Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Sua Mãe disse aos serventes: Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). A Páscoa em Loulé é jubilosamente celebrada com a presença da Mãe, a Santíssima Virgem da Piedade, a Senhora Soberana. A Piedade e o Culto cristão à Mãe Soberana, a Senhora da Piedade, dão lugar à maior romagem ao sul do Tejo, cuja origem remonta a tempos que se perderam na memória. A edificação da sua Ermida construída a expensas do serralheiro Bartolomeu Fernandes em 1553 faz já 469 anos. Esta piedade não é um sentimentalismo estéril ou expressão medíocre e infantil duma fé ou mesmo expressão de poeirenta religiosidade. Este culto não é profano ou vazio de conteúdo e de fundamento.

Aqui tocam-se, na verdade, a terra e o céu, o chão e as alturas, o finito e o infinito, o humano e o divino. Não favorece espaços divisórios e combativos entre o profano e o religioso. Num caminho em que se ascende, sobe-se cantando com o coração em festa ao ritmo de um jogo de música, selado pela alegria, expressão de busca e de mistério.

Conduz-se a Senhora num andor que majestosamente se eleva aos ombros de oito homens, expressão de um povo peregrino a lembrar David transportando em dança a arca da aliança para Jerusalém. Porque a Mãe, qual nova arca de aliança, como que se faz caminheira e acompanha, presente na bela e silenciosa imagem, carregando ao colo o Filho que afaga nos braços pronta a lançá-lo à terra cumprindo como Mãe fiel a Sua Palavra de o grão de trigo que lançado à terra morre para dar muito fruto.

Ainda hoje, mesmo tantos que dizem crer na Mãe e não se sentem tocados pela fé ou por crença em algum Deus, no mais profundo de si mesmos sabem quanto os habita a presença de um Mistério e de um sagrado que invadindo o coração também os impulsiona a novas estações protegidos e amparados pelo olhar doce da Mãe que os fita com seu olhar atento e terno. A Mãe é de todos e para todos. A Mãe escuta e dá colo, levanta e ampara.

A Mãe ensina e ajuda a recomeçar, a encontrar sentido. A Mãe é como a aurora que brilha sempre depois das noites de tempestade, como uma Estrela que sempre ilumina nosso  tumultuoso peregrinar. A todos esses dedico estas palavras que revisito: “Somos filhos de fontes cujas águas deixaram de escorrer./ Irredentos desse Mistério que fala tua Imagem de Vésperas./ Caminhamos anoitecidos pela ausência de céu e de crer./ A Santa vem visitar a Cidade, vem olhar de perto./ Descemos para podermos subir Contigo, a ladeira./ Tu nos chamas, debruçada sobre os nossos prantos, nossos medos./ Calam as palavras nos teus braços Imaculada Pureza/ E dorme um filho do homem que tua mão sustém a nos dar vida./ A outra que sobe ao coração, vem dar o Sol da Primavera/ A Luz que guardas em ti, o amor com que levantas os teus filhos./ Consola-nos saber que tu, Mãe, não dormes e não nos esqueces/ Também sentas ao teu colo os pródigos depois da tempestade/ Sedentos, bebemos das águas do teu olhar, Mãe Soberana/ E comemos trigo novo que amassas ao teu colo, Piedosa/ Até que seja Festa Grande em nossas vidas!”. Viva a Mãe Soberana!