Zoomarine reabre com vontade de fazer mais e recuperar prejuízos de 2020

São 30 anos de serviço ao público e de crescimento, não só em termos de espaço e diversões, como de importância para a região algarvia. Em tempos de pandemia, os prejuízos de 2020 foram acima do esperado, mas não existiram despedimentos. Este ano, as comemorações dos 30 anos serão mais ‘modestas’ e é esperado um verão de recuperação económica.

 

A Voz do Algarve - Enquanto fundador, quais são os sentimentos que se vivem por este marco de 30 anos de Zoomarine?

Pedro Lavia - É uma grande alegria, depois de 30 anos a edificar um sonho, dia após dia, ver o crescimento do parque. É como ter um filho e vê-lo crescer. A única coisa que nos entristece é que pensávamos que haveria uma festa como quando celebrámos o 25º aniversário do Zoomarine, mas com a situação atual de pandemia, lamentavelmente, essa celebração não pode ser feita nos mesmo moldes. Continuaremos certamente a celebrar diariamente com cada uma das pessoas que tiverem a amabilidade de nos visitar nesta época, como o nosso melhor sorriso para os receber e a garantia de que passarão um dos melhores dias das suas férias no Algarve.

 

VA - Qual a evolução do parque, em termos de dimensão, desde a sua inauguração há 30 anos?

PL - Em agosto de 1991 contávamos apenas com 7 hectares, o delfinário do Sam, os leões-marinhos as aves tropicais, um restaurante e algumas diversões. Ao longo destes 30 anos nunca baixámos os braços, fomos sempre crescendo um pouco todos os anos, tivemos a sorte de poder adquirir novos terrenos e expandir consideravelmente o Zoomarine.

Num local onde praticamente nada havia além de pó e muita pedra algarvia, hoje temos um parque verdejante, com uma bela coleção de plantas autóctones e também exóticas, crescemos muito na oferta de diversão aquática, criámos cenários muito agradáveis, como a praia de ondas, o rio lento e o Jurassic River, que são atrações únicas e têm caraterísticas que agradam a toda a família. O crescimento que mais nos orgulha, é, sem dúvida, o aumento dos habitats dos nossos animais, onde pudemos melhorar muito as condições de bem-estar deles e isso reflete-se hoje na multiplicidade de nascimentos que ocorrem e nas boas condições de saúde que apresentam. Exemplo disso, é o facto de termos construído uma conduta que nos permite alimentar as nossas piscinas com água salgada diretamente captada no mar.

Neste momento, contamos com 26 hectares de área já edificada e visitável, e outros 9 hectares onde planeamos o nosso sonho de expansão futura.

 

VA - Volvidos 30 anos, podemos considerar que os objetivos iniciais foram atingidos?

PL - Sim, os objetivos foram não só atingidos, como excedidos. Na base da nossa filosofia, está o nosso grande empenho na educação das crianças e do público em geral, mas também na educação da comunidade, promovendo uma consciência ambiental, fundamental para a conservação e proteção da vida dos oceanos, das suas espécies e dos seus habitats. Esse sempre foi o nosso maior objetivo. Quando abrimos o parque, a situação não era a mesma de agora, em termos de conhecimento das pessoas sobre os mamíferos marinhos, estamos seguros de que fomos um forte elemento impulsionador para o conhecimento destas espécies. Em termos turísticos, quando abrimos em 1991, a oferta que existia no Algarve era pouco mais do que “sol e praia”, e não havia nenhuma atração deste género no Algarve, muito menos uma que tivesse uma componente de sensibilização e educação ambiental. Por isso, a nossa diferenciação é muito importante, é a alternativa da diversão em família e creio que fomos felizes e conseguimos converter muito público a passar as suas férias não só na praia e no sol, mas também a passar um dia de diversão e conhecimento junto dos animais.

 

VA - Antes da pandemia, como tinha sido o último verão (verão de 2019) em termos de adesão?

PL - Até 2019, o Zoomarine vinha crescendo em número de visitantes. Desde 2015 que ultrapassámos de forma consistente o marco de ½ milhão de visitantes anuais, e estávamos numa fase muito boa de crescimento, tanto em termos da oferta ao visitante, como da procura pelo Zoomarine. Principalmente porque, mesmo no decorrer da última crise económica, sempre acreditámos no futuro e tivemos o cuidado de ouvir os nossos clientes e fazer investimentos que os deixassem felizes. Reflexo dessa nossa vontade de querer oferecer sempre mais e melhor aos nossos visitantes, é o facto de que temos muitas famílias que nos visitam regularmente e nos dizem que as férias no Algarve não têm o mesmo sabor se não reservarem pelo menos um dia para o Zoomarine.

Habitualmente, os visitantes nacionais representam 45% do nosso público, concentrando-se nos meses de verão, como já é habitual e por tradição. Já o mercado externo, e que visita o Algarve todo o ano, representa os restantes 55%, onde se destacam os visitantes provenientes do Reino Unido, Espanha, Holanda, Bélgica e França.

