Por Paolo Funassi | email: funassi@libero.it

A três meses das eleições, é urgente refletir sobre o verdadeiro impacto do Código de Comportamento Municipal — e sobre quem realmente está a falhar com a cidade.

Recentemente, o novo Código de Comportamento foi aprovado com apoio de todos os partidos políticos na Assembleia Municipal de Albufeira, após já ter sido aprovado por unanimidade na Câmara Municipal. Este raro consenso político merece uma análise mais profunda, sobretudo por ter ocorrido a escassos três meses das eleições autárquicas. Fiz essa observação na própria Assembleia, e o Senhor Presidente da Câmara respondeu prontamente, afirmando que a iniciativa “nada tem a ver com as eleições”. Por uma questão de rigor, deixo aqui também registada essa resposta.

Contudo, a proximidade do calendário eleitoral não é o único ponto importante. Mais grave é o facto de o Código ter sido votado sem qualquer estudo de impacto económico. Quando se legisla sobre atividades que sustentam milhares de postos de trabalho e que representam a base económica de um concelho, não se pode fazê-lo sem dados concretos. Também pedi um parecer jurídico sobre o conteúdo do Código, pois há disposições que suscitam legítimas dúvidas quanto à sua constitucionalidade.

É igualmente injusto e até perigoso que se procure responsabilizar os bares ou os turistas pelos problemas de ordem pública ou de limpeza urbana. Albufeira é uma potência turística e económica graças aos visitantes que nos escolhem — e que, na sua esmagadora maioria (diria mesmo 99,99%), se comportam exemplarmente. Os turistas que aqui passam férias tornam-se embaixadores da nossa cidade, divulgando pelo mundo o que de melhor temos para oferecer.

Os empresários locais — donos de bares, restaurantes, hotéis, empresas de transferes — não são parte do problema, mas sim da solução. São os primeiros a pedir mais segurança, limpeza e ordem na cidade. Investem milhões de euros todos os anos, geram riqueza e oferecem emprego a milhares de famílias. Precisam de apoio, não de regulamentação cega ou de culpabilização sistemática.

A verdade é que quem tem falhado é o setor público. Vejamos: ruas mal cuidadas, ervas por cortar, recolha de lixo insuficiente, calçadas sujas ou partidas, escassez de policiamento. Estes são sinais claros de que o problema não está em quem visita a cidade ou investe nela, mas sim em quem deveria geri-la com competência. Se queremos um turismo de qualidade, temos de começar por oferecer uma cidade à altura dessa exigência — mas sem destruir o que já funciona bem.

Muito se tem dito sobre a Rua da Oura, como se fosse um “problema”. A realidade é bem diferente: até à meia-noite, vêem-se famílias inteiras a passear tranquilamente. Depois, é natural que cheguem os jovens, à procura de diversão noturna. Os estabelecimentos estão limpos, seguros e bem geridos. Quem consome álcool fá-lo de forma consciente, e a maioria não causa distúrbios. Confundir animação noturna com desordem generalizada é um erro de diagnóstico que pode custar caro à imagem de Albufeira.

O que queremos para o futuro da cidade? Um modelo de turismo assente em dois cafés e uma garrafa de água numa esplanada durante duas horas não sustenta o concelho, nem garante emprego a ninguém. Se Albufeira estivesse “mal”, como alguns sugerem, os preços dos imóveis não teriam duplicado e o número de visitantes não continuaria a crescer. Estes são dados objetivos que desmentem o discurso do pessimismo.

Como gestor das redes sociais mais seguidas da cidade, conheço bem o impacto da perceção pública. Um vídeo de uma briga tem sempre mais visualizações do que uma imagem de uma família a passear à beira-mar. Mas é nossa responsabilidade mostrar a realidade como ela é — e 99,99% do que acontece em Albufeira é positivo. Recusamos alimentar narrativas alarmistas baseadas em episódios isolados que, nas redes sociais, parecem ser a norma.

Albufeira não pode ser vítima do seu próprio sucesso. Precisa de políticas equilibradas, de decisões baseadas em factos, de escuta ativa ao setor privado e de respeito por quem cá vive, investe e trabalha. Em vez de apontar o dedo aos que fazem Albufeira crescer, o poder político deve começar por cumprir as suas responsabilidades básicas. E lembrar-se que qualidade de vida e sucesso turístico não se alcançam com códigos aprovados à pressa, mas com visão, planeamento e coragem para ouvir.