Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com
Caríssimos Camelos, estimados irmãos,
 
Sempre que vindes ao meu pensamento, como se tratasse de algo inato, contemplo em vós o sentido profundo da viagem da vida. Por isso, nestes inícios de um novo Ano vos escrevo com amizade pelo que representais. Sempre que vos recordo, não posso esquecer da minha memória de criança uma antiga e bela canção que me falava de um tal Areias que era camelo, tinha duas boças e muito pelo, patas altas, andar mexido, muito alto e refilão, engraçado e espertalhão. Um Areias que estava num jardim para a gente ver e que virara canção. Por causa desse Areias viajei com a família até Lisboa, quase o fim do mundo no meu olhar de criança, para o ver. E vivi no espanto um dos momentos mágicos da minha vida.
 
Ainda hoje me recordais que a vida é uma viagem árdua e desafiadora. Dia após dia, temos um longo caminho a percorrer, que temos de seguir com fé e esperança. Um dos vossos traços mais marcantes é a vossa resiliência. Conseguis suportar longos períodos sem água, mantendo-vos fortes e firmes mesmo nas condições mais adversas.
 
Esse aspeto da vossa natureza me ensina a importância de cultivar a resiliência na minha própria vida, para que possa enfrentar os desafios com coragem e determinação. Por isso, não admira, que durante séculos, fostes animais escolhidos para longas expedições que envolvessem condições adversas e sempre soubestes enfrentar desafios de longas distâncias e terrenos árduos, ensinando-nos a força, a proteção e a perseverança. A vossa perseverança é exemplar. Mesmo diante de obstáculos aparentemente intransponíveis, seguis sempre em frente, passo a passo, sem desistir. Essa característica deve inspirar-nos a sabermos persistir nos nossos objetivos, mesmo quando o caminho parece difícil, lembrando-nos de que a jornada é tão importante quanto o destino. Sois, na verdade, guias eficazes para os caminhos que devemos seguir nas nossas vidas. Como não lembrar que também fostes vós que conduzistes outrora com nobreza e humildade uns Magos ao Presépio em Belém? Ainda hoje, continuais a ser animais majestosos e cheios de simbolismo espiritual.
 
Além disso, sois conhecidos pela vossa habilidade de armazenar água em vossos corpos, um verdadeiro milagre da natureza. Essa capacidade permite que sobrevivais em regiões áridas e escassas de recursos hídricos. Esse aspeto simboliza a importância de sabermos nos preparar para os momentos de escassez, seja física, emocional ou espiritual, garantindo que tenhamos reservas físicas e espirituais para os períodos mais difíceis na nossa vida. Também sois conhecidos pela vossa capacidade de carregar grandes cargas por longas distâncias.
 
Essa vossa habilidade representa a importância de aprendermos a ser capazes de suportar o peso da vida, carregando as nossas responsabilidades e desafios com dignidade e força. Vós camelos nos ensinais que devemos aprender a distribuir o peso de forma equilibrada, evitando sobrecarregar-nos e mantendo-nos firmes em nosso propósito. Sois, na verdade, muito mais do que simples animais do deserto. Representais valores e significados profundos que podem nos inspirar na nossa jornada espiritual e pessoal. Ao incorporarmos a resiliência, a perseverança, a capacidade de armazenar e sustentar, podemos aprender convosco neste Ano que inicia a enfrentar os desafios da vida com sabedoria e coragem.