A solenidade de São Vicente que a Igreja celebrou no dia 22 de janeiro, foi vivida em todo o Algarve por se tratar do padroeiro da diocese e, de maneira particular, em Vila do Bispo pelo diácono martirizado ser também o patrono daquele município.
O bispo do Algarve voltou a presidir à tarde à Eucaristia na igreja matriz de Vila do Bispo. Na celebração, D. Manuel Quintas destacou o seu exemplo como “modelo de fé e de testemunho cristão”. “Vamos acolher o seu exemplo, pedindo também a sua intercessão para que possamos crescer mais na fé que queremos não apenas celebrar, mas também anunciar e testemunhar com a nossa própria vida e com os nossos próprios gestos e atitudes”, pediu no início da celebração.
Na homilia, o bispo diocesano lembrou que “os mártires foram aqueles para quem, mais importante do que a própria vida, era a sua fé, era o princípio que norteava a sua vida, era a sua adesão à pessoa de Cristo e, por isso, não havia ninguém nem nada que os demovesse desta opção”. “E não tiveram receio em dar a vida, em derramar o seu sangue, em deixar-se morrer e martirizar como foi o caso de São Vicente e de tantos no início do século IV nessa grande perseguição aos cristãos, particularmente aqui nesta parte da Europa”, prosseguiu.
D. Manuel Quintas deixou ainda aos católicos um desafio com três aspetos neste jubileu que a Igreja está a celebrar neste ano de 2025 com vista ao renovamento da sua vida, invocando para ele o apoio e proteção de São Vicente. A primeira dimensão a que aludiu foi à “condição pessoal”, apelando ao esforço para serem “melhores pessoas”, a segunda foi a “procura da essencialidade” e a terceira foi a um “novo impulso missionário na vivência cristã”.
A Eucaristia, que contou com a participação da presidente da Câmara Municipal, Rute Silva, foi concelebrada pelo pároco de Vila do Bispo e Sagres, padre José Chula, pelo pároco da maioria das paróquias vizinhas do concelho de Lagos, o padre Nelson Rodrigues, e contou com o serviço dos diáconos Bruno Valente e Manuel Chula.
Depois da Missa não se realizou a habitual procissão devido às adversas condições climatéricas e em seu lugar foi feita na igreja a recitação do terço com meditação na nota pastoral que o bispo do Algarve escreveu o ano passado, a propósito da doação feita pelo Patriarcado de Lisboa à Diocese do Algarve de parte da relíquia do padroeiro comum.
“Se o objetivo de uma procissão é também levarmos a nossa fé lá para fora para não a fecharmos em nós próprios, então, ao sairmos daqui, que esse espírito seja o mesmo, que vamos com este espírito cristão de alegria que caraterizou também São Vicente”, pediu o padre José Chula.
O bispo do Algarve acrescentou que “o importante é acolher o seu testemunho e ver nele a força” necessária para tantas situações. “A procissão começa agora quando sairmos da igreja e regressarmos às nossas casas. Sintamo-nos mensageiros de São Vicente e do seu testemunho, dando o testemunho que ele deu de fé, esperança, amor e serviço aos outros”, pediu.
D. Manuel Quintas teve ainda presente na Eucaristia de ontem os nove diáconos da diocese algarvia. “Os primeiros vão celebrar agora 25 anos em fevereiro e terão o seu jubileu no dia 23 no Santuário da «Mãe Soberana» para celebrar as bodas de prata diaconais”, anunciou, acrescentando que a diocese tem mais “sete candidatos ao diaconado permanente que já fizeram o Curso Básico de Teologia de três anos e agora estão a preparar-se, ao longo de todo este ano de 2025. Queremos rezar por eles também e, sobretudo, invocar o diácono e mártir São Vicente sobre este percurso que eles estão a realizar”, referiu.
Para além de orago da Diocese do Algarve, São Vicente é também padroeiro do Patriarcado de Lisboa, onde se guardam algumas das suas relíquias. Simbolicamente é representado por uma barca e um corvo, representação essa baseada na tradição de que em 1173 as suas relíquias foram conduzidas numa barca desde o Cabo de São Vicente, no Algarve, para Lisboa, a mando de D. Afonso Henriques e veladas durante todo o trajeto por dois corvos.
Também aparece representado com palma, que simboliza o martírio, e evangeliário. São Vicente ou São Vicente de Saragoça, também conhecido por São Vicente de Fora (Lisboa), foi martirizado em Valência no início do século IV (crê-se que no ano de 304) durante as perseguições do imperador romano Diocleciano contra os cristãos da Península Ibérica. O seu cruel martírio até à morte foi devido, segundo a tradição, à sua recusa em oferecer sacrifícios aos deuses do panteão romano.
Segundo a tradição, os restos mortais do diácono da espanhola Diocese de Valência foram conduzidos, durante a progressiva ocupação muçulmana do sul peninsular, até ao cabo que viria a assumir o seu nome e a transformar-se, durante vários séculos, em lugar de peregrinação. As comunidades moçárabes existentes no Algarve, constituídas por cristãos que conseguiram organizar-se sob o domínio muçulmano, encontraram no testemunho de São Vicente, coragem e alento.
D. Francisco Gomes do Avelar proclamou, em 1794, São Vicente como padroeiro principal da Diocese do Algarve.
O dia de São Vicente comemora-se também com particular destaque em Vila do Bispo, onde é feriado municipal.
Comemorado a 11 de novembro pela Igreja Ortodoxa, São Vicente é ainda em Portugal o santo protetor e advogado das crianças.
Folha do domingo