António Dores, antonio.humberto.dores@gmail.com

O dia morre devagar, por trás dos prédios errantes

Onde o Sol vai descansar, passados alguns instantes…

 

A noite cai e o luar, ilumina o meu quarto escuro

Sonhando eu com o mar, é tudo o que agora procuro…

 

Baixo a persiana protectora, que me abriga do vento

Mas deixo a janela aberta, no verão do meu contentamento...

 

Os sons da noite amplificados, permitem-me perceber o Tempo

Pois o movimento não pára, dando Tempo ao próprio Tempo...

 

Tudo na rua é descoberta, e os bêbados da Cidade

Percorrem as ruas desertas, como vespas em ziguezague...

 

Os camiões do município, carregam às costas o lixo...

E tudo parece novo, mesmo no meu sonho de esquisso...

 

Sonho e imagino, a vida numa água-furtada

Deitado num velho colchão, olhando as estrelas do céu,

Esperando por uma nova alvorada...

 

Tudo é luz e poesia, os barcos dormem no cais,

Embalados na alegria, ao abrigo dos temporais...

 

Às vezes o vento sopra mais forte, crescendo a brisa amena,

Tremendo as persianas, ao ritmo de uma novena...

 

E eu assim meio adormecido, ouço os sons da noite escura,

Revelam segredos escondidos, dos espíritos errantes

Que vagueiam pela rua...

 

As almas sobem do poço, onde morreu essa Moura,

Que arrasta para o fundo, outros que agarra pela boca...

Tudo à noite serena, mas também se intensifica,

E a memória do sonho, repete-se pelos dias seguintes,

Ao sabor do que cá fica...

 

A noite já vai longa e a luz, teima em surgir de novo,

Para alimentar a fome, de se saborear um dia novo...

 

A luz principia a nascer, irrompendo a alvorada,

Fazendo o dia nascer, para uma nova madrugada...

 

A sã frescura da manhã, traz o cheiro da terra orvalhada,

E a noite a morrer, dá lugar ao novo dia,

Que nasce para uma nova madrugada, na luz em que se incendia...

 

Pela janela do meu quarto, ao ritmo da Avenida,

Entra-me o Cinema em casa, projectado pelo reposteiro,

Das persianas corridas...

 

A MADRUGADA é fascínio, é esperança e saudade,

Mas também é recordação, da ufana emoção,

Que se sente ao coração, quando se vive em LIBERDADE...!!...