Continuação:
Perante a atitude surpreendida de Ali Agat, a cabra explicou-se:
- Eu sou uma princesa moura, filha do emir de Al-Ulya. Como teve de fugir à pressa, quando o rei cristão entrou na nossa cidade, lançou-me um encanto, para eu ficar sempre de guarda aos seus tesouros.
- Como sei que não me estás a mentir? - respondeu Ali Agat, desconfiado.
- Vem comigo e verás! - disse a cabra, incitando-o a tomar uma vereda estreita.
Ali Agat seguiu a cabra por muito tempo. Depois de serpentearem pela vereda da serra, chegaram, à noitinha, à entrada de uma gruta, meio escondida por baixo de um grande arbusto.
- Baixa a cabeça e entra! - comandou ela, mas Ali Agat não queria entrar na gruta da cabra, sem saber o que viria depois. - Lá dentro vais conhecer tesouros como nunca imaginaste - insistiu ela.
Ainda desconfiado, o algarvio acabou por entrar. A gruta era espaçosa e profunda e o chão estava ladrilhado de alfarrobas de ouro.
- Uma por cada súbdito do meu pai - esclareceu a cabra -, mas ele fugiu há tanto tempo que já não deve vir buscar-me, nem livrar-me deste encanto. Só tu podes salvar-me. Basta dares-me um beijo. Quando mo deres, quebra-se o encanto e eu volto a ser a jovem princesa que era. Para isso, estou disposta a dar-te todo este ouro. Mas, com uma condição: tens de retirá-lo da gruta antes do nascer da lua.
Ali Agat, muito relutante, mas pensando como ficaria imensamente rico só por beijar uma cabra, acabou por aceitar. Apenas lhe deu um beijo na boca, ela transformou-se numa linda jovem, de belos cabelos negros e vestida com uma longa e leve “jelaba” verde-água. Ali Agat ficou encantado com a beleza da princesa, mas precisava apressar-se a recolher o ouro. Boa parte da noite entrou e saiu da gruta, carregando pesadas alfarrobas de ouro. Finalmente, quando, já cansado, arrastava a última alfarroba para fora da gruta e rejubilava com o sucesso, aconteceu o que temia: o grande halo prateado da lua já se erguia majestoso no céu escuro.
Continua...