A 19ª edição dos Dias Medievais de Castro Marim está a chegar e com ela todo o fascínio desta época, repleta de magia e de fantástico. De 24 a 28 de agosto, a vila de Castro Marim regressa à Idade Média, na sua multiplicidade e contradições, simultaneamente bárbara e culta, palco de decisivos acontecimentos históricos e de magníficas produções culturais e artísticas.

A Voz do Algarve – Os Dias Medievais de Castro Marim já se realizam há 19 anos consecutivos. Como surgiu esta Feira? E qual a ligação desta feira à história de Castro Marim?
 

Filomena Sintra – Existem elementos distintivos na história de Castro Marim em relação a outros concelhos do Algarve. A exemplo, a instalação da primeira sede da Ordem de Cristo no Castelo de Castro Marim, por volta do ano de 1319, por determinação do Rei D. Dinis, terá passado por aqui o Infante Henrique, no período dos Descobrimentos… Castro Marim, durante todo esse período medieval, terá sido palco de importantes batalhas e de passagem de personalidades determinantes na história do nosso Reino.

 

V.A. – Como se tem revelado a evolução deste evento ao longo destes anos?

F.S. – Para além de ser um evento que tem contribuído para um elevar da auto estima da população local, tem contribuído para o dignificar, o relevar, o projetar a imagem e o nome de Castro Marim. Atrair muita gente que desconhecia o território, às vezes até a localização deste concelho e da sua localização relativa às praias da Alagoa (Altura), Praia Verde e Praia do Cabeço, e tem sido um processo que tem resultado em muita aprendizagem, muito envolvimento dos colaboradores do município, das coletividades. Sentimos, a cada ano, que existe uma maior envolvência e motivação dos residentes e das instituições locais no próprio evento.

 

V.A. – Quais as novidades da edição deste ano?

F.S. – Continuaremos a alargar o perímetro da feira, de uma forma medida e ponderada. A nível dos grupos de animação, fizemos algumas novas apostas e tentaremos dar uma maior projeção aos banquetes e maior foco às atividades desenvolvidas no castelo, que é, sem dúvida, o verdadeiro palco dos Dias Medievais. As pessoas que vêm a Castro Marim podem vir ao perímetro do evento, que está delimitado e que integra o Forte de S. Sebastião, o Castelo e as ruas da vila, mas o verdadeiro palco, o cenário que se aproxima mais ao Medieval, acontece dentro do Castelo e é aí que vamos ter outras atividades mais focadas na recriação histórica. Outra das novidades este ano é a nossa ligação à Ordem Templária, vamos tentar dar um destaque à criação da Comendadoria da Ordem de Santiago, que aconteceu este ano, e vamos ter também palcos de atividades para crianças. Já tínhamos, mas não de uma forma tão delineada. Nesta edição voltamos a lançar o repto a um jovem castromarinense para fazer o seu desenho, que depois nós trataríamos da conceção gráfica. É uma forma, também, de elevar o nome dos jovens artistas com o grande nome que os Dias Medievais já têm.

 

V.A. – Quanto tempo e quantas pessoas requer a preparação desta Feira Medieval? 

F.S. – No fundo, de ano para ano, estamos sempre a trabalhar. Acabamos o evento num ano, monitorizamos um conjunto de ocorrências, umas boas, outras menos boas, uma série de sugestões que nos ocorrem durante a realização do evento e, a partir daí, começam-se a construir coisas que não se veem. Por exemplo criar uma imagem dos Medievais acontece com largos meses de antecedência, embora só nos últimos dois meses se sinta a “máquina” mais ligada ao evento, a máquina administrativa, a máquina técnica e dos colaboradores do município e da empresa municipal. No entanto, há um conjunto de pessoas que está a trabalhar sistematicamente, nomeadamente alguns grupos de animação aos quais é pedida alguma inovação. A exemplo, há um grupo que está a fazer trajes durante todo o ano. Outra parte da recriação é feita pela teatroteca da Escola de Castro Marim e também estão a trabalhar durante o período escolar.

 

V.A. – Como se mantém o rigor de uma Feira Medieval?

F.S. –O rigor de uma feira medieval mantem-se com muita obstinação, com muito pulso firme, porque toda a gente acha que tem condições para participar e contribuir para o evento e muitas vezes falta a sensibilidade de que a qualidade e autenticidade a todos beneficia. Nós queremos distinguir-nos, ao longo dos anos, pelo rigor e pela qualidade. Nem toda a gente, vendedores, associações ou participantes individuais, compreendem isso, o que gera, muitas vezes, pequenas particularidades na gestão de conflitos, que nos agastam um bocadinho. Mesmo assim, às vezes temos que ceder, porque as pessoas não conseguem aproximar-se do nosso desígnio. Quanto maior for o rigor, maior será também a nossa distinção em relação a outros eventos. No fundo, acabamos todos por ser prejudicados quando não se prima pelo rigor na recriação histórica, seja medieval, romana ou contemporânea.

 

V.A. – Os Dias Medievais de Castro Marim contribuem para reavivar a história deste Concelho junto da população mais jovem? Qual a envolvência dos jovens com esta Feira?

