«Liberdade, quem a tem chama-lhe sua» é palavra de ordem
  • Festival Terras sem Sombra apresenta a sua 20.ª temporada sob o título «’Liberdade, quem a tem chama-lhe sua’: Autonomia, Emancipação e Independência na Música (Séculos XII/XXI)”
  • Concelho de Mértola acolhe primeiro concerto da temporada com The Nightingales, vozes femininas das Filipinas, acompanhadas ao piano por Nuno Margarido Lopes
  • Património e Biodiversidade dão a conhecer as Minas de São Domingos e o Centro Experimental de Erosão do Solo, em Vale Formoso
  • Temporada decorre até Novembro do presente ano em dez concelhos alentejanos. Programam-se ainda dois concertos-surpresa noutras localidades da região.

De Maio a Novembro de 2024, regressa aos palcos alentejanos o Festival Terras sem Sombra (TSS), desta feita na sua 20.ª temporada, data simbólica que assinala a continuidade (e a resiliência) de um projeto com provas dadas, cujo percurso artístico o tem colocado entre os projetos territoriais de maior interesse à escala europeia, como foi reconhecido, recentemente, pela crítica da especialidade.

O concelho raiano do Mértola – toda uma referência patrimonial, mas também artística e científica –, faz as honras de abertura, a 25 e 26 de Maio, de um ciclo de atividades que, no presente ano, se subordina ao tema «’Liberdade, quem a tem chama-lhe sua’: Autonomia, Emancipação e Independência na Música (Séculos XII/XXI)».

Tema inspirado numa canção popular portuguesa que serve, a dois tempos, de memória dos 50 anos de Abril, agora comemorados pelo Terras sem Sombra, e que também faz da expressão liberdade uma afirmação da natureza intrínseca ao Festival. «O facto de o Alentejo ter sido – e continuar a ser – uma região aberta ao mundo inspirou-nos a mostrar as pontes que existem entre a música europeia e as correntes artísticas, de feição erudita (e não só), que, noutras zonas do globo, se apropriaram dessa tradição e a desenvolveram de acordo com os seus contextos culturais próprios. Há mais mundo do que o podemos imaginar à primeira vista», detalha José António Falcão, diretor-geral do TSS.

Mundo que na presente temporada do TSS se expressa numa forte presença italiana, com a nação transalpina, expoente europeu da grande música, como país convidado. Uma vertente internacional do TSS que também encontra os contributos de outros horizontes artísticos, das Filipinas à Áustria, da República Checa à Bélgica, da Sérvia à Espanha, sem nunca esquecer o Brasil. Até Novembro deste ano, mais de 30 atividades relacionadas com a Música, o Património e a Biodiversidade, encontram palco nos concelhos de Mértola, Ferreira do Alentejo, Coruche, Castelo de Vide, Vidigueira, Odemira, Sines, Montemor-o-Novo e Beja. Agendados estão, igualmente, dois concertos-surpresa a anunciar oportunamente.

O regresso de uma temporada musical, patrimonial e ambiental ao convívio com os seus públicos assíduos, no presente ano, é uma vez mais, digna de especial nota, por obrigar a um esforço acrescido, de parte da organização e dos parceiros do Festival, em programar as atividades em lugares-chaves do território alentejano, alguns deles nada óbvios.

De acordo com José António Falcão, «a nossa grande preocupação é a de que o Alentejo proporcione, a quem aqui vive e a quem nos visita, uma temporada musical qualificada, algo que não existia antes do Terras sem Sombra e que não é líquido que possa existir se este festival desaparecer. A cultura é o que nos afirma, é o que nos permite ser nós próprios e nos torna interessantes aos olhos dos outros». 

«O Festival Terras sem Sombra revela um Portugal diferente, autêntico. Não nos interessam grandes operações mediáticas, nem multidões que varrem as cidades e vilas durante umas horas e depois deixam o vazio: acreditamos numa presença regular, capaz de envolver as comunidades locais e de infra-estruturar a região para a tornar mais sustentável», acrescenta Sara Fonseca, diretora executiva do Terras sem Sombra.

«É lamentável que em certos concelhos não se hesite em atirar ao vento sessenta ou setenta mil euros, quando não mais, para um concerto de música comercial, igual ao que se faz em qualquer outro sítio, e depois não se disponibilize um décimo desse valor para escutar Beethoven ou Lopes-Graça com a participação de intérpretes qualificados», sublinha ainda Sara Fonseca.

Um fim-de-semana entre dois continentes

Quanto ao fim-de-semana de abertura da temporada, o destaque na componente musical vai para a presença das notáveis sopranos filipinas The Nightingales, acompanhadas ao piano pelo maestro português Nuno Margarido Lopes. A noite de 25 de Maio (21:30) leva à igreja de Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas, a matriz de Mértola, que já foi mesquita, o concerto Para Além das Nuvens: Vozes das Filipinas, oportunidade para acompanhar um arrojado alinhamento de temas, com obras de Agustin Lara, Robert Delgado, Ryan Cayabyab, entre outros, a par de peças de autores portugueses.

Sobre a presença do duo asiático em Mértola composto por Bianca Lopez e Bernadette Mamaug, destaca José António Falcão: «As Filipinas representam, hoje, uma extraordinária constelação musical, com criadores e intérpretes de altíssimo nível, que ganham protagonismo nos palcos globais. The Nightingales constituem um exemplo muito interessante desse sopro de ar fresco que é ainda pouco conhecido na Europa, mas tem despertado grande entusiasmo nos Estados Unidos, no Japão e noutros países bastante atentos aos novos rumos da música».

Nascido em 1975, em Vila Franca de Xira, Nuno Lopes – um virtuoso do Piano – estudou no Instituto Gregoriano de Lisboa e completou a formação na Escola Russa de Arcos do Estoril. Iniciou em 1997 a sua colaboração com o Teatro Nacional de São Carlos, onde exerce atualmente as funções de pianista da Orquestra Sinfónica Portuguesa, maestro correpetidor e assistente do maestro João Paulo Santos. É hoje diretor artístico e musical do Ensemble São Bernardo.

O fim-de-semana em Mértola completa-se com uma visita ao Património, na tarde de 25 de Maio (15:00), sob o tema De Complexo Mineiro a Património Cultural: A Mina de S. Domingos, oportunidade para (re)visitar um marco económico e social daquele território, sob a orientação do geólogo João Matos, cientista do Laboratório Nacional de Geologia e Energia. A fechar o programa, a manhã de 26 de Maio (9:30), está reservada ao momento de Biodiversidade, sob o título Por Terras de Vale Formoso: O Solo, Marco de Herança e Obra de Esperança, que terá como guia a geógrafa Maria José Roxo, professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, também responsável pelo Centro Experimental de Erosão de Solos (herdade de Vale Formoso).  

A 20.ª temporada do Festival Terras sem Sombra prossegue a 22 e 23 de Junho em Ferreira do Alentejo, seguindo-se a 29 e 30 de Junho o concelho de Coruche.

 

Festival Terras sem Sombra