Freitas do Amaral faz estas afirmações na biografia que escreveu do monarca, “D. Afonso III, o bolonhês. Um grande homem de Estado”, obra que é apresentada na quarta-feira, em Lisboa, no espaço cultural do El Corte Inglés.
“Espero que essa injustiça possa começar a ser reparada com este livro”, declara o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, numa nota de abertura do livro, na qual afirma que o bisneto de D. Afonso Henriques é “atacado sem razão” por vários autores.
Freitas do Amaral adverte todavia que este não é uma "obra de investigação, mas de reflexão e divulgação".
"Não tem autoria de historiador, mas de cidadão. Não tem aspirações científicas, mas cívicas", sublinha.
O rei D. Afonso III conquistou definitivamente o Algarve, transferiu a capital do país de Coimbra para Lisboa, e foi durante o seu reinado que, pela primeira vez, representantes do povo participaram nas cortes, realizadas em Leiria, em 1254.
D. Afonso foi nomeado pelo papa, em 1245, “defensor e governador do reino” de Portugal, estando D. Sancho II, seu irmão no trono, que, entretanto, em 1247, se exilou em Toledo, em Espanha.
O "Bolonhês" assumiu a chefia do país “em completa anarquia” perante a apatia de D. Sancho II, que depois de conquistas e anos de governo se encerrara no paço. Os últimos cinco anos do reinado de D. Sancho II foram marcados pelo “desinteresse pela guerra, obsessão sexual [por D. Mécia de Haro, com quem casara] e por uma grave anomalia psíquica, geradora de apatia na governação e de esbanjamento dos bens da coroa”.
À frente dos destinos de Portugal o soberano teve, “como principais problemas a resolver”, a pacificação da sociedade portuguesa, a conquista definitiva do Algarve, e o reforço "dos direitos da Coroa e do ‘povo miúdo’, contendo e limitando os abusos do clero e da nobreza”, afirma Freitas do Amaral.
Segundo o autor, “um rei de Portugal tão bem preparado para o ser, [como D. Afonso III], nunca houve outro -, e ainda por cima sem o stress próprio dos herdeiros do trono”.
D. Afonso foi o terceiro filho de D. Afonso II e D. Urraca, logo, segundo as normas da monarquia, não seria um herdeiro direto, antecedia-lhe D. Sancho, e D. Leonor, que foi rainha da Dinamarca.
Quanto à preparação do infante português, Freitas do Amaral refere a sua larga experiência na corte da Dinamarca, onde acompanhou a irmã, e na de Paris, onde viveu sob a tutela da tia, a rainha regente de França, D. Branca de Castela, e, mais tarde, ao lado do primo, o rei Luís IX.
D. Afonso viveu 16 anos em França onde estabeleceu “amizades, bons contactos, relações com os grandes deste mundo” e adquiriu “uma visão direta do Estado e do poder”. Foi também em França que o infante português adquiriu experiência militar, tendo combatido ao lado do rei seu primo-direito, contra o conde de La Marche, que se aliara ao rei de Inglaterra, nomeadamente na batalha de Saintes, onde os seus feitos e bravura foram exaltados pelos cronistas da época.
D. Afonso III tomou o cognome d’”O Bolonhês” por se ter casado com Matilde, condessa de Bolonha, região no nordeste de França. Já rei de Portugal, e depois de se ter separado de Matilde, D. Afonso III casou, em 1258, com D. Beatriz de Castela.
A obra “D. Afonso III, o bolonhês”, editada pela Bertrand, é apresenta na quarta-feira, às 18:30, pelo catedrático de História da Universidade de Lovaina Fernando Larcher.
Diogo Freitas do Amaral é autor de extensa bibliografia jurídica e, entre outros escritos, refira-se da peça "O magnífico reitor", levada à cena em março de 2001, de uma biografia de Viriato e outra de D. Afonso Henriques, que, como informa a nota de abertura de “D. Afonso III, o bolonhês", teve 18 edições e vendeu cerca de 80 mil exemplares.
Por: Lusa