Susana Travassos homenageia o pai, Fernando Reis em concerto que se realiza em Loulé, no Cineteatro Louletano

DIA 6 DE FEVEREIRO ÀS CINCO DA TARDE

Susana Travassos dá um concerto especial em homenagem póstuma a Fernando Reis, seu pai e diretor do Jornal do Algarve, no domingo, dia 06 de fevereiro, às 17 horas. No repertório, temas do seu último disco «Pássaro Palavra» e outras canções que permearam a vida e a relação de pai e filha.

No preâmbulo da conversa que teve connosco, Susana Travassos começa por lembrar que: "Fernando Reis, que acaba de nos deixar, foi um romântico. A forma como segurou o jornal, acreditando que a força das palavras contribuía para a inteligência viva, para o benefício da notícia justa e a independência do pensamento, fez dele uma personalidade marcante. Foi diligente numa região de indolência, foi pronto numa sociedade de adiamento, foi atento e prático, no meio de uma cultura de inércia.

Para quem acredita na capacidade de resistência num meio hostil à comunicação social, - recorda ainda Susana - Fernando Reis foi um exemplo de crença no jornalismo de proximidade.

Quanto o Algarve lhe deve? Quanto devemos a Fernando Reis? Não podemos dizer quanto porque o seu legado não pode ser avaliado em números. Sabemos sim, que adaptou o Jornal do Algarve aos desafios que se levantaram à imprensa regional na passagem do milénio, e que soube resistir à grande vassoura digital, que leva para o mesmo local do evanescente, quer o bom quer o mau".

Susana Travassos, faz ainda emergir algumas palavras escritas de Lídia Jorge, quando do falecimento de seu pai:

"A chegada, semanalmente, à nossa mesa, do jornal do Fernando Reis, envolto numa cinta de papel usado, aproveitado dos restos, comovia. E comoverá. É preciso ser esperançoso. A sombra benigna de Fernando Reis inspirará quem se lhe segue. Todos desapareceremos, mas o sulco que fazemos na terra onde vivemos será mais forte do que a nossa fotografia. Fixem a fotografia de Fernando Reis, a sua causa tem muito para contar"

E quem melhor do que uma filha para contribuir para perpetuar essa esperança, essa sombra benigna que inspirou e inspira o seu canto e a sua arte? E não é por acaso que o nome do seu último CD se chama «Pássaro Palavra», tal pai, tal filha, acreditando na força da palavra e da liberdade.

Entremos um pouco mais, pelo tu cá, tu lá, com Susana Travassos, sobre a sua subida ao palco em Loulé.

 

VA - No dia 6 de fevereiro vais regressar ao palco, onde um dia, teu pai, o Fernando Reis catou, ainda numa teia de amadorismo, ao lado da saudosa Sílvia Aleixo, neta do poeta Aleixo, e irmã de Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé.

Que significado tem esse momento?

ST - "É bom voltar a um lugar onde o meu pai foi acarinhado, onde lhe deram voz, onde tem amigos. Numa situação tão frágil dá um pouco de conforto e também muita emoção".

 

VA- Sabemos que em termos emocionais este é o pior momento da tua vida em palco. Como é que vais combater a dor, a frustração, a raiva, que sentes no coração?

ST- Não sei…esse é um enigma que abraço com amor e receio. Era o que ele mais gostava que eu fosse, cantora, quem sabe ele irá ajudar-me…

É o pior momento porque não há palavras que deem conta, não há razão que compreenda perder um pai com esta idade e nestas circunstâncias. Com tanto ainda para dar, com tanto ainda por receber. Quem sabe não seja a arte a única saída capaz de sublimar todos estes sentimentos. Tenho dúvidas, mas mesmo assim, por ele e para ele vamos lá cantar".

 

VA- Lídia Jorge, também tem sido alguém que sempre teve enorme respeito e consideração pelo teu pai, como se leu na mensagem póstuma que vos endereçou. Se te cruzares com Lídia Jorge, uma das nossas maiores referências literárias, o que lhe vais dizer?

