Por F. Inez

A eterna dicotomia entre o bem e o mal, em particular nas culturas com influência religiosa, constitui provavelmente o mais complexo e seguramente um eterno dilema universal, de tal forma que vivemos permanente e naturalmente na expectativa de que o bem prevaleça sobre o mal. Por outro lado, são diversos os conceitos filosóficos que nos sugerem que ninguém é intrinsecamente bom ou mau, todos temos dentro de nós essas duas potencialidades.

Também parece não existir ninguém que seja completamente cruel e desonesto – somos uma mistura mais ou menos complexa do bem e do mal, somos inconstantes e os nossos comportamentos parecem depender do contexto em que nos encontramos em cada momento. Este nosso livre arbítrio é determinado por fatores genéticos herdados dos nossos antepassados, por forças biológicas mas também pelo ambiente social em que estamos ineridos, e que naturalmente estão fora do nosso controlo, o que até parece pôr em causa a   responsabilidade humana dos nossos actos e a própria natureza da nossa personalidade! Por outro lado, todos os grandes acontecimentos da Humanidade ao longo da História Universal ….desde a descoberta do fogo, da agricultura, da revolução Industrial, até  às revoluções tecnológicas recentes como a descoberta da Internet e a grande revolução digital em que atualmente vivemos, vêm transformando os nossos hábitos e comportamentos.

Todavia e, não obstante termos orgulho nas explosões culturais e tecnológicas ocorridas no último século, a nossa evolução genética vem-se alterando de uma forma muito mais lenta, pelo que os nossos cérebros continuam carregados de informações comportamentais de época primitivas. Como se vê, a questão parece ser bem complexa, o que nos aconselha a deixar aos filósofos e estudiosos todas estas subtilezas dos nossos comportamentos. Se percorrermos os cinco Continentes vamos encontrar centenas, senão milhares de tradições, usos e costumes os mais diversos e surpreendentes … “cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso”.

Seja como fôr, todos nós acabamos por nos reger pelo nosso padrão moral e cultural que condiciona o nosso comportamento e a forma como avaliamos o comportamento dos nossos semelhantes, com quem podemos entrar em choque quando se afastam do nosso padrão. Pelo que nos diz respeito a nós, portugueses … para alem da sardinha assada e do incontornável bacalhau … somos um povo antigo com uma História cheia de feitos gloriosos, mas também um povo cheio de contradições, temperamento que mistura a melancolia com o sangue latino. Diz-se, certamente por graça, que acreditamos que a canja de galinha cura tudo e mais alguma coisa … seja gripe, dor de cabeça ou uma qualquer indisposição … e somos um povo hospitaleiro … mas ai de algum estrangeiro que se atreva a criticar o País … “cai logo o Carmo e a Trindade”! Diz-se que … aconteça o que acontecer … votamos sempre no mesmo partido político … é como se fosse um clube de futebol! Pelo que diz respeito ao civismo … ou seja o respeito pelo nosso semelhante … tem mais que se lhe diga! A forma … frequentemente caótica …como se circula quer em veículos automóveis quer em bicicletas … traduz bem a falta de civismo de grande parte dos utentes da via pública! As bicicletas andam por todo o lado … nos passeios, em contramão … e às vezes, poucas, mas até nas faixas de rodagem.

Em Vilamoura, dita urbanização turística de luxo … construída de raiz, onde se dispunha de todo o espaço do mundo … em vez de os separarem, criaram passeios mistos, peões e bicicletas passam todos ao mesmo tempo, frequentemente em conflito e em risco de acidente!  Os automóveis e outros veículos motorizados, nas estradas e ruas citadinas, querem passar todos ao mesmo tempo, mudam de direção sem dar o “pisca” … era o que mais faltava ter que indicar em que direção nós queremos ir! Nas passadeiras, grande parte dos peões atravessam-nas sem a mais pequena precaução … sem olhar sequer ao transito., e quando um veículo pára, para lhes conceder prioridade, ao contrário dos estrangeiros que agradecem e as atravessam diligentemente, o peão português ignora o gesto do automobilista e atravessa a passadeira com uma enorme lentidão como se estivessem na sua sala de estar! Poderíamos continuar a enumerar numerosos outros exemplos desta falta de civismo, mas vamos ficar por aqui. Finalmente resta-nos acrescentar que … há quem diga que … tudo isto é feitio … não é por mal!