Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

Caríssimos Camaleões, estimados irmãos,
 Há quem diga que vós sois criaturas oportunistas. Mudais de cor ao sabor do ambiente, vos adaptais ao que vos rodeia com uma maestria silenciosa, como quem se dissolve no mundo para não ser notado, ou para ser exatamente o que o mundo espera. Sois mestres da adaptação, discretos contadores de histórias sem palavras.

 Também nós, os humanos, vivemos em tempos onde a coerência é elogiada, mas a flexibilidade é exigida. Mudamos de tom consoante o interlocutor, vestimos máscaras conforme o palco, afinamos o discurso para agradar ou para evitar confronto. E tudo isso com uma naturalidade inquietante. Será sobrevivência? Ou apenas hábito?

 Vós camaleões não mudais de cor por capricho. É um mecanismo de defesa, de comunicação, de sobrevivência. Tal como nós. Fingimos segurança para esconder o medo, exibimos sorrisos que não sentimos, e concordamos em silêncio para evitar discussões que nos cansam. Somos camaleões emocionais, não porque queremos enganar, mas porque temos medo de ser devorados pela sinceridade.

 E é neste paradoxo que mora o drama humano: a busca incessante por autenticidade num mundo que nos ensina a camuflagem. Vivemos, na verdade, numa época em que ser autêntico virou ato de coragem. Numa sociedade onde a aparência muitas vezes vale mais que o conteúdo, vestir-se de acordo com o ambiente, alinhar discurso com a plateia e esconder vulnerabilidades se tornou quase instinto de sobrevivência.

 Tal como o camaleão, mudamos de tom para nos proteger, para sermos aceites, para evitar o conflito. Um sorriso em reuniões, um silêncio em jantares de família, um “está tudo bem” dito com cor neutra, mesmo quando tudo lá dentro está em tons de tempestade.

 O ser humano moderno é, por excelência, um camaleão urbano. No trabalho, pinta-se de competência e serenidade. Em casa, talvez de cansaço e dúvida. Nas redes sociais, uma paleta vibrante de sucesso, alegria e filtros. Tal como o camaleão, que precisa de controle muscular e visão aguçada para se adequar, nós também calibramos emoções, palavras, até memórias, para caber no contexto.

 Mas há um risco em camuflar-se por demasiado tempo: esquecer a cor original. Quando mudamos tantas vezes para agradar, adaptamos tanto o discurso que deixamos de saber o que realmente pensamos. E, como camaleões sem espelho, já não conseguimos lembrar quem somos sem os olhos dos outros.

 Talvez a lição dos camaleões não seja apenas sobre adaptação, mas também sobre pausa. Eles se movem devagar, com precisão. Talvez o que nos falte seja isso: parar antes de mudar de cor, olhar em volta e perguntar: é mesmo necessário ou estou apenas a desaparecer de mim?

 Talvez a coragem maior seja, em certos momentos, manter a nossa cor, mesmo que desentoe do cenário. Talvez seja esse o verdadeiro ato de coragem: parar de ser camaleão por um instante e, finalmente, ser apenas humano.