de Branko, que o produtor define como aquele que “é um disco colectivo”, tal é número de colaborações musicais que estão presentes, mas também podemos falar da participação da cidade de Lisboa na inspiração do mesmo.

O disco “Nosso” é reflexo das colaborações de Branko que estão presentes neste disco, da lusofonia e da exploração musical do produtor e da sua visão de uma Lisboa como centro cultural de língua portuguesa e da sua cada vez maior diversidade cultural, sendo visível na sua expressão máxima através da fusão dos ritmos locais que vão da Kizomba ao baile funk e ao afrohouse, quer através da electrónica e da sensibilidade pop, que faz deste trabalho algo de soberbo e maravilhoso, sendo ele um dos melhores trabalhos editados em 2019 e dos últimos anos em Portugal.

É difícil escolher uma música deste álbum, tal a sua qualidade e diversidade, mas talvez “Tudo Certo” seja a indicada, mas o ideal é mesmo ouvi-lo por completo.

Filipe Sambado, “Revezo” (2020)

“Revezo”, segundo álbum de Filipe Sambado mergulha numa visita ao folclore e à rudeza da música popular portuguesa, dando-lhe uma interpretação contemporânea, não esquecendo lado interventivo sempre presente no artista.

Um disco cheio de canções que atingem uma pop cativante, que nos fazem refletir sobre o mundo que nos rodeia e afeta, num discurso poético e completamente musical. Mas talvez a maior surpresa deste álbum seja a maestria com que o mesmo desconstrói o folclore nacional, criando um universo musical completamente novo e diferente, contrastando com o seu trabalho deste interprete até aqui.

Num álbum que é viciante de ouvir, podemos destacar canções como “Gerbera Amarela do Sul ou “É tão bom”.

Joana Almeida, “Deslumbramento” (2020)

 

 

Joana Almeida é uma das mais recentes revelações do Fado, e “Deslumbramento” é o seu álbum de estreia. Com apenas 22 anos, mostra-nos que não há idade para interpretar as emoções que nos são transmitidas pela poesia e pelo Fado.

Ao ouvirmos Joana Almeida pela primeira vez, sentimos a dedicação e a emoção que ela coloca nas palavras, mostrando uma grande maturidade dada a sua juventude, sendo que a sua interpretação neste disco mostra-nos que é fado em toda a sua alma e em toda a sua essência.

Este trabalho recorre quase na sua totalidade às novas sonoridades e influências do Fado, e ao ouvirmos esta interprete, faz com que fiquemos sempre com um sorriso nos lábios e com vontade de dançar, como é o caso de “Fado dos Namorados”, “Meu Par” ,”Anda Bonita a Solidão” ou “Vem Ver a Lua”.