André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A cimeira da NATO, em Vilnius, na Lituânia, que ocorreu nos dias 11 e 12 de julho, deu mais um passo significativo na construção da nova arquitetura de defesa e segurança europeia como parte da nova ordem internacional, que se tem vindo a ser desenhada e a acelerar depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022.  Na verdade, passados mais de 500 dias de guerra na Ucrânia, a situação está próxima de um impasse estratégico, sem que qualquer dos contentores consiga avanços decisivos no campo de batalha. A Rússia não consegue ganhar a guerra e a Ucrânia não a pode perder.

A guerra tornou-se existencial para os dois lados: a Rússia, para quem a guerra desde o início se afigurou existencial (a Ucrânia não tem razão de existir com autonomia estratégica), não consegue ganhar a guerra, e ao não alcançar esse desiderato é visto como uma derrota político-estratégica para Putin, algo muito difícil digerir e acomodar pelo regime. Para a Ucrânia que foi invadida, a guerra tornou-se igualmente existencial, porque sendo certo que, dadas as disparidades de forças e meios, dificilmente a consegue vencer no campo de batalha convencional, mas que também não a pode perder, pois se isso viesse a acontecer seria o fim da Ucrânia com autonomia político-estratégica, por muito tempo.

Quanto muito, seria um Estado-tampão (buffer state), como aliás o foi no tempo da União Soviética, e como o é atualmente a Bielorrússia. Neste impasse, seria verosímil considerar que existe um espaço para se encontrar uma saída diplomática para o conflito. Todavia, uma solução dessa natureza ainda não é aceitável para a Rússia, que está longe de atingir os objetivos estratégicos que a levaram a invadir a Ucrânia. Aliás, a fórmula da paz seria fácil: ninguém duvida que, caso a Rússia entendesse retirar de imediato as suas tropas da Ucrânia, a guerra acabaria no dia seguinte, e nenhuma ameaça militar para a Rússia sucederia. Infelizmente, a “realpolitik” é bem mais complexa, pelo que ainda não se vislumbra uma janela de oportunidade para a diplomacia.

A cimeira da NATO de Vilnius, altera, pelo menos por muito tempo, a indivisibilidade da segurança e defesa europeias, que considerava que a Rússia seria parte integrante, para, doravante, passar a estar fora. E, consequentemente, a Ucrânia, deixa de ser vista como uma espécie de Estado-tampão, para passar a ser percecionada como a fronteira da Europa com a Rússia. A isso acresce, a entrada da Suécia na NATO, anunciada no início da cimeira de Vilnius, juntando-se assim à Finlândia, removidas que foram as objeções da Turquia e da Hungria, cujos parlamentos a deverão ratificar em breve.

É certo que a Ucrânia, não entra para já na NATO, e assim deverá continuar enquanto a guerra durar, para além de ter que cumprir outras exigências funcionais. Mas, fica mais clara a sua aproximação progressiva à NATO com a criação do novo Conselho Ucrânia-NATO.