André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Merecem especial realce, os dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 9 de agosto, por revelarem que em 2022, os produtos de alta tecnologia (PAT) representaram 5,2% das exportações totais de bens (+0,5 p.p. face ao ano anterior) e 10,4% das importações (-0,2 p.p.), significando o valor mais elevado desde 2013.

A este propósito, de acordo com o INE, releva-se, como principais PAT exportados em 2022, os Produtos eletrónicos – Telecomunicações, os Produtos farmacêuticos e as Máquinas elétricas, representando, no seu conjunto, mais de ¾ das exportações de PAT (76,3%, +3,1 p.p. face a 2021). Os Produtos eletrónicos - Telecomunicações representaram mais de metade das exportações de PAT em 2022 (57,8%; 48,9% em 2021), perfazendo 2 351 milhões de euros. As exportações destes produtos cresceram 60,8% (+888 milhões de euros) em relação ao ano anterior, sobretudo “dispositivos semicondutores” tendo como principal destino o mercado espanhol.

Os Produtos farmacêuticos e as Máquinas elétricas mantiveram-se como 2º e 3º principais PAT exportados, com pesos de 11,5% e 7,0%, respetivamente (-2,1 p.p. e -3,7 p.p., pela mesma ordem, face a 2021). As exportações de Produtos farmacêuticos aumentaram 14,7% (+60 milhões de euros), atingindo 467 milhões de euros em 2022. As exportações de Máquinas elétricas registaram o único decréscimo no conjunto das exportações de PAT, -10,6% face ao ano anterior (-34 milhões de euros, destacando-se as diminuições para França e Reino Unido).

Porque devemos então valorizar esta subida nas exportações de alta tecnologia, quando é sabido que, apesar disso, só representaram ainda 5,2% das exportações totais de bens em 2022?

É importante fazê-lo por quatro ordens de razão: (i) porque nos diz que a economia portuguesa apresenta dinâmicas significativas em setores que geram elevado valor acrescentado, com qualificações mais exigentes, maior sofisticação tecnológica e inovação; (ii) indica que é possível alterar positivamente  o nosso padrão de especialização internacional, com impacto significativo na criação de riqueza e nas exportações para mercados mais exigentes; (iii) o crescimento nos PAT também significa boas notícias para o mundo do trabalho, porque estes setores tendem a pagar salários significativamente mais elevados, e concomitantemente absorvem mão-de-obra mais especializada  e estimulam a investigação, desenvolvimento tecnológico e a inovação; (iv) e, permite reforçar a cadeia de valor e alargar a base exportadora da economia, bem como diversificar os mercados de exportação dentro da Europa e fora da Europa, e ainda atrair investimento direto estrangeiro (IDE), sobretudo de base tecnológica para nos facilitar o acesso a cadeias globais de valor. Os principais mercados de exportação de PAT são, em primeiro lugar, Espanha, que trocou de posição com a Alemanha e, em terceiro e quarto lugar, os EUA e França, que também trocaram de posição.

Em síntese, é fundamental que a economia portuguesa consiga progredir de forma sustentável nos PAT, porque ao fazê-lo pressupõe uma melhoria na produtividade e na competitividade, uma melhor especialização na economia internacional e, consequentemente, investir no conhecimento intensivo, nomeadamente na investigação, na tecnologia, na inovação, nas qualificações e competências, e naturalmente na transição digital e ecológica.