 

VA - Em março de 2020 fomos confrontados com a pandemia de covid-19. Que medidas foram tomadas para manter o funcionamento do parque?

PL - Havíamos acabado de iniciar a abertura da época quando fomos surpreendidos pelo primeiro confinamento, prevíamos abrir 9 meses e tivemos de redimensionar a operação para apenas 3.5 meses de abertura. A principal preocupação foi garantir condições de segurança sanitária, tanto para os nossos colaboradores e animais como para que no momento da reabertura pudéssemos oferecer uma visita segura aos nossos clientes.

Além de um plano de contingência aprovado pela DGS, implementámos todo o tipo de medidas que permitiram obter a certificação do parque Zoomarine como local de baixo risco de propagação da doença SARS-CoV-2, garantia que continuamos a revalidar a cada seis meses. Alguns exemplos são a redução da máxima lotação para 30% garantida através de check-in prévio; a formação e informação constante a todos os nossos colaboradores e clientes sobre as medidas de proteção a tomar; reforçamos a oferta de apresentações zoológicas dentro do parque para que todos os nossos visitantes pudessem desfrutar do parque sem aglomerados de pessoas. Todas estas tarefas acabam por se traduzir num grande esforço das pessoas que aqui trabalham para que as expectativas do cliente sejam superadas qualquer que seja o contexto sanitário da visita. Por outro lado, temos um grande ponto a nosso favor, é que o parque é bastante grande e a maioria das atividades decorrem ao ar livre, o que reduz muito o risco desde que sejam cumpridas as medidas de proteção.

Do ponto de vista económico, a preocupação foi e continua a ser evidente: um parque com mais de 1.600 animais tem naturalmente custos fixos elevadíssimos. O bem-estar dos nossos animais é a maior preocupação, desde os sistemas de filtração de águas à rigorosa medicina preventiva que praticamos, assente em cuidados diários e dedicação continua duma equipa de especialistas em maneio e treino animal, veterinários, biólogos e muitos outros especialistas em diversas áreas da empresa que levam por diante o trabalho destas três décadas, não pode ser colocado em pausa, é um trabalho diário. Por isso, aproveitámos algum financiamento social e aumentámos a dívida bancária para conseguir suportar esta queda brutal que já se antecipava. Só desta forma pudemos cumprir e nunca falhar no pagamento de impostos ou salários do nosso pessoal, algo que para nós foi sempre um fator importantíssimo e sagrado. Têm sido tempos muito difíceis, mas esperamos que com a abertura do parque, a situação mude e os turistas, nacionais e estrangeiros, possam nos visitar tranquilamente e apreciar o que o Algarve e o Zoomarine têm para oferecer.

 

VA - Já fizeram contas aos prejuízos da época Covid?  Estão dentro do esperado?

PL - Não esperávamos que fossem prejuízos tão elevados, independentemente do parque estar aberto ou fechado, temos custos operacionais muito elevados e por isso, o percurso tem sido muito difícil, basta observar que de 600.000 visitantes passámos para apenas 158.000. Em 2021 prevemos alguma recuperação nos meses mais estivais, mas vivemos tempos em que temos de pôr de lado as previsões, e gerir semana a semana. Por felicidade somos muito inovadores e temo-nos reinventado para dar o nosso contributo para a rápida retoma do turismo.

 

VA - O Zoomarine celebra 30 anos. Como estão a acontecer as comemorações devido à pandemia?

PL - Vamos manter todas as regras do ano passado em termos de distanciamento, de quantidade de público e capacidade nos estádios, e será um aniversário com festejos muito tímidos do ponto de vista de eventos comemorativos. A boa notícia é que, tal como em 2020, as famílias que nos visitarem em 2021, beneficiam de um parque com muito menos clientes que o habitual, isso quer dizer menos filas, mais tranquilidade nos relvados e a habitual boa disposição e qualidade de atendimento que já nos caracteriza, por isso a experiência do dia no Zoomarine, em que por momentos esquecemos o nosso quotidiano e aproveitamos ao máximo, é ainda melhor que nos anos anteriores à pandemia.

 

VA - Existiram despedimentos ou cortes em ordenados com a pandemia? Quantos trabalhadores fixos existiam antes da covid-19 e quantos se mantém? Quantos estão ou estiveram em Lay-off?

PL – Curiosamente, em janeiro de 2020, fizemos aumentos salariais muito significativos, na ordem dos dois dígitos, não contávamos com a pandemia e menos ainda com resultados negativos tão significativos. Ainda assim, mantivemos o quadro fixo habitual superior a 100 pessoas nomeadamente as equipas técnicas e as relacionadas com o cuidado dos nossos animais. Infelizmente, o Algarve mesmo sem pandemia, vive a dura realidade da sazonalidade – muito difícil para estabilizar equipas, e muito difícil criar famílias que têm como única fonte de sustento o turismo – essas pessoas (que no Zoomarine são mais de 300) foram afetadas de uma forma quase brutal e o Estado disponibilizou um conjunto de medidas de apoio, às quais recorremos, sem o que não teria sido possível assegurar a sobrevivência digna desses trabalhadores e das suas famílias. Neste período superior a um ano em que temos estado com atividade condicionada ou suspensa, procurámos sempre gerir as equipas de uma forma equilibrada, olhando tanto para as necessidades da empresa quanto para as necessidades das pessoas, equipa a equipa, tentámos ser o mais justos possível, implementámos o trabalho em equipas-espelho, o teletrabalho, a redução de horários recorrendo a lay-off parcial, a formação online. Todas as medidas que tomámos resultaram numa redução de cerca de 40% do número de trabalhadores face a 2019, mas com uma incidência muito mais forte nas áreas ligadas ao atendimento do visitante.

