Aldina Nunes, Periglicofila, conta-nos o seu percurso como colecionadora de pacotes de açúcar. Para si, para fazer uma coleção é preciso ter gosto, paixão e é necessário encontrar algum propósito, um interesse ou uma aprendizagem que nos leva a adquirir um conhecimento sobre determinadas histórias.

Voz do Algarve- A Aldina é Periglicofila, conte-nos um pouco sobre si.

Aldina Nunes- Vivo em Quarteira, mas sou natural da Aldeia da Tôr, da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim. Trabalho como administrativa numa empresa de administração de propriedades.

 

VA- Como surgiu a ideia de fazer uma coleção de pacotes de açúcar?

AL- Desde muito nova que gosto de colecionar, comecei por fazer uma coleção de calendários, depois não gostei, achei que era uma coleção que me dizia pouco. Mais tarde, comecei a colecionar selos que mantenho até hoje. Também gosto muito de colecionar moedas, e por fim, veio esta hipótese de colecionar pacotes de açúcar.

Eu penso que, quando faço uma coleção, tenho que ter gosto, tenho de ter paixão por aquela coleção, tem de dizer-me alguma coisa. Quer seja uma coleção didática ou informativa, e eu, nos calendários, não encontrava isso. Nas moedas, selos, e mais tarde nos pacotes de açúcar, eu encontrei uma iniciativa, um conhecimento. As pessoas adquirem conhecimento, quando fazem este tipo de coleções. Porque se verificar-mos os selos dão-nos conhecimento de determinadas histórias.

As moedas também tem essas particularidades. Relativamente aos pacotes de açúcar, comecei a colecioná-los sensivelmente em 2002, juntamente com um grupo de amigos. Despertou-me a atenção, porque achei muito bonito, e, achei que havia ali uma história. Inicialmente não começou por ser uma coleção, mas sim um juntar de pacotes dentro de uma gaveta, depois comecei a perceber que havia colecionadores de pacotes de açúcar.

 

VA- Há muitos colecionadores em Portugal?

AN- Não é fácil contabilizar isso. Existe um clube chamado CLUPAC, de colecionadores de pacotes de açúcar. Na última vez que tive conhecimento, já contavam com 400 colecionadores no CLUPAC, em Portugal. No entanto, estas seleções são realizadas a nível mundial e aí acredito que não existam apenas 400 colecionadores, mas sim quinze ou vinte vezes mais do que isso, mas que não estão inscritos. Eu pessoalmente nunca me inscrevi e sou colecionadora, acredito que muitos colecionadores também nunca se tenham inscrito.

 

VA- A Aldina faz coleções só a nível Nacional?

AN- Não. Faço coleção de tudo aquilo que me vem parar às mãos, quer seja nacional ou internacional. Posso não beber nenhum café, mas quando bebo, não uso o açúcar. Os meus amigos, os pais dos meus amigos e os meus colegas, estão incumbidos de me trazer pacotes de açúcar. Todos, tem essa lembrança de trazer os pacotes para a Aldina.

Eu penso que, quando faço uma coleção, tenho que ter gosto, tenho de ter paixão por aquela coleção, tem de dizer-me alguma coisa.

VA- Como foi o seu percurso como colecionadora?

AN- Comecei com ajuda de um colecionador, o Hélder Bernardo, que é natural de Aveiro e que tinha uma página chamada CUCA. Através da página eu consegui orientar-me. A Internet veio facilitar o contacto com outros colecionadores. Mais tarde, foram surgindo outras páginas e atualmente existe uma página que é muito útil, a Pacotada, que foi criada por um grupo de amigos em 2009. Tiveram imenso trabalho em criá-la, é muito interessante e um grande auxílio aos colecionadores.  

Nessa página encontramos de tudo, tudo aquilo que diz respeito aos pacotes de açúcar. O site tem informações e catálogos das séries que vão saindo. Tem informação do número de pacotes de cada série, e estão lá catalogadas as séries, os individuais, isto porque há pacotes que não pertencem a séries, ou seja, que são individuais um por um. Tudo isto, facilita-nos para que consigamos colecionar. Algumas pessoas podem orientar-se de outra forma, mas eu acho que a nível nacional, esta página orienta muitos colecionadores.

 

VA- Estas coleções, são finitas?

AN- Não, nunca tem um fim. Porque estão sempre a sair novidades e há imensas embaladoras, sendo que muitas delas já fecharam. O que acontece é que as coleções saem e depois desaparecem. Quem consegue, muito bem, quem não consegue tenta adquirir através de trocas/intercâmbios. Isto normalmente funciona ao nível do intercâmbio, não com o objetivo de negociar ou comprar, mas há quem o faça. Eu especialmente nunca comprei, porque nunca foi essa a minha política de colecionar. Algumas coleções só surgem no norte ou em zonas específicas, isto porque, algumas embaladoras só existem no norte do país, como é o caso da ASI. Depois, nós tentamos conseguir essas coleções através de trocas com outros colecionadores. Na página da pacotada.com, as pessoas podem tornar-se membros e fazer trocas com outros colecionadores, vamos interagindo e criando amizades.

