André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Espera-se que 2023 seja um ano de esperança, sendo certo que também a esperança se constrói com trabalho e inteligência. Nesta construção importa, desde logo perspetivar as incertezas, os riscos e os desafios que a nível internacional e nacional se colocam e que são possíveis antecipar, assim como os seus eventuais impactos.

As perspetivas para a economia internacional sinalizam algumas nuvens cinzentas no horizonte. A atentar nas últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), cerca de metade da UE estará em recessão em 2023, além de que as três grandes economias – EUA, UE e China – estão a desacelerar em simultâneo, apesar da economia dos Estados Unidos estar a mostrar maior resiliência e com dados positivos no mercado do trabalho. Perante este quadro global, em que as principais locomotivas fraquejam, a economia mundial deverá desacelerar para 2,7% em 2023, abaixo dos 3,2% do ano anterior, podendo ainda esse crescimento ser inferior. Acresce ainda que o FMI prevê que um terço da economia mundial vai estar em recessão este ano.

Por sua vez, a inflação mundial, que como é sabido penaliza os consumidores e o investimento, nomeadamente por implicar um crescimento do custo do capital, deverá descer para 6,5% em 2023, depois dos 8,8% de 2022, de acordo com as projeções do FMI, datadas de outubro. Assim, com a inflação em níveis bastante elevados, as taxas de juro de referência, nomeadamente do Banco Central Europeu (BCE), poderão ainda voltar a subir, mesmo que as intensidades das subidas possam ser menores do que as anteriores.

No que se refere a Portugal, cujo crescimento da sua economia depende muito do comportamento dos seus principais parceiros, este quadro deixa antever algumas dificuldades, desde logo para as exportações portuguesas, em razão de alguma quebra na procura externa, tendo em conta que os quadro maiores mercados (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), todos eles estarão em desaceleração. É verdade que a economia portuguesa revelou um bom desempenho em 2022, com um crescimento da ordem dos 6,5%, dos maiores no contexto da UE. Sucede que, para 2023, pelas razões aduzidas, o crescimento deverá situar-se em torno de 1%. É certo, que Portugal tem alguns instrumentos poderosos que sendo utilizados de forma inteligente poderão minimizar algumas das dificuldades sinalizadas, nomeadamente o PRR-Programa de Recuperação e Resiliência, que poderá constituir uma importante alavanca para o investimento público e privado.

Naturalmente que em 2023 continuaremos a sofrer os impactos da invasão da Ucrânia pela Federação Russa, que tem sido e continuará a ser, um importante acelerador dos custos da energia, para além obviamente do irracional e dos custos em vidas humanas da guerra.

Finalmente, impõe-se que o governo faça o seu trabalho, reganhando a iniciativa política e estratégica, para que possa beneficiar da grande vantagem comparativa que possui no contexto europeu, uma maioria absoluta na Assembleia da República, que lhe permite tomar as medidas que em muitos domínios e sectores da governação urgem ser tomadas.