 

VA - Relativamente às “férias cá dentro”, existem expetativas dadas todas as restrições internacionais, de haver um incremento de visitantes nacionais. Quais os pontos positivos ou negativos desta situação? Existem ofertas especificas dependendo dos nichos de mercado?

PL - Esperamos que os portugueses, por quem temos um carinho especial, escolham o Algarve como destino de férias e claro, o Zoomarine, onde encontrarão todas as medidas sanitárias desejáveis implementadas, garantido uma visita muito divertida e segura.

É a pensar nos nossos visitantes que todos os anos tentamos inovar, tanto ao nível de oferta através de campanhas especiais de descontos, oferta de entrada de 2º Dia, mas também ao nível do atendimento ao cliente, por via da inovação digital e tecnológica, como foi o caso do lançamento da APP Zoomarine que permite consultar toda a informação do parque e programar o dia da visita, onde os clientes podem previamente agendar a sua visita ao mesmo tempo que o parque consegue controlar a capacidade máxima de acordo com as normativas de segurança sanitária.

 

VA - Quais as novidades para este ano?

PL - Este ano apostámos numa ampliação da Ilha do Tesouro – Ilha da Fantasia -, com a instalação de novos escorregas e diversões aquáticas para os mais novos. Para além disto, o parque conta também com os divertidos Ferry Boat, Torre Farol e Twist Manta. Já na área da restauração, os restaurantes Bamboo e Acqua foram completamente renovados, permitindo agora dispensar os descartáveis e os produtos de mono-uso, dando lugar a 94% de produtos reutilizáveis, reciclados ou biodegradáveis em toda a área Zoomarine.

 

VA - Ao longo de todos estes anos, o que é que o Zoomarine trouxe ou acrescentou no desenvolvimento turístico da região algarvia?

PL - Passados 30 anos, podemos dizer com toda a certeza que contribuímos efetivamente para a consolidação do Algarve enquanto destino turístico.  Somos anualmente distinguidos com o selo “Travellers Choice” do portal TripAdvisor que como sabemos, é completamente isento, uma vez que se baseia exclusivamente nos comentários do público. Fomos também considerados o 7º melhor parque da Europa e 24º melhor parque do Mundo, e nada disso é pouco se pensarmos que existem parques no mundo que recebem dezenas de milhões de visitantes por ano. Outra distinção turística que muito nos orgulha é sermos anualmente reconhecidos como a melhor empresa de Animação Turística e já termos tido o prazer de receber no nosso parque mais de 12 milhões de visitantes, portugueses e estrangeiros, no decorrer destes 30 anos.

No campo do desenvolvimento científico da região, assinámos um Convénio de Colaboração com a Universidade do Algarve ainda em 1990, que nos tem permitido uma troca de experiências e conhecimentos muito interessante, e se reflete no facto da grande maioria dos nossos colaboradores serem pessoas formadas na Universidade do Algarve. Sendo uma PME contribuímos decisivamente para o desenvolvimento económico e o emprego na região, com um quadro anual de 130 colaboradores fixos e que ultrapassa os 500 colaboradores diretos no pico do verão. Já investimos ao logo dos anos mais de 63 milhões de Euros neste projeto, e dessa forma garantimos que as nossas práticas como um zoológico moderno e progressista são amplamente reconhecidas e certificadas por entidades externas mundiais, como a American Humane.

 

VA - Que mensagem gostava de deixar aos futuros visitantes?

PL - Há um tempo foi dito que “apenas protegemos o que amamos, apenas amaremos o que compreendemos, e apenas compreendemos o que nos é ensinado”, esta frase é de Baba Diuom, um cientista africano, e resume muito bem os ensinamentos que queremos transmitir. Em todas as apresentações de animais e programas educativos, procuramos incutir a mensagem, umas vezes mais explícita, outra mais implícita, de que o futuro está nos mais pequenos gestos de cada um de nós, e passa pela necessidade de estarmos verdadeiramente conscientes de que é necessário e urgente proteger a natureza. Por isso, temos um envolvimento cada vez maior com a comunidade, de que são exemplos a Campanha Praia Limpa e a Operação Montanha Verde, onde com o alto patrocínio da Presidência da República, incentivamos o reflorestamento, e já plantámos no Algarve mais de 79.000 árvores. Tentamos acima de tudo, sensibilizar as crianças e adultos para a preservação da natureza e deste que é o nosso maravilhoso mundo, o dos nossos filhos e dos nossos netos.

 

Filipe Vilhena