André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Dois artigos da revista “Economist”, de 11 de maio, “A nova ordem económica internacional” e a "A grande regressão", são o ponto de partida para esta breve reflexão. São trazidas à colação várias evidências de que a ordem liberal internacional vigente se está a desintegrar lentamente, mas que o seu colapso poderá mesmo ser súbito e irreversível. Caminha-se para um mundo mais multipolar e menos multilateral, e que poderá não ser melhor em matéria de liberdade, equidade, cooperação internacional e prosperidade.

Na verdade, o sistema internacional construído depois da segunda guerra mundial significou um “casamento” entre os princípios internacionalistas e os interesses estratégicos dos EUA. Essa ordem mundial trouxe benefícios para o resto do mundo, nomeadamente com o desenvolvimento das cadeias globais de valor, que são a essência da globalização no sentido económico do termo. Com ela a grande maioria das economias do mundo, de todas as dimensões, integrou-se na economia internacional.

De todas elas a China é a que teve uma ascensão mais rápida, ao ponto de ser hoje o principal desafiante da liderança dos EUA.

É em torno destes dois polos que se vai reconfigurar a nova ordem internacional, cada um deles procurando trazer para o seu campo outros protagonistas com relevância económica e estratégica internacional.

Por parte da China são evidentes os alinhamentos com a Rússia, Irão, BICS- Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul alargados a mais 6 países (ainda que este alinhamento não seja linear e nalguns aspetos mesmo conflitual, como é o caso da Índia e China). Por outro lado, os EUA procuram preservar as alianças subjacentes à ordem internacional prevalecente, e mesmo alarga-la, sobretudo em relação a alguns países da Ásia, como a Austrália, Coreia do Sul e Japão, onde também neste campo, a Índia é também uma peça importante, tendo em conta as divergências estratégicas que mantém com a China.

As tensões geopolíticas, crises económicas, pandemias e mudanças climáticas estão a testar os limites das instituições existentes. A erosão da confiança nas instituições judiciais nos Estados Unidos e a necessidade de reformas bancárias e de mercado de capitais na Europa são exemplos de desafios internos nas sociedades e economias ocidentais.

Além disso, e contrariamente ao que seria de supor, têm vindo a piorar as condições económicas que afetam as classes de menor rendimento da população nos Estados Unidos, Europa Ocidental e outras economias avançadas.

Esta deterioração inclui o aumento das desigualdades e a estagnação ou queda de salários, pensões, seguros de desemprego e benefícios sociais diversos.

Ao mesmo tempo, com a invasão da Ucrânia às ordens de Putin, em fevereiro de 2022, e com isso o regresso da guerra à Europa, alterou o quadro geopolítico e de segurança e defesa globais, com profundas implicações na economia global, onde a segurança económica e estratégica tenderá a prevalecer sobre o racional económico das cadeias globais de valor. É neste sentido que a que a ordem económica mundial está a dar sinais de fragilidade, e que a globalização, tal como a conhecemos, poderá ser algo que muitos irão sentir falta quando desaparecer, se tal vier a acontecer.