Na origem do protesto estão as incertezas que os mais de 40 trabalhadores e sindicatos têm quanto ao futuro da empresa, que, nos últimos três meses, tem tido falta de matérias-primas para laboração e chegou a ter dois meses de salários em atraso para alguns trabalhadores, situação que foi entretanto resolvida, como explicou à Lusa uma funcionária.
Durante este tempo, tanto trabalhadores como o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul (SITE-Sul) “têm tentado por diversas vezes falar com a administração, sem sucesso” e na “terça-feira, já depois de a maioria dos trabalhadores ter acabado o serviço, foi afixado um edital na porta da empresa a informar que a mesma estava sob Processo Especial de Revitalização”, disse fonte sindical.
Jorge Leal, com 43 anos e 24 de trabalho na empresa, disse que os trabalhadores souberam que a empresa “tinha cessado a laboração” por telefone e aguardam a visita da administradora judicial designada, que foi adiada para a tarde, para perceber o que o futuro lhes reserva.
“Nunca tínhamos passado por uma situação destas, sempre foi uma empresa com muito trabalho, com os ordenados a tempo e horas, e não esperávamos isto”, confessou Conceição Nóia, frisando que os problemas começaram “há uns três meses” e a falta de resposta da administração está a “deixar as pessoas mais angustiadas”.
Conceição Nóia, que está na empresa há 42 anos, disse ainda que um eventual encerramento lhe “causaria grandes transtornos”, numa economia familiar em que o ordenado mínimo que recebe é complementado com salário do marido e há filhos a cargo.
“Tínhamos uma carteira cheia de clientes e desapareceu tudo, não há papel, não há material. Retiraram uma máquina de duas cores, que já tinha algum tempo, mas ainda trabalhava, perguntamos o por quê da retirada da máquina e não nos responderam, disseram que como já tínhamos os ordenados em dia não tínhamos nada a ver com isso”, lamentou.
Aldina Leal, que também já está na empresa há 42 anos, criticou o facto de haver “90 pastas com pedidos de trabalho” e não haver materiais, como papel, para produzir, por exemplo, rótulos para empresas como a Vitalis, a Sumol ou a Unicer e para exportação.
“Para Moçambique eram milhões e milhões de rótulos para cervejas, águas. Também trabalhávamos para Angola ou Madagáscar”, acrescentou, recordando os “três turnos de 24 horas por dia” que os trabalhadores fizeram para acabar a encomenda a tempo.
“Isto está a acontecer não por culpa dos trabalhadores, que estão todos os dias a cumprir horários das 06:00 às 14:00 da tarde, há três meses, sem fazer nada”, lamentou, frisando que há clientes a “pedirem já as películas para enviar a outras gráficas e continuarem os trabalhos com outras empresas”.
Por Lusa