Ninguém fica indiferente à Festa da Espiga, um dos eventos de maior destaque da vila de Salir e do concelho de Loulé.

A primeira celebração aconteceu em 1968, pelas mãos do, na altura Presidente da Junta de Freguesia de Salir, José Viegas Gregório. O objetivo, era agregar toda a população numa única festa da freguesia e as celebrações acontecem sempre na quinta-feira da Ascensão (Dia da Espiga), 40 dias depois da Páscoa. 

Com o passar dos anos, este evento foi ganhando dimensão e os visitantes e participantes iam-se multiplicando ano após ano. Na década de 80, o feriado municipal de Loulé passou coincidir com o Dia da Espiga, decisão que se mantém até aos dias de hoje. Francisco André, Presidente da Junta de Freguesia de Salir, explica que este feriado veio «incrementar uma maior responsabilidade à Festa da Espiga e também mais visitas, uma vez que fez com que todos os louletanos pudessem vir na Quinta da Espiga à Vila de Salir».

Francisco André, explica que «a Festa da Espiga tem como pilar basilar o cortejo e o desfile etnográfico, onde os participantes desfilam na rua principal de Salir para os seus responsáveis políticos. Normalmente aí, em verso, faziam-se pedidos e agradecimentos para cada localidade, com alguma picardia política». São cerca de 16 a 18 carros a desfilar na Rua José Viegas Gregório, mas a promessa é chegar este ano aos 20.

Antes de falar da edição de 2022, é impossível não referir os dois anos de pandemia, onde, mesmo assim, a festa não parou. «Tivemos um formato online, que teve também bastante sucesso. Pensámos que não poderíamos parar a festa, então a Comissão Organizadora decidiu em 2020 decorar dois carros e percorremos toda a freguesia, respeitando sempre as regras das autoridades de saúde. As pessoas estavam nas suas casas, à janela, e vimos vários populares emocionados. Em 2021, tivemos 10 carros e mostramos, mais uma vez, que não deixamos de estar presentes».

Com a vontade ao rubro, chega este ano a nova edição, como nos velhos tempos. As pessoas voltam a sair às ruas e estão prometidas muitas surpresas para a Festa da Espiga. O evento realiza-se de 26 a 28 de maio. A Comissão Organizadora costuma juntar-se cerca de três meses antes do evento, mas este ano, ainda foi um pouco diferente. A pandemia e a incerteza sobre o levantamento das restrições, fizeram com que a organização se juntasse mais tarde, mas nem isso os impediu de preparar uma festa em grande.

A Comissão Organizadora conta agora com muita ajuda. O Presidente da Junta de Freguesia de Salir refere que «neste momento somos 20 pessoas». Em termos de funções, «existem os responsáveis pela comunicação e imagem, publicidade, logística, passeio pedestre, pela restauração, pelo desfile, pela Festa das Espiguinhas e pela Tarde Sénior. Temos as tarefas divididas e eu vou acompanhando tudo», realçou.

Os participantes prioritários são os comerciantes da freguesia e este ano existirão cerca de 40 bancas de artesanato, 8 stands de exposição, 4 tasquinhas e 10 bares.

 

Novidades de 2022

A Festa da Espiga é muito mais do que o desfile etnográfico. Dentro do grande evento, existe ainda espaço para a Festa das Espiguinhas. Este ano, a festa vai realizar-se no Complexo Desportivo de Salir, com muitas surpresas e uma nova equipa de gestão. «Vamos ter animação e diversão dos mais novos, aos mais velhos. Vamos ter Paintball, atividades na piscina e um minitorneio de futebol», frisou Francisco André. A Festa das Espiguinhas realiza-se no sábado, dia 28 de maio.

Especialmente para os mais graúdos, a Tarde Sénior será o momento de convívio entre os utentes de Centros Comunitários, não só da freguesia, mas das localidades vizinhas. Juntos, os utentes terão oportunidade de usufruir de um lanche e existirão ofertas relacionadas com a Festa da Espiga.

Uma das novidades este ano, é que o desfile etnográfico, para além de ser à quinta-feira, irá também ser feito sábado, dia 28, ao final do dia. O objetivo é proporcionar às pessoas que trabalham fora do concelho a possibilidade de ver o desfile. «Será mais curto, mas terá os carros a passar», conta o presidente da vila algarvia.

Na parte dos concertos, sabe-se da existência de pequenos palcos, para que a animação aconteça em vários sítios. «Temos ainda a vontade de voltar a ter o momento onde o Presidente da Junta ia receber as entidades à entrada de Salir, então este ano, vamos recriar isso».

A preocupação ambiental será também uma das preocupações da Festa da Espiga deste ano. Francisco André explica que «pela primeira vez, existirá um copo da Espiga, biodegradável, de modo a eliminar o plástico do evento». E como o sol do Algarve não perdoa, todos poderão adquirir chapéus da Festa da Espiga, pela primeira vez.

