À primeira vista somos tentados a pensar que o envelhecimento e a longevidade de todos nós, seres humanos, são a mesma coisa. Aparentemente sim, mas analisada esta questão rapidamente nos apercebemos de que, conquanto com alguns pontos de contacto, são situações bem diferentes, por vezes até opostas. Podemos até afirmar que enquanto o envelhecimento tem a ver com o passado … com o número de anos já vividos … a longevidade, pelo contrário, tem a ver com o futuro … com o número de anos que cada um de nós ainda espera viver! Todos temos a noção de que as gerações atuais vivem mais anos de que os nossos antepassados.
Mas, apesar disso, ficamos surpreendidos quando nos apercebemos da sua enorme diferença … enquanto para as pessoas nascidas em 1920 a esperança de vida era de 35 (!!) anos para os homens e de 40 (!!) para as mulheres, aquela mesma esperança de vida, hoje mais do que duplicou … a dos homens anda pelos 78 anos, e para as mulheres chega aos 83,5 anos! Face a esta nova e surpreendente realidade, começa a constituir uma preocupação verificar que apesar destas enormes alterações demográficas, muito pouco, ou mesmo nada, mudou na estrutura e na orgânica das nossas sociedades. Continuamos a organizar a sociedade em 3 etapas … educação/preparação para a vida ativa, trabalho e ocupação profissional até às 6 dezenas de anos e pouco de idade e na terceira e última etapa a reforma.
Tudo isto continua hoje a passar-se exatamente como há muitas décadas … no tempo dos nossos pais … que viviam pouco mais de metade dos anos que hoje se vive! Daqui resulta que depois da idade da reforma … que não obstante ter vindo a sofrer pequenos aumentos … uma boa parte da população ainda tem pela frente, sem qualquer papel ativo na sociedade, 3 décadas de vida … com a sensação do vazio, a espera da doença que inevitavelmente irá aparecer e também a discriminação e desvalorização social associada aos idosos … que em tempos foram apelidados de peste grisalha … a inevitável morte/desvalorização social. Este critério da idade foi criado em 1948!
Mas o tema da longevidade parece ainda não ter entrado na agenda política dos governos. Todavia, tudo aponta para que, de uma vez por todas, ser cada dia mais evidente a necessidade de se colocar a questão do que é que vamos fazer com os anos que nos restam. O aparecimento, um pouco por todo o mundo ocidental das chamadas Universidades da Terceira Idade é seguramente um reflexo deste vazio associado à longevidade! Antes de mais é aqui que deve entrar também o problema do envelhecimento … do envelhecimento saudável naturalmente!
Se esperamos viver mais anos, há que adotar estilos de vida saudável. É na promoção da saúde e na prevenção da doença que devem assentar os estilos de vida e as políticas dos governos … frequentemente abordadas nos discursos, mas raramente postas em prática! São muito numerosas e complexas as implicações que resultam desta profunda alteração demográfica, sobretudo nos países mais desenvolvidos, de que salientamos, a diminuição da população em idade ativa, o aumento da população reformada.
Prevê-se que, em meados deste século, 50% da população será economicamente inativa, com as inevitáveis consequências para o desenvolvimento e a produtividade e a falência do modelo do Estado Social, com a provável queda da solidariedade social que está na base da sustentação do sistema do fundo das pensões de reforma.
Outros problemas, como a baixa natalidade, fenómeno também crescente, poderá vir a contribuir para a descaracterização da estrutura populacional que poderá progressivamente ficar a constituir uma minoria étnica da população no seu próprio país, para alem de outras perturbações como turbulência social, política e religiosa, pondo em risco os valores fundamentais da Civilização Ocidental. Serão estes fenómenos irreversíveis? Ninguém saberá responder … realmente viemos cada vez mais anos … mas será que vamos ser mais felizes por isso?