Em pleno século XXI, há meia centena de povoações serranas do concelho de Castro Marim, no Algarve, que ainda não dispõem de água domiciliária tratada e onde o abastecimento é feito através de fontanários públicos ou furos dos próprios habitantes, mas onde nos últimos anos as dificuldades de abastecimento têm sido cada vez maiores, como disseram à agência Lusa as duas moradoras da povoação de Cerro do Enho.
O presidente da Câmara, Francisco Amaral, disse à Lusa que durante muitos anos o município esperou por fundos comunitários que pudessem ajudar a suportar o custo dos trabalhos, mas agora decidiu avançar “per si” com as obras para acabar com uma “injustiça” que tornava os habitantes “de segunda”, sem acesso a água potável.
A intervenção começou neste verão e em alguns locais, como Cerro do Enho, há já casas abastecidas, mas ainda não está prevista a data de conclusão da totalidade da operação, que será gradual e para desenvolver ao longo do mandato.
“As populações eram abastecidas de fontanários, a água não era tratada, não era potável, e a situação era deveras insustentável. Não dava para aguardar mais tempo por um hipotético financiamento comunitário”, afirmou o autarca, frisando que a autarquia vai fazer a “colocação de água domiciliária, com bombas doseadoras de cloro para tratar a água e torná-la potável”.
Francisco Amaral referiu estarem em causa “cerca de 1.000 pessoas que têm tanto ou mais direito de beber água potável do que as outras todas” e considerou que a situação atual “é quase um atentado, uma discriminação negativa” para os moradores, incluindo muitos idosos sem possibilidade de comprar água engarrafada.
“No fundo, estamos a ser justos e a fazer alguma justiça pelas nossas mãos, porque de facto estavam a ser tratados como castro-marinenses de segunda. Isto é básico, fornecer água à população é básico”, defendeu o autarca, considerando que “é quase desumano obrigar um idoso de 70 ou 80 anos ir buscar um baldinho de água a um fontanário, ainda por cima água não potável”.
Fernanda Cristino explicou à Lusa as dificuldades que tem sentido para conseguir ter água, sobretudo nos últimos anos, em que os fontanários e os furos existentes têm secado mais rápido.
“Sim, porque, pelo menos aqui, a bica não tinha água. Tínhamos que nos governar com um furo, que tenho a meias com as minhas cunhadas, mas que também está mal e tinha pouca água. E temos um depósito aí que vinha carradas de água da Câmara”, respondeu Fernanda, ao ser questionada sobre se a chegada da água potável a casa é positiva.
A moradora espera que a conclusão da obra ajude a melhorar as condições de vida, depois de anos a governar-se “mal”, sobretudo devido aos problemas de saúde sentidos numa das pernas, o que complica ainda mais o transporte de água dos fontanários até casa.
Maria Romão também disse à Lusa que a situação tem “sido difícil”, até porque muitas vezes não podia ir buscar água, já que “a idade não ajuda”.
“Mas agora já estou satisfeita, porque o senhor presidente pôs a água e estamos contentes com o trabalho que ele fez”, afirmou, frisando também que a água é um bem muito necessário.
Por: Lusa