De modo a instigar os mais novos a conhecerem a festa, será realizada a Espiga Pedagógica, «em que vamos às escolas de Salir explicar o que é a Festa da Espiga. Para o ano queremos abranger grande parte do concelho com estas ações», revelou o autarca.

 

Cartaz destaca Quim Barreiros, HMB e Íris

«Foi um cartaz que demorou algum tempo a fazer, face aos dias que vivemos e ao número de festas que há», esclarece prontamente o responsável pela autarquia. «Tivemos de ajustar a qualidade com a parte orçamental e chegar a um equilíbrio para agradar a vários públicos – dos mais velhos aos mais novos», acrescenta.

O objetivo era criar um cartaz abrangente para as várias faixas etárias. No dia 26, o destaque vai para Quim Barreiros. Antes, Gonçalo Tardão, jovem acordeonista e vocalista, vai animar o público com um baile. Francisco André recorda o percurso do «filho da terra», que em 2010 animou a festa e hoje, formado em medicina, recebe o reconhecimento de atuar no palco principal. «É um prémio merecido para ele», enfatiza o autarca.

No dia 27 de maio, a noite de concertos será dos HMB, seguidos dos MGDRV. O Dj Rodriguez anima o final da noite. Por fim, mas não menos importante, chegam os Íris no dia 28. Depois, De Moda em Moda sobe ao palco, numa noite que termina com o DJ Rodriguez.

Das «7 Maravilhas da Cultura Popular» para o mundo

A Festa da Espiga foi, em 2020, finalista das «7 Maravilhas da Cultura Popular». Se é verdade que não venceu, é também verdade que foi das «únicas candidaturas onde por trás estava uma Junta de Freguesia». Francisco André explica que «as outras candidaturas pertenciam a localidades maiores».

Apesar da chegada à final, não houve «grande retorno, porque estávamos ainda na altura da pandemia, mas sempre que falo com alguém, a pessoa reconhece a candidatura às ‘7 Maravilhas da Cultura Popular’». Mesmo assim, esta participação, acabou por levar a festa à casa de milhares de portugueses que assistiam ao formato da RTP1.

«Quem costuma frequentar a festa, pretende sempre voltar, notamos isso com as inscrições ano após anos», afirma o Presidente da Junta de Freguesia de Salir. Para o autarca, o caminho da Festa da Espiga será apostar no público estrangeiro e levar a celebração além-fronteiras. Ainda assim, Francisco André realça que «em primeiro lugar, queremos manter o rigor que se tem conseguido, assim como a essência da Festa da Espiga. Queremos um bom desfile etnográfico, muitos carros a participar e as pessoas vestidas a rigor. Depois, claro, queremos apostar no público estrangeiro e no desfile ao sábado, de modo a atrair ainda mais pessoas».

Mas se os objetivos são altos e passam pela «internacionalização» do evento, o resto do Algarve não é esquecido. «Outro público-alvo para nós é tentar promover a festa noutros Municípios em que é feriado e deslocar a população até cá», conclui o autarca.

Francisco André e a ligação à Festa da Espiga

Desde 2004, ao lado do Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão, que Francisco André participa na Festa da Espiga. É quase impossível dissociar o atual Presidente da Junta de Freguesia do evento.

«Desde então, participei sempre na festa. Entrei depois em 2010 na organização da festa através do convite do Deodato João e sou o apresentador», disse ao nosso jornal. Atualmente à frente da Junta de Freguesia, Francisco André afirma ser «o mesmo de sempre» e, por isso, será novamente o apresentador desde ano – novidade que nos contou com um certo brilho nos olhos.

Se anteriormente já estava envolvido no evento, como autarca, tem ainda um papel maior na organização da Festa de Salir. Francisco André tem a seu lado uma equipa que muito enaltece, mas há um homem, que todos em Salir conhecem, que tem uma ligação especial à Festa da Espiga e que colabora com a Comissão de Festas.

O Nogueira

Manuel Nogueira Martins é o nome do homem que todos conhecem como «Nogueira». Nasceu no ano em que a Festa da Espiga também nasceu e, desde cedo, começou a participar no evento.

«Desde os meus 9 anos que me recordo da festa e do que ela representa», refere emocionado.

«É com muito orgulho que integro também a Comissão de Festas desde 2010, a convite do Francisco André», acrescentou. O trabalho só se faz com uma boa equipa e também o «Nogueira» gaba muito quem faz a Festa da Espiga acontecer.

Depois de várias edições, há uma coisa que não esquece: quem já partiu. Saudoso, Manuel Nogueira Martins recorda quem já fez parte da festa, sublinhando o trabalho que tiveram para manter a tradição. «Atualmente, os jovens começam a aderir ao evento e ainda bem, porque vivemos da memória e ela precisa de ser conservada», escreve.

Francisco André deixa o convite e apela a que todos «venham até Salir, à grande Festa da Espiga, porque temos muita animação, um cartaz recheado e muitas surpresas. A festa tem entrada livre e são três dias!».

Convite feito, resta dizer: Viva a espiga!