O encontro, que se iniciou com uma exposição de representantes das empresas de prospeção (Repsol, ENI, Galp, Partex e Portfuel), foi várias vezes interrompido pela audiência, o que obrigou o presidente da ENMC, Paulo Carmona, a ameaçar terminar a sessão antes do final da reunião.
“É preciso acabar com as ideias preconcebidas”, disse Paulo Carmona, acrescentando que “não há país que tenha descoberto recursos energéticos e que não os tenha explorado, e claro que temos de ter cuidado com os aspetos ambientais”.
O presidente da ENMC insistiu que, nesta fase de prospeção e pesquisa, não há quaisquer riscos ambientais, apenas se for encontrado petróleo ou gás natural, e se passar para uma fase de exploração, é que será necessária a realização de uma consulta pública e estudo de impacto ambiental.
“Portugal não é um país rico e queremos o desenvolvimento dos nossos recursos naturais de uma forma sustentável”, declarou Paulo Carmona.
Vários representantes das empresas de prospeção garantiram que as normas ambientais europeias, “muito rigorosas”, estão a ser respeitadas.
O representante da empresa italiana ENI foi vaiado pelo auditório, que na sua maioria era formado por ambientalistas, quando defendeu a importância da energia para abastecer os aviões que trazem milhões de turistas ao Algarve ou os barcos de pesca, outra atividade económica importante para a região.
Vários presidentes de municípios algarvios manifestaram também o seu grande receio pelos “efeitos nefastos” que a exploração de petróleo pode ter para o turismo, uma atividade económica central no desenvolvimento da região.
Os autarcas criticaram ainda o facto de não terem sido consultados ou informados aquando da assinatura de contratos entre o estado português e as empresas de prospeção.
“Não estão previstas consultas públicas para este tipo de sondagens, assim como não estão previstas para os furos de água”, disse Paulo Carmona.
Os ambientalistas, muitos deles de países europeus que vivem no Algarve, mostraram durante o debate cartões vermelhos quando não concordavam com o que era dito e alguns tinham ainda cartazes com palavras de ordem como “o petróleo mata o ambiente e a economia local”, “abram os olhos” ou “queremos as energias renováveis”.
Os membros da Plataforma para o Algarve Livre de Petróleo, de Tavira em Transição ou da Associação dos Surfistas e Atividades Marítimas do Algarve, manifestaram o seu receio com o impacto ambiental negativo e as implicações para a saúde pública de todas as atividades relacionadas com a pesquisa, prospeção ou exploração de petróleo e gás natural.
De acordo com informação publicada no sítio de Internet da ENMC, em mar alto, no Algarve, foram adjudicadas quatro concessões, atualmente todas detidas pelo consórcio Repsol/Partex.
As concessões, classificadas como "deep offshore" (em mar alto), estão distribuídas pelas áreas denominadas "Sapateira" e "Caranguejo", no Barlavento (Oeste algarvio), e nas áreas "Lagosta" e "Lagostim", no Sotavento (Leste).
Para a prospeção e eventual exploração de petróleo em terra ("onshore"), foram assinados em setembro passado contratos para duas áreas de concessão, Aljezur e Tavira, com a empresa Portfuel, Petróleos e Gás de Portugal Lda.
Por Lusa