André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Em artigo recente neste jornal tive ocasião de refletir sobre os vultuosos investimentos que Portugal tem efetuado em matéria de educação, formação e ciência e tecnologia, desde que aderiu à então CEE-Comunidade Económica Europeia, em 1986. Tais investimentos permitiram que Portugal, do ponto de vista da capacidade de produção de conhecimento, em diversas áreas, esteja alinhado com a média da União Europeia, muto especialmente no que respeita aos mais jovens. Isso permite dizer, por parte de muitos dirigentes políticos e institucionais, que temos hoje a geração melhor preparada de sempre para os desafios do futuro, o que é atestado através de vários indicadores de desempenho. Dada a importância do tema, e na sequência da minha participação recente num evento dedicado a esta problemática, a Futurália, entendi que seria importante aprofundar esta reflexão em torno do tema da qualificação.

Na verdade, apesar da melhoria significativa dos vários indicadores de desempenho, o investimento na qualificação constitui um imperativo para vencer os desafios do futuro. A este propósito, vejam-se, de acordo com um estudo recente da Fundação José Neves, quatro indicadores que expressam bem o nosso défice de qualificações: 45% da população ativa não tem qualificações digitais básicas; 14% das profissões poderão vir a tornar-se automatizadas; e, 32% das profissões irão ter tarefas significativamente diferentes.

Para perceber o seu alcance, importa considerar alguns dos mais importantes desafios para a década em que estamos. Desde logo, é inquestionável que a vida das organizações, e muito particularmente o mundo do trabalho, está a mudar substancialmente e a uma velocidade vertiginosa. A transformação digital associada à transição ecológica, são as dimensões mais relevantes desta mudança.  Emerge uma nova geração de tecnologias digitais (internet das coisas; Blockchain, inteligência artificial, realidade virtual, …) que interagem com a transição ecológica e energética. Consequentemente, muda o “tempo e o modo” como pensamos, aprendemos, trabalhamos, competimos (pessoas e empresas), concebemos, distribuímos e acedemos aos bens e serviços.

 Neste contexto, é prioritário preparar as pessoas, as empresas e demais organizações para mudanças permanentes, muitas delas disruptivas, num mundo em que tudo acelera, e em que emergem novos relacionamentos entre os centros de saber e as organizações, novos modelos de negócio, novas ligações entre grandes empresas e as PME, novas formas de cooperação e estratégias colaborativas. Muitos postos de trabalho poderão estar em risco com a automação, enquanto muitos dos que permanecem, irão mudar substancialmente em matéria de qualificações, assistindo-se cada vez mais à interação com robôs colaborativos (cobots).

Novas profissões baseadas em competências emergem. No que se refere às competências (skills) são diversos os desajustamentos entre a oferta e a procura de trabalho (mismatching), em muitas atividades e setores da economia, como aliás é visível no setor da restauração, hotelaria e turismo no Algarve.  Por isso, qualificar, requalificar e desenvolver novas qualificações e competências, constitui um imperativo, tanto mais importante quanto é sabido que se encontram atualmente cinco gerações no mercado de trabalho, com necessidades e estratégias de abordagem muito distintas