O novo Presidente da ASCAL - Associação dos Criadores de Gado do Algarve

A Voz do Algarve (V.A.) - Como surge o desafio para presidir à direção da ASCAL?

Afonso Nascimento (A.N.) - O desafio surgiu da necessidade emergente de mudar os critérios e o funcionamento da Associação e, numa Assembleia Geral, perante a insatisfação geral, começou a formar-se o grupo que originou a lista, convictos de que alguém deveria “jogar” as mãos à Instituição.

 

V.A. - Quando foi a tomada de posse? De quantos anos são os mandatos?

A.N. - A tomada de posse foi em 09 de fevereiro de 2022 e o mandato decorre de 2022/2024.

 

V.A. - Quais são os seus objetivos para este seu mandato?

A.N. - Os objetivos passam por trazer de volta a dignidade da Associação, lutar pelos anseios, necessidades e equidade dos Associados e dar mais notoriedade a um setor que muitos consideram em decadência.

 

V.A. - Quais são as atividades principais da ASCAL?

A.N. - As atividades desenvolvidas vão desde o saneamento de animais, consultas veterinárias, apoio à elaboração de candidaturas, livros genealógicos da vaca algarvia e ovelha churra, apoio nas diversas áreas do RPB/RPU, parcelário, bem como, sessões de divulgação e esclarecimentos.

 

V.A. - Quantas explorações e que espécies de animais representam na ASCAL?

A.N. - A ASCAL tem cerca de 250 associados, tendo como representantes todo o tipo de animais que se enquadrem na atividade pecuária.

 

V.A. - A ASCAL tem um passado muito ligado a um Presidente o Sr. Francisco Figueiras que liderou esta Associação durante 30 anos. Como é suceder a um líder, após três décadas?

A.N. - A sucessão desta ou de outra Instituição é feita democraticamente. A verdade é que ninguém é insubstituível num processo desta natureza aproveita-se o que há de bom, muda-se o que for de menor qualidade e implementa-se o que for necessário para melhorar e atingir o objeto da Associação.

 

V.A. - Foi fácil a passagem de pasta da anterior para a atual direção? Que problemas e desafios encontrou?

A.N. - A tomada de posse foi fácil, rápida e concisa. Não houve passagem de pasta ou de qualquer tipo de informação, algo que em qualquer Instituição seria normal de ocorrer, aqui simplesmente não houve, ainda para mais numa situação tão delicada como a que Associação se encontra.

 

V.A. - Quantas pessoas integram os quadros da ASCAL?

A.N. - Neste momento temos 9 funcionários.

 

V.A. - Sendo a ASCAL a entidade detentora do Livro Genealógico da Raça Bovina Algarvia, como pensa que pode dinamizar a preservação e o fomento da Raça Bovina Algarvia?

A.N. - Penso que a dinamização/preservação e o fomento, só serão atingidos se houver rigor e disciplina, que cada agente ativo cumpra com o que assume e que se deixe de uma vez por todas de dar a cara para as fotografias e depois deixar esquecidos os compromissos assumidos.

 

V.A. - Que caraterísticas apresenta essa raça tão típica do Algarve?

A.N. - Apenas o facto de falarmos de uma raça autóctone e em vias de extinção, é mais que suficiente para lutarmos por ela. Esta raça foi considerada como sendo utilizada para trabalho nas explorações, antes da chegada da mecanização e, sendo bastante rústica, distingue-se por ter uma pequena pele pendente da parte inferior do pescoço, cabeça de forma piramidal, pelagem e membros curtos, são considerados como animais dóceis.

 

V.A. - Quantos animais e quantas explorações ainda, no Algarve, têm a Vaca Algarvia, já que está em risco de extinção?

A.N. - Neste momento existem 9 animais (7 fêmeas e 2 machos), em duas explorações.

 

V.A. - Existem ligação/parcerias entre a ASCAL e as outras associações representativas de outras raças pecuárias no Algarve?

A.N. - Não neste momento não existe ligação ou parceria com outras associações, mas no futuro abrir-se-ão portas nesse sentido e até a nível Nacional.

 

V.A. - Para quando a resolução da problemática do abate do gado no Algarve, já que atualmente, penso que o mais próximo local de abate, é em Beja…

A.N. - A questão do abate no Algarve será uma das bandeiras da Associação. Só teremos perspetivas futuras para a continuidade da atividade se for criado novamente um Matadouro no Algarve, mas isso só será feito se houver interesse da classe política e da AMAL. Ao que julgo saber, existem cerca de cinco milhões de euros reservados para este fim, mas veremos e acompanharemos de perto o comportamento dos nossos autarcas.

 

V.A. - Como está a seca a afetar a criação de gado no Algarve?

A.N. - A seca está a ser bastante limitadora da atividade e, se não houverem medidas extraordinárias, não tenho dúvidas de que a comida e a ração vão acabar brevemente, independente do seu valor, algo que pode levar os produtores a tomar medidas radicais.

 

V.A. - Que medidas esperam ver tomadas pelo Governo a curto prazo?

A.N. – Esperemos que façam tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que os agricultores tenham as condições necessárias para desenvolver a atividade, sem que, para isso, se tenham de empenhar.

São necessários apoios a fundo perdido que permitam solidificar o fundo de maneio dos criadores e os alivie do possível endividamento a curto prazo.

Temos de valorizar mais o produto nacional e deixar de valorizar e comercializar menos o que vem de fora, este é o momento de todos darmos as mãos.

 

V.A. - Como se está a desenvolver a comercialização de gado no Algarve. A nível nacional, alguns produtores, para minimizar os custos na alimentação do gado estão a vender antecipadamente os animais em leilão?

A.N. - Não, por enquanto ainda não, mas veremos até quando. A comercialização de gado no Algarve decorre com a normalidade possível, acompanhando a frequente subida e descida da valorização dos animais: a venda em leilão sempre tem existido e, por vezes, é uma forma de valorização dos animais. Mas sem as ajudas corretas e atempadas podemos num futuro muito próximo vir a verificar a venda em massa de todos os animais existentes em algumas das explorações.

 

V.A. - Como pensa que poderia ser dinamizado a produção animal no Algarve? Seria importante a participação/exposição em Feiras e eventos similares?

A.N. - É de todo urgente, como referi há pouco, a construção do Matadouro, mas como são processos morosos, com um matadouro móvel minimizávamos a questão. As feiras e exposições são sempre uma porta aberta para a informação e divulgação dos produtos, convém não esquecer que temos aqui ao lado os nossos vizinhos espanhóis, apaixonados pela gastronomia portuguesa e que existe uma variadíssima lista de produtos alimentícios que poderíamos e deveríamos apresentar.

 

Por: Nathalie Dias