Poesia por Ofélia Bomba

À memória do meu pai

 

No princípio foi a gota original

O ponto de partida

para a criação de uma nova vida.

No princípio apenas um projeto

para um facto concreto

pessoal.

 

No princípio foi o sonho

em seguida a carícia, a carne quente

e o gesto repetido em toda a eternidade

depois a esperança e o poder risonho

da certeza e simultaneamente,

a alegria da realidade.

 

Então, dia após dia, como pedra sobre pedra

se construiu a catedral

e nela a proteção maior

com ela a certeza do amor

incondicional.

E sob as suas abóbadas,

no seu grande vão

a bênção duma compreensão

total

a certeza dum abrigo

num sorriso bom e amigo

permanente e atento

nos seus braços sempre abertos,

p’ra me receber em qualquer momento.

 

E como a luz coada pelos vitrais

a sua bondosa condescendência

e compaixão

o seu exemplo

de honra, trabalho e gratidão

de lealdade e simplicidade

tratando todos na sua essência

como iguais

e cada um como irmão.

 

Tal como a pedra

a sua força, a sua garra

o seu poder de luta

e até de escuta

o dar-se à família e aos amigos.

E à semelhança de paramentos

caros e antigos

o veludo supremo de nunca

mas nunca me ter magoado.

Por isso como um círio

gota a gota derramado

pelo meu rosto mais uma lágrima cai.

Muito obrigada, agora e sempre

QUERIDO PAI!