A Voz do Algarve – Que expectativa tem do novo desafio que será a ocupação do Deputado da Assembleia da República nesta nova fase da sua vida política?
Bruno Inácio – As expectativas naturais de quem quer contribuir de forma consciente para o desenvolvimento da sua Região e do seu País. Vou sem ilusões, mas cheio de vontade de participar ativamente nas atividades parlamentares, especialmente aquelas que possam de alguma forma acrescentar valor ao Algarve. A Assembleia da República não é um órgão executivo, a sua competência é legislativa, mas, nesse campo, acredito que existam ações que possamos levar a efeito, que possam ajudar a nossa região. Mas sejamos concretos e tomemos, por exemplo, o programa Formação Algarve, proposto pelos deputados do PSD eleitos pelo Algarve, onde o Deputado Pedro Roque foi fundamental, e que permitiu que muitos trabalhadores da área do turismo pudessem garantir uma maior estabilidade na época baixa do turismo no Algarve. Mas este é um caminho coletivo, não se faz sozinho, e dai que os contributos que possamos receber da sociedade civil, seja ela organizada ou de forma individual, sejam fundamentais para que possamos fazer um bom trabalho. Vivemos 3 anos muito difíceis em Portugal, e a crise foi especialmente sentida no Algarve. Ainda não estamos bem, mas, felizmente, hoje vemos sinais encorajadores como a consistente diminuição do desemprego ou o crescimento económico, que embora ténue não deixa de ser uma realidade. E nesse campo é igualmente justo assinalar que o Algarve tem vindo a recuperar mais rapidamente que outras regiões do País. Veja-se a acentuada diminuição da taxa de desemprego, que embora ainda alta, está hoje em clara rota descendente, ou ainda os números do turismo do ano que agora termina, que são realmente muito positivos para a nossa economia regional.
V.A. – Que Comissões Parlamentares gostaria de integrar na Assembleia da República?
B.I. – Fui, para já, integrado na Comissão de Economia e Obras Públicas e na Comissão de Agricultura e Mar. São áreas fundamentais para o Algarve. A Comissão de Economia e Obras Públicas, além de tratar matéria das intervenções do Estado, tão necessárias em algumas áreas do Algarve como a rodovia, os portos ou a ferrovia, trata ainda de uma matéria fulcral da nossa região, o turismo. Espero nessa matéria poder contribuir com posições que vão de encontro aos anseios e aspirações do sector. No que respeita à agricultura e mar é igualmente uma área chave. Neste aspeto há que referenciar o importante trabalho que o Deputado Cristóvão Norte tem realizado, nomeadamente colocando na agenda a necessidade do Mar ser olhado e rentabilizado de melhor forma. Este é o caminho. O Algarve não pode estar virado de costas para o Mar. Urge uma importante reforma da gestão da frente de Mar para que os agentes económicos, mas também a sociedade civil e associativa, possa ter num Mar uma resposta efetiva para o desenvolvimento e crescimento da nossa Região. Mas permita-me que seja mais uma vez concreto: hoje em dia é impossível, de forma célere e séria, traçar politicas públicas para a frente de Mar no Algarve (e no País), dada a carga burocrática e o número de organismos que sob ela têm jurisdição. Temos de ter a coragem de iniciar uma reforma que resolva de forma concreta este problema. O PSD-Algarve, sob a voz do seu Presidente, Luís Gomes, tem sido especialmente crítico nesta área e tem procurado apresentar propostas com vista a ajudar a resolver esta questão.
V.A. – O que pode ganhar o Algarve com esta sua nova função? E como pensa organizar o seu trabalho e a ligação ao Algarve?