ST- Agradecer por conseguir pôr em palavras um pouco do grande homem que é o meu pai. Mas como digo, neste momento as minhas palavras são insuficientes, apenas os poetas conseguem dizer algo. E neste momento a poeta que há em mim está ainda a debater-se com o susto".

 

VA-Sabes que em Loulé vai acontecer um canto de homenagem a teu pai, a que chamas de pássaro. O que é que lhe vais dizer em cada canção e que são as vozes do mundo, que têm marcado a tua carreira?

ST- Sim, pássaro palavra, o título do meu último CD queria transmitir a ideia da palavra livre, também da palavra que passa de geração em geração.

Também inspirado nas cartas de amor entre os meus avós maternos encontradas quando a minha avó faleceu. Foi de facto um CD que teve essa função de regresso a casa, de regressar às raízes. De falar dos amores de base. Uma canção dedicada à minha mãe e outra ao meu pai que norteiam todo o trabalho. Canções que falam desse amor que não prende, desse amor que solta e que por isso é mundo.

É isto que aparecerá no concerto de dia 6 de fevereiro e também as canções que o meu pai mais gostava, algumas que cantarei pela primeira vez, outras que ele sempre pedia.

E o que lhe direi é que o meu amor por ele faz o meu “ser” expandir, a beleza dele emociona-me e que é muito difícil viver sem ele por perto. Ainda que eu saiba que ele está em mim.

 

VA- Que mensagem ao povo de Loulé e aos que vêm de outros lugares abraçar o teu pai, e que o dia 6 de fevereiro, se possa associar a um momento tão nostálgico, como autêntico e mágico, porque é nele que te continuarás a inspirar a tua carreira?

ST- Vou responder com um trecho de uma canção…

 

Niña, cuando yo muera

No llores sobre mi tumba

Cántame un lindo son, ¡ay, mamá!

Cántame "La sandunga"

No me llores, no

No me llores, no

Porque si lloras yo peno

En cambio si tú me cantas

Yo siempre vivo y nunca muero"

 

Neste concerto Susana apresenta temas do seu último disco gravado em Buenos Aires, um projeto que já passou pela Coreia do Sul, Espanha, Argentina e Uruguai onde propõe uma viagem às suas raízes algarvias e presta uma homenagem a Fernando Reis, seu pai, cantando temas que permearam a vida e o amor entre pai e filha.

Em palco, a cantora será acompanhada por Giovanni Barbieri (piano), Elodie Bouny (guitarra), Francesco Valente (baixo), Hugo Fernandes (violoncelo), Bruno Silva (viola), Denys Stetsenko (violino), Sebastian Scheriff (percussão) e Martin Sued (bandoneon). A produção é de Camila Carnicelli. Os bilhetes custam 8 euros.

 

Por: Neto Gomes

 

 

Sobre Susana Travassos

 

Susana Travassos nasceu em Faro e viveu até aos 18 anos em Vila Real de Santo António, onde começou cedo o seu percurso musical. Aos cinco anos iniciou seus estudos de acordéon, mais tarde passou a estudar piano, canto lírico até frequentar a escola de jazz do Hot Club, em Lisboa. Dona de uma voz clara e precisa, Susana tem uma intensidade interpretativa pouco comum.

Em 2008 lançou o seu primeiro CD «Oi Elis», em homenagem à cantora Elis Regina.

O seu segundo álbum, «Tejo-Tietê» (2013), é uma parceria com o compositor brasileiro Chico Saraiva e intercala composições do próprio com clássicos de Portugal e Brasil.

Nos últimos anos Susana vem conquistando um espaço de prestígio na América Latina, onde já possui um público seguidor, ganhou admiradores e respeito por parte da imprensa. Durante o período vivido no Brasil, atuou ao lado de artistas como Yamandu Costa, Toninho Horta, Chico Pinheiro, Chico César, Zeca Baleiro, entre outros.

Em 2019 a cantora lançou o seu terceiro CD, «Pássaro Palavra», seu primeiro trabalho autoral, gravado em Buenos Aires, que conta com canções próprias, além de composições inéditas de Luísa Sobral e Melody Gardot.