Jean Carlos Vieira Santos | svcjean@yahoo.com.br
Com o intuito de promover a língua e a cultura de Portugal pelos diversos continentes, a 14.ª edição do Festival do Fado decorreu em novembro de 2024, especificamente em Brasília, capital do Brasil. Este evento dedicado ao género artístico combinou música e poesia, chegando, pela primeira vez, com brilho ao Cerrado brasileiro, um bioma situado no centro do país e dominado por atividades de caráter economicista, baseadas no modelo agroexportador, cujas áreas restringem as espécies nativas do território.
 
Nesta região, a palavra “fado” tornou-se marcante desde o século XX, especialmente através das obras das poetisas Cora Coralina, pseudónimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, e Leodegária Brazília de Jesus. Estes escritos exploram palavras em sentidos diversos, nos quais a conotação de tristeza ou de fingimento alegre promove um encontro entre o lugar, a arte, a poesia e a vida sem fronteiras, onde todas as situações se traduzem em sentimentos. Assim, esta terminologia assume-se como uma poética profunda, carregada de emoções vividas na região. As poesias de Cora e Leodegária refletem um percurso pelo fado, ao revelarem os lamentos, as dores e a vida angustiada de quem sente saudades.
 
Este texto procurou, portanto, conectar os grandes nomes da poesia de um Brasil profundo à 14.ª edição do Festival do Fado, a partir do Distrito Federal. Aqui, escritas contemporâneas e internacionais permitiram-nos reunir palavras para expressar a interface entre a poesia do Cerrado e a música considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade. Este cruzamento de sentidos convergentes é um convite a visitar a metrópole do Cerrado, que acolhe o maior número de eventos e concertos sobre o fado, recebendo de braços abertos as marcas de Portugal para proporcionar experiências na música, gastronomia, poesia, teatro e cinema aos residentes e turistas.
Noutras palavras, a capital brasileira reinventa-se a cada instante, fazendo da cultura portuguesa um dos seus grandes temas.