B.I. – Não sou mais nem menos do que os muitos parlamentares do Algarve que estão ou estiveram na Assembleia da República (AR). Agora, não deixo de ter opinião sobre a minha região, as suas carências e as suas aspirações de desenvolvimento. Como já afirmei, a AR é um órgão legislativo, ou seja legisla, não executa, mas esse poder apenas nos confere uma responsabilidade maior na definição da estratégia contínua de desenvolvimento da região. Não gosto de ser vago e portanto permita-me que concretize. A Deputada do PSD eleita pelo Algarve, Elsa Cordeiro, tem realizado um trabalho altamente elogiado pela grande maioria dos deputados na área do Orçamento e Finanças. O facto de a termos a discutir estas matérias é importantíssimo para a nossa Região, pois acredito que ela não deixa de ter em conta as necessidades do Algarve nos debates que trava nesta área. Vou procurar ser fiel aos meus princípios e como tal fiel à minha região e ao meu País. O PSD-Algarve e os seus Deputados eleitos vão intensificar o seu contacto local e acredito que assim poderemos melhor prespectivar o próximo grande desafio da região após a estagnação recessiva: vamos projetar o relançamento económico e social do Algarve e vamos fazê-lo ouvindo as pessoas e propondo soluções que vão ao seu encontro. Não viramos a cara aos problemas e cá estaremos para os encarar de frente e resolve-los.
V.A. –Após o curto período em que irá exercer funções na AR, e embora não dependa apenas da sua vontade, gostaria de continuar com este projeto, ou pretende voltar a CM VRSA?
B.I. – Não posso de forma intelectualmente honesta colocar uma cruz definitiva em qualquer prespectiva de futuro. E neste momento, traçar cenários sobre o que será o meu futuro em termos profissionais ou políticos seria desrespeitar aqueles que com o seu voto permitiram que eu possa ter a oportunidade de trabalhar em prol da minha região e do meu País na Assembleia da República. Não fugo à sua pergunta, deixe-me que lhe diga que hoje sinto-me com uma enorme vontade de participar publicamente de forma ativa ao nível local (e nunca escondi a minha forte ligação ao concelho de Loulé), regional e nacional. Se depender de mim, vou continuar a faze-lo. De que forma? Não sei. Mas na política a forma será sempre menos importante que o conteúdo.
V.A. – Tendo o seu antecessor um vasto Curriculum na AR, com largos anos de experiência, como pensa em tão pouco tempo demonstrar que é a pessoa indicada para dar continuidade ao trabalho até aqui realizado em prol do Algarve?
B.I. – Seria um absurdo eu pensar que vim substituir o Dr. Mendes Bota. Se ninguém é indispensável, existem pessoas que não são substituíveis, e o Dr. Mendes Bota é uma delas. É “somente” o político Algarvio com maior história curricular. E infelizmente, por ser uma figura tão próxima de todos nós, acho que a Região não tem sabido prestar-lhe a devida homenagem. Vi o Dr. Mendes Bota a dar a cara por todas as batalhas que foi preciso travar pela Região, mas infelizmente também vi gente a criticá-lo de forma completamente despropositada. Nós que tanto apregoamos a nossa Região, e bem, devemos fazer um exame de consciência sobre a forma como tratamos os nossos e na minha opinião há que enaltecer o papel do Dr. Mendes Bota no desenvolvimento do Algarve nas últimas quatro décadas. Poder ocupar o lugar que ele deixa vago no Parlamento é, não só uma Honra maior, como é uma responsabilidade gigante. Não deixarei de me inspirar no seu trabalho e na sua ação.
V.A. – Que mensagem gostaria de deixar aos algarvios agora que é Deputado?
B.I. – O mesmo que deixaria se não fosse deputado: vivemos num dos melhores locais do mundo, está nas nossas mãos continuar a fazer dele um território onde é bom viver, mas especialmente num território socialmente mais justo, que saiba apoiar aqueles que menos têm. Não podemos viver felizes se ao nosso lado houver pessoas a passar dificuldades. É para resolver esses casos que devemos trabalhar. Como? Criando políticas geradoras de crescimento económico que vão gerar emprego e desenvolvimento sustentado. Não é um chavão, é mesmo um caminho. E nós temos vindo a construí-lo com realismo e verdade. Chega de hipotecar os nossos filhos e netos. Chega de vender ilusões políticas. Por isso as eleições do próximo ano vão ser tão importantes, porque vamos decidir o que queremos como Povo: se optamos por regressar a um passado trágico e despesista que nos levou à beira do colapso enquanto País, ou se, por outro lado, escolhemos um caminho de responsabilidade, onde pouco a pouco vamos melhorando, onde a pouco e pouco vamos fazendo as reformas necessárias, onde a pouco e pouco nos vamos tornando melhores.
Nathalie Dias