Há pacotes de açúcar, por incrível que pareça, que só existem no Algarve. No ano de 2021 já saíram 7 coleções.

 

VA- Existem encontros de colecionadores?

AN- Sim, já fui a um encontro. Nos encontros dos pacotes de açúcar, os colecionadores têm que informar que vão comparecer, para os organizadores estarem preparadas, porque funcionam como feira de trocas. Cada um tem a sua bancada reservada, expõe os pacotes que tem para trocas e depois vamos circulando e vendo cada bancada. «Eu tenho este e tu tens aqueles, a mim interessa-me este e a ti interessa-te alguns dos meus?»

Para além do intercâmbio, também convivemos e temos outros encontros extra troca, ou seja, passeamos pela cidade onde se dá o encontro e temos almoços ou jantares. O encontro a que fui, foi no Algarve, em Vila Real Santo António, mas sei que há outros encontros no Algarve, por exemplo em Lagos. Um dos próximos encontros está marcado em Ílhavo para os próximos dias 16 e 17 de outubro. Além desses encontros anuais existem os encontros fixos mensais em cada região.

 

VA- Relativamente ainda às trocas, são sempre feitas um por um?

AN- Não. A troca tem sempre a ver com a qualidade do pacote, ou seja, na “antiguidade” do mesmo. Um pacote pode ser antigo e valer tanto ou mais do que uma série ou duas mais recentes. Sendo que, tudo isto é subjetivo e varia de colecionador para colecionador.

 

VA- O que recomenda a uma pessoa que queira iniciar-se nesta arte da periglicofilia?

AN- Primeiro tem de ter gosto naquilo que faz, como qualquer colecionador, e não se pode pensar que se vai conseguir tudo de uma só vez. A coleção vai-se fazendo gradualmente. Provavelmente até existe quem tenha tudo, mas eu sou pequena colecionadora, porque não contabilizo frequentemente os pacotes de açúcar que tenho. Da última vez tinha entre 14,000 a 15,000 pacotes, mas sei que algumas pessoas chegam aos 140,000.

Todos temos imenso gosto em que haja novos colecionadores de pacotes de açúcar. O já colecionador de pacotes de açúcar, ajuda sempre muito o iniciante. Basta que tenham contacto com outros colecionadores e todos dão, não trocam, dão coleções e individuais para ajudar no início da coleção.

 

VA- Já decidiu o seu destino de férias, em função de uma coleção de pacotes de açúcar?

AN- Não, mas sei que há quem o faça. Já fui sim, com o meu marido passear a Cacela Velha à procura de um pacote de açúcar, por exemplo.

 

VA- Relativamente ao modo como preserva a sua coleção, como funciona?

AN- Os pacotes de açúcar são guardados em dossiers, em micas próprias. Por exemplo tenho quatro ou cinco coleções da Delta. Para além disso, guardo os pacotes de açúcar estrangeiros, de outros países e tenho pacotes de todos os continentes. Tenho também pacotes de açúcar da restauração e de hotelaria. A coleção mais importante para mim, e foi a partir desta que tive vontade de iniciar, foi a coleção da força aérea, que é uma coleção muito bonita. Também tenho coleções mais antigas, do euro e do escudo. Acrescentando a estas, tenho coleções didáticas, por exemplo, de regras de segurança ou ao nível da leitura e até coleções restritas, por exemplo da Caixa Geral de Depósitos, casamentos, iniciativas ou eventos.

Os pacotes de açúcar, para serem guardados, são guardados sem açúcar. Empurramos o açúcar para um dos cantos e no verso, com um x-ato de carteira, que anda sempre connosco, cortamos com bastante cuidado para depois esvaziar o pacote e por fim, guardar. Acabamos por juntar muito açúcar e sei que muitos colecionadores, dão-lhe um fim muito interessante, que é doar a instituições.

Provavelmente até existe quem tenha tudo, mas eu sou pequena colecionadora, porque não contabilizo frequentemente os pacotes de açúcar que tenho. Da última vez tinha entre 14.000 a 15.000 pacotes, mas sei que algumas pessoas chegam aos 140.000.

 

Ao consultar a página pacotada.com podemos verificar alguns dados estatísticos tais como o número de Séries Catalogadas - 3830; Séries Privadas -1349; Séries numeradas - 330; Séries de “Circulação” - 2151; Séries com Pagela -3544; Séries sem Pagela - 286

 

Por: Nathalie Dias

Transcrição Carolina Figueiras