F.S. – Por um lado existe a participação do Agrupamento de Escolas, que é um acontecimento relativamente recente nestas edições dos Medievais. Atualmente participam cerca de 60 elementos do Agrupamento de Escolas de Castro Marim, tanto no desfile, como, às vezes, na representação teatral e depois na deambulação diária pelas ruas de Castro Marim e pelo Castelo. Existem também associações emergentes, nomeadamente desportivas, que também já participam com espaços, de restauração e bebidas, e com concursos de desenhos para crianças, reabilitação de algumas casas antigas para instalação de estabelecimentos temporários de restauração. Tem havido uma aproximação desses jovens ao evento. Por outro lado, temos os jovens que trabalham no próprio evento e aqueles jovens do concelho que nos visitam já em grupo, como poderiam fazer num qualquer espaço de animação noturna. Este ano também temos uma parceria com os escuteiros de Vila Real de St. António e a Paróquia de Castro Marim. Portanto, tem havido um crescendo da participação dos jovens pelas mais diversas formas.

 

V.A. – Qual o investimento que implica um evento como os Dias Medievais de Castro Marim? E qual o retorno? É um evento com sustentabilidade futura?

F.S. – Quando analisamos a sustentabilidade, devemos pensar se é a sustentabilidade financeira ou económica que nos preocupa. A sustentabilidade económica mede-se por diferentes fatores, quantitativos e qualitativos, e alguns difíceis de elencar no imediato, pelos seus efeitos indiretos. Os Dias Medievais têm reduzido bastante o défice entre o custo direto e a receita, primeiro porque temos investido bastante nas vendas do banquete e passámos a cobrar no perímetro do mercado medieval… temos tido uma preocupação no controlo de custos, mas nunca reduzindo a qualidade. Eu acho que os Dias Medievais de Castro Marim serão, sem dúvida, o evento do país que mais investe em grupos de animação com autenticidade e aproximação áquilo que é o período que nós queremos recriar, que é o período medieval. Ainda não estamos naquele ponto em que possamos dizer que tudo o que gastamos é compensado diretamente por aquilo que recebemos, mas também é certo que, das cerca de 18 entidades que participam no evento, todas as receitas dos seus bares e restauração são a seu benefício próprio, ou seja, são entidades para as quais nós contribuímos que aumentem a sua receita própria e dessa forma também ajudamos a que tenham uma nova dinâmica ao longo do ano com o seu plano de atividades. Portanto eu sou aquela voz que acha que o evento é sustentável e tem um retorno direto e indireto. Também é preciso dizer que os artesãos que estão no evento são pessoas, na sua maioria, de idade avançada, que não têm outras formas de rendimento, muitas vezes sobrevivem com pensões mínimas, e esta promoção ajuda-os! Tal como os honorários dos colaboradores do município, que trabalham no evento, conseguem, quase, um vencimento extra com a sua participação nos Dias Medievais. Todas as empresas que colaboram na montagem, desmontagem dos sistemas de eletricidade, são tudo empresas locais, portanto existe um alocar de dinheiros públicos naquilo que é a nossa economia local.

 

V.A. – Sendo esta Feira um dos grandes atrativos de Castro Marim, com a particularidade de decorrer em plena época balnear, como tem vindo a ser feita a sua divulgação junto do público estrangeiro, cativando assim uma boa porção do turismo existente no Algarve?

F.S. – O nosso tipo de turismo de verão é, na sua generalidade, de nacionalidade portuguesa, mas nós temos assumido uma forte política de promoção no mercado espanhol e temos sentido um aumento significativo do número de visitantes dos vizinhos de Andaluzia. Temos que nos lembrar sistematicamente que se fizermos uma reta equidistante de Castro Marim a Faro ou de Castro Marim a Huelva, o número de pessoas que podemos captar é claramente maior do lado espanhol. Nós deveríamos reforçar ainda mais a promoção dos Dias Medievais, no entanto isso também significa investimentos para os quais nós temos que fazer um balanço, se temos capacidade de ter maior lotação de pessoas em Castro Marim. Estamos num ponto em que existe uma grande procura, já aumentámos o número de dias, já temos 5 dias de evento. Se queremos muito mais gente, também temos que criar outras condições. Portanto, acho que estamos num ponto de equilíbrio bom, precisamos é de projetá-lo e conseguir que as pessoas que vêm consigam fazer a distinção do evento de Castro Marim com os demais e sentirem vontade de regressar.

 

V. A. – Têm vindo a surgir no Algarve outras Feiras com características Medievais. Como encara esses novos eventos?

F.S. – Acho que o Algarve é um espaço pequeno, que obriga, na minha opinião, a um trabalho em parceria e em rede. Devíamos fazer um esforço, municípios e outras entidades, para que cada Concelho se distinga, se afirme, todos ganhamos com isso. Castro Marim é, de facto, o Concelho do Algarve que tem um evento de recriação histórica com mais anos e o repto que lanço é que haja um esforço de coordenação de agenda, de atividades e de público, a nível da região, e também um esforço para que todos sejam rigorosos, porque a imagem de todos contribui para todos.

 

 

PREÇOS

Mercado Medieval (a partir dos 12 anos): 2,00€

Castelo + Mercado (a partir dos 12 anos): 6,00€

Castelo + Mercado (dos 6 aos 11 anos): 3,00€

Castelo + Banquete: 30,00€

 

Por Nathalie Dias