A sala de descabeço do Museu de Portimão foi pequena na tarde do dia 22 de setembro, para o lançamento do catálogo relativo à exposição «Histórias que o rio nos traz», que está patente até 3 de novembro próximo.

A cerimónia contou com as presenças de Rui Parreira, arqueólogo, ex-diretor dos serviços de Bens Culturais da Direção Regional de Cultura do Algarve e membro do GAMP - Grupo de Amigos do Museu de Portimão, Vera Teixeira de Freitas, arqueóloga do Museu de Portimão, e Isabel Soares, ambas diretoras do projeto DETDA, , José Sousa, presidente e um dos fundadores da Associação Projeto IPSIIS, José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão e um dos comissários da exposição, Sandra Pereira, vereadora da Câmara Municipal de Portimão e alguns comissários científicos e investigadores.

 

Ponto de acesso ao interior algarvio

Nas suas 222 páginas, o catálogo reúne informações detalhadas e devidamente ilustradas sobre o resultado da investigação científica efetuada nas últimas décadas, que resgatou fragmentos do passado da cidade agrupados na exposição atualmente patente no Museu, dando a conhecer muitas histórias sobre o Arade, que desde a Antiguidade foi um ponto de acesso ao interior algarvio, devido às excelentes condições de porto de abrigo natural do seu estuário e se inseriu numa extensa rede de intercâmbios comerciais e culturais.

Ao longo dos séculos, a navegação no Arade enfrentou desafios, como o assoreamento, que exigiu dragagens extensivas, visando garantir a navegabilidade e a segurança das embarcações, mas que resultou na destruição de contextos arqueológicos submersos. No entanto, os sedimentos dragados revelaram um tesouro de objetos históricos que, de outra forma, permaneceriam esquecidos.

Graças à dedicação da Associação Projeto IPSIIS e à parceria com o Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, o Museu de Portimão pôde desenvolver o projeto de investigação DETDA - Prospeção com detetores de metais nos depósitos de dragados do rio Arade e da ria de Alvor, redundando na recuperação e preservação de bens arqueológicos descontextualizados, devidamente salvaguardados.

Como consequência desse trabalho, a exposição "Histórias que o Rio nos Traz" propõe uma narrativa visual fascinante através das atividades navais, comerciais e de defesa do porto, vida ribeirinha e memórias sagradas o rio Arade, reforçada por ilustrações detalhadas, facilitando a compreensão do seu contexto histórico.

 

A tecnologia ao serviço da memória

Na sua intervenção, Vera Teixeira de Freitas destacou que o inovador projeto DETDA associa as práticas de detectorismo recreativo à aplicação científica da informação recolhida, culminando com a incorporação dos bens arqueológicos em coleções museológicas.

“Foi assim possível o uso cientificamente orientado dos aparelhos de deteção de metais, garantindo a recolha de informação e a referenciação de cada achado, o que possibilitou reconstituir um pouco da história das relações desta região com outras paragens, sendo que a coordenação do projeto por parte do Museu de Portimão constitui uma garantia de que estes bens arqueológicos se encontram disponíveis para fruição pública”, garantiu a responsável, que considerou a colaboração entre as entidades participantes no processo “um exemplo prático do envolvimento da sociedade civil na salvaguarda, conservação e divulgação de informação patrimonial histórica.”

Desde 2014 realizaram-se sete campanhas do projeto DETDA, que resultaram no depósito de mais de 1500 peças arqueológicas no Museu de Portimão, “as quais apresentam uma grande variabilidade de tipos e de cronologia, considerando que resultam da destruição de inúmeros contextos arqueológicos subaquáticos, conservados maioritariamente no rio Arade, que representa uma verdadeira cápsula do tempo, em resultado da atividade marítima e portuária aí decorrente ao longo de milénios, realçou Vera Freitas.

Nas suas palavras, este catálogo resulta de um trabalho efetuado ao longo de décadas, no qual participaram inúmeros colaboradores, tanto detectoristas como investigadores, o que demonstra como esta parceria, sob certas condições e devidamente enquadrada, pode ser profícua e benéfica para ambas as partes, contribuindo para a salvaguarda e divulgação do património, bem como para o avanço da investigação arqueológica.”