À porta do pavilhão da sede de concelho do distrito de Faro, o presidente da Câmara de Castro Marim, Francisco Amaral, explicou à agência Lusa que as dificuldades para fazer rastreio epidemiológico contribuíram para o aumento dos casos de covid-19 no concelho e, por isso, a autarquia decidiu avançar com a testagem massiva da população com a “supervisão técnica” do delegado local de saúde.
“Somos o concelho do Algarve com maior incidência e quando nós começámos a perceber que tínhamos quatro casos de infeção confirmados e apenas um contacto em isolamento, percebemos que algo estava a correr bem, porque o normal seria um caso de infeção e quatro em isolamento”, exemplificou, frisando que na primeira hora e meia “já tinha sido detetado um positivo”.
O autarca criticou a autoridade de saúde regional por “ter desvalorizado” a iniciativa da câmara, que “não podia continuar a ver pessoas jovens morrer e o crescimento exponencial de casos sem fazer nada”, e por isso a autarquia decidiu avançar com a testagem, que será feita por marcação prévia e vai abranger cerca de 800 pessoas durante o fim de semana, trabalho que será “repetido nos próximos fins de semana” e será também levado às populações isoladas da parte serrana do concelho.
“A delegada regional de Saúde [Ana Cristina Guerreiro] disse ontem [sexta-feira] na conferência de imprensa regional que não sabia bem o que estava em causa, pois devia informar-se”, criticou o autarca, frisando que a testagem em curso está a ser feita com o apoio de profissionais da área da saúde que se voluntariaram para apoiar a autarquia na testagem à população.
Entre esses profissionais está Pedro Ribeiro, dentista que trabalha no concelho de Vila Real de Santo António e explicou à Lusa que não podia ficar parado sem fazer nada quando os casos de pandemia estão a aumentar no concelho.
“Nós, profissionais que estamos aptos a fazer este tipo de operações, estamos a libertar outros profissionais para poderem estar no campo de batalha e, dessa forma, contribuirmos para triar o maior número de pessoas, separar positivos de negativos, quebrar cadeias de contágio e tentarmos reduzir os números a montante para evitar aglomerações nos hospitais”, afirmou Pedro Ribeiro.
A estratégia passa por “estancar o problema mais cedo” e “espero que, usando o léxico viral, esta iniciativa se replique pelo país”, acrescentou.
A mesma fonte frisou que foram feitas “pré-marcações para evitar a aglomerações de pessoas”, que “não se estão a verificar” e “não há concentrações de pessoas à porta”, com as pessoas a dirigirem-se faseadamente.
“Temos um técnico de saúde que faz a colheita nasofaríngica, outra faz a leitura do teste e a preparação de pipetas, outra faz a desinfeção do nosso fato e trocamos luvas, outra insere os dados no computador, para depois serem comunicados” às entidades oficiais, explicou sobre o procedimento a adotar nos dois postos “drive-thru” e nos “três walk-in” instalados no pavilhão.
Patrícia Sousa foi uma das pessoas com marcação feita para a manhã de hoje e, após entrar no parque de estacionamento para fazer teste no “drive-thru”, considerou que esta “é uma boa iniciativa da câmara” e vai contribuir “para todos ficarem mais descansados”.
“Ficamos a saber em que situação estamos. Têm sido semanas muito complicadas e nem toda a gente tem dinheiro para poder fazer testes por sua conta”, afirmou esta mãe, que se deslocou ao ponto de testagem na companhia da filha.
Alexandra Cavaco também disse à Lusa que tinha “feito a marcação” e classificou a iniciativa da autarquia como “fantástica e de louvar”, num concelho que, segundo os últimos dados sobre a incidência acumulada a 14 dias, contabilizava 2.517 casos por 100.000 habitante, reportados entre 20 de janeiro e 02 de fevereiro.