O Estabelecimento Prisional de Olhão vai ter, a partir de hoje, uma nova ala dedicada à formação escolar e profissional, construída de raiz com mão-de-obra prisional e cujo projeto de arquitetura foi elaborado por um guarda prisional.

Na cerimónia de inauguração, a ministra da Justiça elogiou a colaboração entre as várias pessoas e entidades envolvidas na concrertização do projeto, defendendo que este é um modelo que deve ser replicado noutras zonas do país, pois o Estado "não pode fazer tudo", só por si.

"Pretendeu-se criar uma área diferenciada para os presos em regime aberto, separando-os dos que estão em regme fechado, criando-lhes um espaço autónomo e, por outro lado, pretendeu-se também aumentar uma valência, que tem a ver com a formação, que era feita no interior, num espaço multiusos", referiu Francisca Van Dunem.

O novo edifício é composto por uma sala de aulas, uma sala para refeições, um pátio exterior e ainda uma camarata com seis camas, que passará a ser usada pelos reclusos do estabelecimento que estão em regime aberto, atualmente nove, sendo que dois têm atividades profissionais fora da prisão.

"O mais importante é capacitar as pessoas para uma vida profissional com uma formação que lhes permita, uma vez em liberdade, reiniciar uma vida profissional como qualquer outra pessoa", declarou a ministra aos jornalistas, à margem da inauguração.

Francisca Van Dunem foi surpreendida com a oferta de um quadro com um retrato seu, pintado por um recluso, a quem agradeceu e com quem trocou algumas palavras.

José Leonardo, de 56 anos, já cumpriu um ano e meio de uma pena de prisão de cinco anos, em regime fechado, entretendo-se a fazer desenhos e a reproduzir quadros de pintores como Kandinsky, Miró ou Dali.

O recluso, que decorou também as paredes da sala de aulas com uma imagem do poeta António Aleixo e com versos seus, contou aos jornalistas que se baseou numa fotocópia de uma fotografia da governante para fazer o retrato.

"Sou uma fotocopiadora", gracejou, tendo os jornalistas perguntado se tinha sido condenado por copiar quadros famosos, ao que José Leonardo respondeu que as suas "especialidades" eram outras.

A cadeia de Olhão tem 61 reclusos, mais dez do que a sua capacidade de lotação, sendo que mais de 60% da população prisional frequenta ações de formação profissional ou escolares.

 

Por Lusa